Atenção Integral à Saúde da Criança na Estratégia de Saúde da Família

Antes do movimento da reforma sanitária e implementação do Sistema Único de Saúde (SUS), a criança não era considerada um ator social com a sua singularidade, sendo vista como membro da família sem aspectos específicos. A mesma não fazia parte da sociedade com direitos enquanto cidadãos, portanto, as equipes de saúde e o Estado não pensavam em práticas voltadas à saúde e bem-estar da criança o que acarretava em maior índice de mortalidade infantil na época, como também agravos à saúde. Com a Constituição Federal de 1988 e o resultado de várias conquistas no campo da saúde (criação do SUS), juntamente com o desenvolvimento das Leis Orgânicas da Saúde em 1990, possibilitaram várias mudanças no modelo de saúde voltada à assistência à criança.
Para qualificar ainda mais a promoção da saúde integral, priorizando ações que favoreciam o acompanhamento e desenvolvimento da criança, foi criado o Programa Saúde da família, em 1994, tendo como objetivo reorganizar o modelo de atenção. Logo, fomentaram o desenvolvimento de ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde, voltadas para o público da criança, entre elas, espaços de produção do cuidado que abrangiam o crescimento e desenvolvimento, incentivo ao aleitamento materno, imunização básica e o controle das doenças diarreicas e das Infecções Respiratórias agudas.

Essas ações foram articuladas através do Programa de Atenção Integral à Saúde da Criança (PAISC) que tem como ideia, além da organização dos serviços, o planejamento de um processo de abordagem que envolve toda uma rede de instituições e serviços de forma a obter impacto epidemiológico sobre determinadas circunstâncias do processo de viver da criança. É uma proposta que exige que profissionais, equipe, instituição e unidades de saúde se organizem como um todo, implicando na atuação multi, inter e transdisciplinar (SOUSA; ERDMANN, 2012).

Nessa perspectiva de um cuidado voltado para atender a criança em todas as suas necessidades, onde se deve ter o apoio de toda a equipe multiprofissional, por meio da transdisciplinaridade, que se pensou na atenção integral à saúde da criança. Com essa compreensão, entende-se que os serviços de Atenção Primária à Saúde devem ser considerados portas de entradas ao cuidado às crianças, onde todas as possibilidades de atenção à saúde, sejam elas de caráter preventivo ou não, devem ser utilizadas antes de encaminhá-las as esferas secundária e terciária.

Portanto, os serviços de saúde da atenção primária devem ser responsáveis de forma ampla pela criança e lhes garantir acesso. Dessa forma, é importante ressaltar a necessidade de o cuidado ser inicializado na Estratégia de Saúde da Família, pois nessa esfera de atenção, têm-se importantes ferramentas que propõem resolutividade das problemáticas apresentadas, bem como uma maior proximidade e responsabilização com os usuários que necessitam serem cuidados (SILVA; VIERA, 2014). Entre essas ferramentas utilizadas pela equipe de referência da atenção básica está o acolhimento como uma das essenciais, somado a um olhar diferenciado e voltado para cada caso específico, contribuindo, com isso, para um cuidado qualificado à população infantil.

A Atenção Primária à Saúde deve ser capaz de integrar todo cuidado que a criança recebe em diversos pontos de atenção, proporcionando com isso, um cuidado longitudinal. Assim, é essencial a comunicação, bem como o acesso às tecnologias leves de cuidado e uma rede interligada que posso proporcionar a integralidade frente ao sistema de saúde (SILVA et al., 2015).

Embora tenha acontecido algumas mudanças no contexto de saúde, particularmente relacionadas à saúde da criança, os espaços de produção do cuidado, como a Estratégia Saúde da Família, ainda continuam em processo de reorganização a fim de se evitar que os mesmos sejam voltados somente à doença, com ações prescritivas e medicamentosas, e passem a seguir o modelo de caráter da clínica ampliada, incluindo a família e todo seu contexto social, proporcionando a integralidade da atenção. Para isso, há a necessidade de fortalecer as ações encontradas nas políticas relacionadas à saúde da criança, favorecendo, assim, a promoção, prevenção e a continuidade do cuidado, melhorando a qualidade de vida da população infantil.
               
Referências
SILVA, R. M; VIERA, C. S. Acesso ao cuidado à saúde da criança em serviços de atenção primária. Rev. Bras. Enferm., Brasília, v. 67, n. 5, p. 794-802, 2014.

SILVA, R. M. M; SOBRINHO, R. A. S; NEVES, E. T; TOSO, B. R. G. O; VIERA, C. S. Desafios à coordenação na atenção primária à saúde da criança. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 20, n. 4, p. 1217-1224, 2015.

SOUSA, F. G. M; ERDMANN, A. L. Qualificando o cuidado a criança na Atenção Primária de Saúde. Rev. Bras. Enferm., Brasília,  v. 65, n. 5, p. 795-802, 2012.

Texto elaborado pela Acadêmica de Enfermagem Marília Torres e pelo Professor Me. Marcelo Costa.

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