CUIDADOS PALIATIVOS E TRATAMENTO ONCOLÓGICO INFANTOJUVENIL: uma necessidade especial que precisamos falar

 

O câncer é uma doença complexa e desafiadora que pode ser manifestada de diversas maneiras e em localidades diferentes no organismo, tem como causa o crescimento celular desordenado, promovendo o aumento rápido do número de células cancerígenas de modo a facilitar a difusão dessas células em outras estruturas além da inicial. Nesse sentido, o câncer infantojuvenil pode ser definido como uma enfermidade crônica rara, pois representa 2 a 3% dos casos cancerígenos registrados. É também um problema de saúde pública, visto que os índices de mortalidade entre crianças e adolescentes de 0 a 19 anos com diagnóstico da doença são altos (SANTOS et al., 2023).

Fonte: Google Imagens

A Organização Mundial da Saúde (OMS) promove ações que buscam prevenir, detectar o câncer precocemente e garantir acesso ao tratamento. O diagnóstico precoce faz com que o paciente possua maiores chances de cura. De acordo com o modelo de ações proposto pela OMS, a rápida descoberta pode ocorrer por meio de exames cotidianos que consigam rastrear a presença de câncer pré-clínico ou lesões pré-cancerígenas, como também o reconhecimento dos sintomas ou sinais da doença (INCA, 2021).

O câncer infantil costuma ter diagnóstico tardio por muitos dos sintomas não serem evidentes em relação à presença da doença, por vezes o profissional de saúde direciona o tratamento a outras enfermidades de forma equivocada. A partir do conhecimento da doença, o paciente e sua família podem desenvolver sentimentos como: a sensação de medo, angústia e ansiedade pelo histórico de mortalidade dos pacientes no curso do tratamento. (ARAÚJO; JOSÉ; SILVA, 2021).

No que tange a infância, o diagnóstico de câncer gera uma grande mudança na rotina podendo afetar o desenvolvimento da criança. É importante destacar que é na infância que o indivíduo passa por consideráveis transições no desenvolvimento biopsicossocial para a construção do sujeito, desse modo o tratamento para o câncer pode influenciar negativamente no seu desenvolvimento, principalmente na saúde mental, pois essas crianças passam por longos períodos de hospitalização, exames, procedimentos invasivos por muitas vezes dolorosos, gerando medos, angústias e traumas. Com isso, são necessárias intervenções para um melhor entendimento da patologia, adaptação ao tratamento e apoio emocional para as crianças (SILVA et al., 2023; NASCIMENTO et al., 2023).

No entanto, mesmo com o avanço das tecnologias terapêuticas para o câncer, alguns indivíduos não conseguem responder aos tratamentos, limitando os recursos terapêuticos para a cura. Portanto, entra a necessidade de trabalhar os cuidados paliativos, que são atividades nas quais o objetivo principal é atender às demandas do paciente no momento, promovendo uma melhor qualidade de vida por meio do auxílio ao tratamento e apoio emocional (SILVA et al., 2023).

A OMS define a prática de cuidados paliativos no tratamento oncológico infantil como “uma especialidade em si, consistem no cuidado total ativo do corpo, da mente e do espirito da criança e o apoio a família”; sendo necessária uma avaliação do estado do paciente para identificar a melhor forma de ação do cuidado (SILVA e SOUSA; SILVA; PAIVA, 2019).

Embora os cuidados paliativos estejam muito associados às doenças terminais, que é errôneo o uso desses termos como semelhantes, recomenda-se que os cuidados paliativos sejam incorporados tão logo no diagnóstico inicial de uma doença grave não só quando a doença se encontra em estágio avançado. Nesse sentido, ressalta-se a necessidade intensificada dos cuidados aos pacientes paliativos para que eles se sintam seguros e consigam expressar seus sentimentos ou o cuidador consiga compreender o estado do paciente (INCA, 2022; NASCIMENTO et al., 2023).

Diante do diagnóstico de câncer, os cuidados paliativos devem ser aplicados de forma totalitária a vida do paciente, seja em casos terminais ou tratamentos curativos, respeitando o modo como a doença evolui e o sofrimento do paciente e dos membros da família que acompanham o tratamento. Não há local específico para realização desses cuidados, podendo ocorrer em domicilio, ambiente hospitalar, ambulatório, instituição de longa permanência ou hospice, instituição destinada a pacientes que recebem cuidados paliativos (INCA, 2022).

A partir do entendimento sobre a importância e necessidade dos cuidados paliativos, o Ministério da Saúde (MS) lançou a Política Nacional de Cuidados Paliativos no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), seguindo princípios organizativos da Política Nacional de Atenção Especializada (PNAES). Essa ação do MS visa incluir os cuidados paliativos à Rede de Atenção à Saúde, com o objetivo de promover melhor qualidade de vida ao paciente através da prática de assistência segura e humanizada; amplificar o acesso a medicamentos que auxiliem na regulação dos sintomas do paciente; incentivar a formação, educação continuada, valorização e gestão de cuidados paliativos integradas ao SUS; e proporcionar a conscientização e educação sobre esse tipo de cuidado na sociedade (BRASIL, 2024).

A humanização é uma característica importante no tratamento paliativo, pois possibilita a utilização da comunicação como forma de compreender os limites e conflitos do paciente, como também aplicar o cuidado técnico de forma interligada ao cuidado emocional. Além da comunicação, há outras intervenções que atuam na construção da principal característica acerca dos cuidados paliativos, a integralidade. A incorporação de massagem, música, exercícios físicos, contação de histórias, folders informativos, brinquedos terapêuticos e consultas periódicas ao tratamento ajudam a controlar sintomas como dor, ansiedade e fadiga, pois proporcionam a criança uma melhor qualidade de vida e a sensação de alivio da dor e ansiedade, como também segurança para expressar suas emoções. Com isso, é possível concluir que os cuidados paliativos são essenciais para que seja controlado o impacto da doença na vida da criança que vive com câncer (SILVA e SOUSA; SILVA; PAIVA, 2019).

Desse modo, ressalta-se as Tecnologias Cuidativo-Educacionais (TCEs) como uma ferramenta fundamental nesse contexto, visto que auxiliam os profissionais de saúde a integração da promoção a saúde aos cuidados dos indivíduos através do cuidar-ensinar. Oferecer informações claras as crianças e familiares é primordial para reduzir as dúvidas, inseguranças, incertezas ou outros sentimentos negativos que possam surgir. A inclusão das TCEs no tratamento paliativo pode promover a elevação do entendimento do assunto, disseminação das informações, troca de conhecimentos, a confiabilidade e conscientização, bem como envolver todos aos cuidados especializados e direcionados aos pacientes oncológicos utilizando os instrumentos e materiais adequados, abordando assuntos a exemplo: conceito de cuidados paliativos, sintomas, cuidados necessários, luto e fim da vida, tratamento, entre outros (TRES et al., 2022; BITTENCOURT et al. 2022; NASCIMENTO et al; 2023). 

A assistência ao tratamento oncológico infantil com base nos cuidados paliativos precisa ser realizada de forma individual e integrada, com foco na criança, mantendo comunicação com a família (SILVA e SOUSA; SILVA; PAIVA, 2019). A equipe multiprofissional possui muitas questões desafiadoras, pois a implementação dos cuidados paliativos como atividades do SUS ainda estão em um processo de construção, porém, é importante que seja entendido o principal objetivo desses cuidados em específico. Se faz necessário que os profissionais trabalhem sentimentos e outras questões psicológicas para que consigam atender, compreender e respeitar as necessidades dos pacientes, de modo que eles também atuem no tratamento e mantenham um bom vínculo entre paciente-família-profissional de saúde (MONTEIRO et al., 2020). 


Eixo temático: Tecnologias cuidativo-educacionais.


REFERÊNCIAS: 

ARAÚJO, Ana Carolina das Neves de Oliveira; JOSÉ, Sabrina Ayd Pereira; SILVA, Thiago Privado da; SILVA, Glaucia Cristina Lima da; NAZARETH, Isis Vanessa.  The quality of life of children during chemotherapy treatment: an integrative review. Research, Society and Development, v. 10, n. 11, e547101119946, 2021. Disponível em: < https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/19946 >.


BITTENCOURT MN, FREITAS BHB, MARCON SR, OLIVEIRA AF, LANDIM VM, JUNIOR DFS. A experiência de se elaborar uma tecnologia cuidativo-educacional àluz da Teoria das Transições. Rev. Enferm. UFSM, v.12, e29, p.1-12, 2022. DOI: https://doi.org/10.5902/2179769266551.


BRASIL. Ministério da Saúde lança política inédita no SUS para cuidados paliativos. Ministério da Saúde, 2024. Disponível em: < https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2024/maio/ministerio-da-saude-lanca-politica-inedita-no-sus-para-cuidados-paliativos#:~:text=Minist%C3%A9rio%20da%20Sa%C3%BAde%20lan%C3%A7a%20pol%C3%ADtica%20in%C3%A9dita%20no%20SUS%20para%20cuidados%20paliativos,-Nova%20estrat%C3%A9gia%20vai&text=No%20Brasil%2C%20cerca%20de%20625,graves%2C%20cr%C3%B4nicas%20ou%20em%20finitude. >. 


INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (Brasil). A avaliação do paciente em cuidados paliativos. Rio de Janeiro: INCA, 2022. (Cuidados paliativos na prática clínica, v. 1). Disponível em: < https://ninho.inca.gov.br/jspui/bitstream/123456789/11605/1/A%20avalia%c3%a7%c3%a3o%20do%20paciente%20em%20cuidados%20paliativos%20-%20cuidados%20paliativos%20na%20pr%c3%a1tica%20cl%c3%adnica%20-%20v.%201%20-%202022.pdf  >.


INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (Brasil). Detecção precoce do câncer / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro: INCA, 2021. Disponível em: < https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/deteccao-precoce-do-cancer.pdf >.


MONTEIRO, Luciana Alves Silveira; OLIVEIRA, Camila Correia; AGUIAR, Marília; ARAÚJO, Claudirene Milagres; CORREIO, Raimundo Monteiro. Assistência à saúde em pediatria: uma revisão integrativa sobre os cuidados paliativos. Rev. Adm. Saúde (On-line), São Paulo, v. 20, n. 81: e261, out. – dez. 2020, Epub 24 dez. 2020. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.23973/ras.81.261 >.


NASCIMENTO NG, PAES LV, SOUSA IFR, TEIXEIRA E, FERREIRA DS, LIMA FC, GARCEZ JCD, UENO TMRL. Validação de tecnologia educacional para familiares/cuidadores de pacientes oncológicos elegíveis aos cuidados paliativos no domicílio. REME - Rev Min Enferm.v. 27:e-1496, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.35699/2316-9389.2023.40756 .


SANTOS, Beatriz Cardoso dos; SILVA, Elenice Fonseca de Oliveira; BORGES, Érika Priscila Alves; JÚNIOR, Valdeci Severino; PASSOS, Marco Aurélio Ninomia.  Diagnóstico precoce do câncer infanto juvenil: a importância da conscientização e a atuação da enfermagem. Revista JRG de Estudos Acadêmicos, Ano 6, Vol. VI, n.13, jul.-dez., 2023. Disponível em: < https://revistajrg.com/index.php/jrg/article/view/561 >.


SILVA E SOUSA, Amanda Danielle Resende; SILVA, Liliane Faria da; PAIVA, Eny Dórea. Nursing interventions in palliative care in Pediatric Oncology: an integrative review. Rev Bras Enferm. 2019;72(2):531-40. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/reben/a/D5KyQJQRxHKrXTJgkZSsHfQ >.


SILVA, T.B.M.; SOUSA, I.F.R.; LIMA, F.C.; GARCEZ, J.C.D.; TEIXEIRA, E.; MONTEIRO,  W.F.; FERREIRA,  D.S.; UENO,  T.M.R.L. Tecnologia  educacional  para pacientes oncológicos em cuidados paliativos domiciliares na condição oncológica: validação baseada em   evidências. Revista   Saber   Digital, v.   16, n.1, e20231608, jan./abril, 2023. Disponível em: <https://revistas.faa.edu.br/SaberDigital/article/view/1401/900>

 

TRES, D. A.; CIPOLATO, F. de A.; CASTRO, E. da S.; UBERTI, C.; MARTINI, R. G.; TOSO, B. R. G. de O.; ZANATTA, E. A. Care-educational technologies to home care of children that tracheostomy: integrative review. Research, Society and Development, [S. l.], v. 11, n. 2, p. e2811225210, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i2.25210. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/25210. Acesso em: 7 sep. 2024.

 


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