Violência contra o idoso em contexto de pandemia
No âmbito da pandemia do novo coronavírus, fazendo-se necessário o isolamento social, muitas famílias acabam tendo que viver períodos prolongados confinados em casa, para prevenir ou diminuir a taxa de transmissão da COVID-19, recomendada pelo OMS e adotada pela maioria dos países que declararam emergência de saúde pública. Entretanto, essa medida impactou de forma negativa para algumas famílias, pois se tornou um fator de aumento à violência doméstica, principalmente contra os idosos, já que os mesmos são mais suscetíveis a violações de direitos fundamentais (OMS, 2020).
No
Brasil, estima-se que as denúncias tenham crescido em até 50%, em comparação
com o período anterior a pandemia, um aumento considerável e preocupante.
Dentre essas denúncias, estão presentes violência física, psicológica e
sexuais, estando fortemente presentes em famílias mais pobres devido a
desigualdade social (CAMPBELL, 2020).
Somando-se
a isso, as deteriorações cognitivas e da memória também são fatores que podem
desencadear os maus tratos, uma vez que o idoso pode ser dependente de forma
total ou parcial. A Doença de Alzheimer, por exemplo, cresce de maneira
progressiva, obrigando os familiares e/ou cuidadores mudarem sua rotina de vida
para darem maior atenção ao idoso. Em decorrência disso pode haver desgaste
físico e emocional que leve a prática de maus tratos (CARVALHO, 2020).
A
violência doméstica contra o idoso costuma ser sofrida de forma silenciosa
devido à diversos fatores, como a dependência, o afeto, e a proximidade com o
agressor, sobretudo porque grande parte das denúncias de violência são
atribuídas aos familiares próximos, geralmente seus próprios cuidadores (LINO
et al, 2019). A partir disso, o isolamento social pode agravar o risco de
violência contra o idoso de diferentes formas, como:
•
Agravando o abandono afetivo com o distanciamento social;
• As
medidas de isolamento e quarentena diminuem a possibilidade da identificação
desta violência uma vez que o idoso passa a receber menos ou nenhuma visita;
•
Quando existe histórico de violência na família (por ex.: o cuidador ter sido
vítima de violência por parte do idoso), há mais chances de uma recorrência;
•
Cansaço e estresse dos familiares, esgotamento por causa do trabalho excessivo,
problemas financeiros e sobrecarga emocional (diante de dependência total ou
parcial do idoso) podem ser associados à omissão de cuidados, violência
psicológica, abuso financeiro e violência física.
Diante
situações de violência, como os gestores e serviços de proteção e cuidado a
idosos podem atuar?
- Políticas
públicas de proteção devem implementar estratégias de acompanhamento de idosos
em vulnerabilidade social e aprimorar a proteção a idosos já acompanhados por
negligência e abandono;
-
Profissionais podem estimular o idoso a acessar sua rede socioafetiva. Incentivando-os
a procurar apoio e suporte social de pessoas, associações e comunidades para
ampliar sua rede social, isso pode ajudar na promoção do bem-estar emocional,
físico e social, além de ser fonte de suporte em casos suspeitos ou confirmados
de violência;
-
Pessoas idosas com leve comprometimento cognitivo ou em estágios iniciais de
demência precisam ser informadas do que está acontecendo na medida de sua
capacidade de entendimento e precisam receber suporte para mitigar a ansiedade
e o estresse. Caso o idoso sinta medo, sofra ameaça e/ou agressão, é necessário
que conte com alguém de confiança, incluindo um profissional de saúde e/ou
assistência social;
- É
importante que a família, cuidadores, conhecidos e profissionais fiquem atentos
a sinais de desorientação, falta de cuidado pessoal/higiene, retraimento e
mudanças bruscas de personalidade. Nos casos de denúncia, pode-se entrar em
contato com o Disque 100 ou delegacia. Certifique-se sobre o funcionamento,
durante a pandemia, da delegacia mais próxima ou, preferencialmente, da
Delegacia da Pessoa Idosa. Vizinhos, amigos e familiares podem buscar ajuda
junto a polícia pelo Disque 190.
REFERÊNCIAS
CAMPBELL,
A. M. An Increasing Risk of Family Violence during the Covid-19 Pandemic:
Strengthening Community Collaborations to Save Lives. Forensic Science
International: Reports, 2020
CARVALHO, A.T. F., et al. A sobrecarga dos cuidadores de idosos e sua
influência na agressão aos portadores de Alzheimer/The overload of elderly
caregivers and their influence on aggression against Alzheimer's patients. Brazilian Journal of
Health Review, v. 3, n. 2, p. 1798-1805, 2020.
LINO,
V. T. S.; et al. Prevalência e fatores associados ao abuso de
cuidadores contra idosos dependentes: a face oculta da violência familiar. Ciênc.
saúde coletiva. v. 24, n. 1, p. 87-96, 2019.
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