CUIDAR DE QUEM CUIDA: UMA VISÃO AMPLA DA ESSÊNCIA DO CUIDADO
O cuidado é algo que está diretamente relacionado à essência humana. O cuidar existe entre os seres humanos como condição prévia para nossa existência, experienciamos esse cuidado com nossas mães quando nascemos, necessitamos desses cuidados para conseguirmos viver e sobreviver, como por exemplo, através do leite materno (BOFF, 2020).
O cuidado às pessoas com necessidades especiais é um papel desafiador. Rotineiramente o cuidador acompanhará o indivíduo assistindo-o em todas suas atividades do cotidiano. Essa pessoa que foi designada para tal papel deve ter preparo, capacidade física e emocional, além do mais deve possuir uma conexão de afeto e confiança com a pessoa que é cuidada (NEVES et. al, 2015).
A responsabilidade de um cuidador envolve toda a rotina e os cuidados relacionados ao atendimento das necessidades humanas básicas, incluindo o âmbito social e educacional para o desenvolvimento saudável, autônomo e incluso possível. Os estudos apontam que a missão dos cuidados às pessoas com necessidades especiais é destinada à família. O núcleo familiar tem sua dinâmica modificada a fim de atender as necessidades da pessoa que é cuidada, função essa que frequentemente as famílias não estão preparadas para exercer, afetando diretamente a rotina e a estrutura em que o indivíduo está inserido, havendo, desse modo, modificações financeiras, de funções, entre outras cuidados (FARIA et al., 2017).
Nesse sentido, faz-se necessário uma reflexão sobre a constituição das relações sociais, principalmente no que tange às desigualdades de gênero, pois historicamente o desempenho das atividades do cuidado em família é atribuído à figura feminina, sendo que essa função é predominantemente provida pelas mães (RIBEIRO, 2018).
O cuidar é complexo, envolve questões emocionais, necessita de tempo, esforço físico e mental. Os cuidados tornam-se ininterruptos, a maioria das cuidadoras refere que sua vida passou a ser vinculada apenas a viver pela pessoa cuidada, muitas relatam que deixaram de trabalhar ou de ter uma vida social, expondo o cuidador a um processo de adoecimento. No estudo de Neves et al. (2015) verificou-se que as cuidadoras tiveram que renunciar seu emprego para se dedicarem a cuidar integralmente do filho, o que impacta diretamente na garantia de renda para o sustento da família.
Outro estudo evidenciou que as cuidadoras revelaram problemas de saúde devido às sobrecargas a qual são expostas no cotidiano. Os sintomas persistentes mencionados são: dores por todo o corpo, insônia, ansiedade, enxaqueca, esquecimento, estresse e pouca vontade (ou condição) de cuidar da própria saúde e desenvolvimento de doenças crônicas ocasionadas pela privação de cuidados preventivos de saúde. Além do mais, verificou-se, no mesmo estudo, que as mulheres tinham dificuldades de ter acesso às atividades físicas e de lazer (MONTENEGRO, 2018).
Eis que se levantam algumas questões: o cuidador escolheu ou foi escolhido? Será que o cuidador está apto fisicamente e mentalmente para exercer essa função? Será que está com disponibilidade para cuidar de si mesmo? Quem cuida do cuidador?
Cada vez mais, percebe-se que a preocupação com a saúde dos cuidadores vem se destacando. Portanto, esses questionamentos nos fazem refletir sobre o processo do cuidado ao indivíduo, família e coletividade, compreendendo que essas projeções são vias de mão dupla para que se evite uma sobrecarga aos cuidadores, visto que necessitam de uma rede de apoio e que eles possam entender que o cuidar não é somente fazer pelo outro e sim fazer junto com os demais atores.
Precisamos cuidar de quem cuida! Assim, a atenção domiciliar (Atenção Básica de Saúde ou Serviços de Atendimento Domiciliar) tem um papel primordial. Os profissionais de saúde precisam viabilizar um maior suporte aos cuidadores, atentar-se às dificuldades, incentivar o compartilhamento de tarefas entre os membros da família para que não haja sobrecarga e construir uma rede de apoio com os dispositivos sociais com a comunidade, escola, áreas de lazer, apoio espiritual, serviços de saúde, entre outros (FARIA et al, 2017; MONTENEGRO, 2018).
Em suma, é preciso lembrar que a compreensão sobre o cuidar necessita de estudos, pesquisas e reflexões específicas sobre a pessoa que cuida. Deve-se considerar o cuidado como direito social e problema público trazendo esse direito para uma discussão ampla com as esferas públicas sobre a importância da implementação de políticas públicas em saúde para o público em tela.
REFERÊNCIAS:
BOFF, L. O cuidar e o ser cuidado na prática dos operadores de saúde. Ciênc. saúde coletiva, v. 25, n.2, Fev, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/ZgZ4QfffRgC6HgRY3Ppxzfw/?format=pdf&lang=pt.
FARIA, A. A. CUIDANDO DE QUEM CUIDA – O PAPEL DO PSICÓLOGO COM CUIDADORES DE PACIENTES PALIATIVOS. Revista Saúde em Foco, Teresina, v. 9, n.1, 2017.Disponível : https://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2018/06/004_artigo_saude_template.pdf. Acesso em: 08 de outubro de 2022. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/abepss/article/view/22257. Acesso em: 08 de outubro de 2022.
MONTENEGRO, R. C. F. Mulheres e Cuidado: Responsabilização, Sobrecarga e Adoecimento, Espírito Santo, 2018, v.16, n.1, 2018.
NEVES, E. T. et al. REDE DE CUIDADOS DE CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS DE SAÚDE. Texto e Contexto- enferm, Florianópolis, 2015, v. 24, n. 2, p. 399- 406. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tce/a/Z9jz9qZzF4JVgnXwSSC8HGp/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 08 de outubro de 2022.
RIBEIRO, T. S. É sempre assim, tudo sou eu! Cuidado, Gênero e Famílias. O Social em Questão, Rio de Janeiro, 2018, n. 43. Disponível em: http://osocialemquestao.ser.puc-rio.br/media/OSQ_43_art2.pdf. Acesso em: 08 de outubro de 2022.
Texto produzido por Laísa de Sousa Marques, Rebeca Rodrigues da Silva, Kaline Oliveira de Sousa, Maria Amélia Lopes Martins e Larissa Barbosa de Freitas, sob orientação do Professor Dr. José Ferreira Lima Júnior.
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