QUAL SIGNIFICADO DO DIAGNÓSTICO DE HANSENÍASE EM MENORES DE 15 ANOS?


A estigmatização criada em torno da hanseníase carrega como consequência o silêncio sobre a doença, se configurando como um fator potencializador na dificuldade em conter os casos diagnosticados no Brasil. Dentre as lacunas existentes, podem haver certos desconhecimentos sobre a transmissão, principalmente referente às faixas etárias acometidas. Possivelmente, gerando a falsa sensação de proteção em determinados grupos.


Fonte: Autoria própria


Entretanto, a hanseníase não se restringe a nenhuma idade, podendo ser transmitida entre crianças até pessoas idosas (BRASIL, 2017). Apesar do período de incubação da doença caracterizar-se como longo, crianças e adolescentes não estão asseguradas. Corroborando com a discussão, foram detectados no país 19.101 novos casos em menores de 15 anos no intervalo de tempo entre os anos de 2011 até 2020 (BRASIL, 2022).

Diagnósticos sorológicos positivos nesse grupo se tornam motivo de maior alerta, uma vez que sinalizam dois fatores: exposição precoce ao Mycobacterium leprae, bactéria responsável por causar a hanseníase, e prevalência da doença na comunidade (OMS, 2016). Tornando-se, então, indicativos de que as políticas de saúde pública não estão sendo capazes de promover a quebra da cadeia de transmissão.

O número de casos de hanseníase em pacientes pediátricos ainda se demonstra significativo de modo a encontrar manifestação de deformidades, além de complicações das reações hansênicas (DARLONG et al., 2017). Esse cenário está possivelmente relacionado a dificuldade de alcançar a detecção precoce pela escassez de conhecimento da família a ponto de gerar suspeita sobre a doença, como também a ausência de profissionais capacitados. Contribuindo, assim, para a disseminação da doença infectocontagiosa (ARAÚJO et al., 2012).

Quando o diagnóstico é feito de forma tardia aumenta a probabilidade de deformidades não reversíveis (BRASIL, 2013). Assim, um misto de sentimentos negativos são capazes de serem gerados em uma criança com lesão irreversível e/ou em virtude da vergonha, medo e ansiedade. Além de que vem a ser um abalo para a própria família, experienciando o desgaste emocional e outras emoções durante o processo de diagnóstico da hanseníase (DARLONG; GOVINDHARAJ, 2020).

A participação da família no tratamento pode possibilitar a diminuição de chances de haver deformidades (DARLONG; GOVINDHARAJ, 2020). Com isso, a promoção de educação em saúde implementada na população, bem como para profissionais dos serviços de saúde que permitam o diagnóstico precoce a partir da suspeita de hanseníase em menores de 15 anos podem construir alternativa eficaz para a quebra da cadeia de transmissão (RODRIGUES et al., 2020).

Além disso, a busca ativa é imprescindível, pois ao encontrar sorológico positivo de hanseníase em crianças e adolescentes, é necessário investigar o contato que foi fonte de transmissão dado que, mesmo a hanseníase tendo sua transmissibilidade por contato íntimo e prolongado, ao contrário de que se pode ser deduzir, não se restringe a indivíduos que vivem na mesma casa, mas, também, em escolas, igrejas e outros locais frequentados rotineiramente, ou seja, desde que possuam como característica o longo contato, no mínimo de três a cinco anos.

Portanto, combater os casos de hanseníase em menores de 15 anos é sinônimo de efetivação das políticas públicas de saúde e melhoria na qualidade de vida da população. Por isso, construir o conhecimento acerca dessa doença infectocontagiosa possibilita rede de apoio a criança ou adolescente acometidos pela doença, além de impulsionar a quebra de cadeia de transmissão.




REFERÊNCIAS


1. ARAÚJO, S. et al. Unveiling healthy carriers and subclinical infections among household contacts of leprosy patients who play potential roles in the disease chain of transmission. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 107, suppl 1, p. 55-59, dez. 2012. Disponível em: https://doi.org/10.1590/s0074-02762012000900010.


2. BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico de Hanseníase. Brasília: Ministério da Saúde, 2022.


3. BRASIL. Ministério da Saúde. Guia Prático de Hanseníase. Brasília: Ministério da Saúde, 2017.


4. DARLONG, J. et al. A study of untreated leprosy affected children reporting with Grade 2 disability at a referral centre in West Bengal, India. Leprosy Review, v.88, n.3, p.298-305, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.47276/lr.88.3.298.


5. DARLONG, Joydeepa; GOVINDHARAJ, Pitchaimani. Parents’ attitude towards their children and adolescents affected by leprosy in an endemic district in West Bengal, India. Leprosy Review, v.91, n.3, p.282-290, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.47276/lr.91.3.282.


6. OMS. Organização Mundial da Saúde. Global leprosy update, 2015: time for action, accountability and inclusion , 2016.


7. RODRIGUES, T. S. V. et al. Factors associated with leprosy in children contacts of notified adults in an endemic region of Midwest Brazil. Jornal de Pediatria, v. 96, n. 5, p. 539-599, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jped.2019.04.004.




Texto produzido pela acadêmica de enfermagem Anna Kalyne César Grangeiro Adriano e orientado pelo Prof. Dr. Marcelo Costa Fernandes.


Linha de Pesquisa: Tecnologias Cuidativo-Educacionais

Eixo temático: Saúde coletiva, Hanseníase e Minorias Sexuais e de Gênero

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