POR QUE É IMPORTANTE CRIAR VÍNCULOS EMOCIONAIS NUMA CRECHE COM CRIANÇAS/BEBÊS PEQUENAS(OS)?
O conceito de apego/vínculo
O apego é um vínculo emocional essencial para o desenvolvimento da criança. Ele se forma a partir da relação entre o bebê e seus cuidadores e tem um papel fundamental na forma como a criança aprende a confiar nos outros e a interagir com o mundo. Segundo Bowlby (1989), o apego surge da necessidade inata do bebê de se sentir protegido e seguro, influenciando diretamente seu desenvolvimento emocional e social.
Fonte: Educação Infantil - Ministério da Educação
Referencial teórico: John Bowlby e Mary Ainsworth
John Bowlby foi o criador da Teoria do Apego, que explica como os laços emocionais se formam nos primeiros anos de vida. Ele demonstrou que, quando um bebê tem uma figura de cuidado atenta e previsível, ele se sente seguro para explorar o mundo e desenvolver habilidades emocionais saudáveis.
Mary Ainsworth (1970), colaboradora de Bowlby, aprofundou essa teoria e criou um experimento chamado "Situação Estranha", no qual observou como bebês reagiam à separação e ao reencontro com suas mães. A partir desse estudo, ela identificou três padrões principais de apego:
1. Apego Seguro: O bebê demonstra confiança em seu cuidador e explora o ambiente sem medo. Quando a mãe sai, ele pode ficar triste, mas se acalma rapidamente ao seu retorno. Esse tipo de apego indica que a criança se sente protegida e confia que suas necessidades serão atendidas.
2. Apego Ansioso-Ambivalente: A criança tem dificuldade em se sentir segura, demonstrando ansiedade mesmo na presença do cuidador. Quando a mãe sai, o bebê fica muito angustiado e, ao seu retorno, pode alternar entre buscar proximidade e rejeitá-la. Isso pode ocorrer quando os cuidadores são inconsistentes na atenção e no carinho.
3. Apego Evitativo: O bebê parece indiferente à presença do cuidador. Quando a mãe sai, ele não demonstra grande desconforto, e ao seu retorno, evita contato. Esse comportamento pode indicar que a criança aprendeu que suas necessidades emocionais não são respondidas com frequência.
Mais tarde, em 1986, um quarto padrão foi identificado:
4. Apego Desorganizado: Crianças que apresentam esse comportamento podem demonstrar reações contraditórias, como se aproximar do cuidador, mas ao mesmo tempo demonstrar medo. Isso pode ocorrer quando a figura de apego é, ao mesmo tempo, uma fonte de proteção e de medo, como em casos de negligência ou maus-tratos.
Ainsworth demonstrou que o tipo de vínculo que a criança estabelece nos primeiros anos pode influenciar seu comportamento e relações ao longo da vida. Conforme Dalbem e Dell’Aglio (2005), “um verdadeiro vínculo afetivo se desenvolve garantido pelas capacidades cognitivas e emocionais da criança, bem como pela consistência dos procedimentos de cuidado, pela sensibilidade e respostas dos cuidadores”.
A importância do vínculo na creche (4 meses a 2 anos)
Entre os 4 meses e os 2 anos, o bebê começa a formar suas primeiras representações mentais sobre si mesmo e os outros, com base na interação com seus cuidadores (Dalbem; Dell’aglio, 2005). O ambiente da creche, quando seguro e responsivo, pode ser um espaço fundamental para a construção de um apego saudável, promovendo confiança e estabilidade emocional.
O vínculo se forma por meio da previsibilidade dos cuidados, da atenção às necessidades da criança e do contato físico e emocional constante. Ainsworth (1989) destaca que crianças com apego seguro tendem a explorar mais o ambiente e a desenvolver habilidades socioemocionais mais equilibradas.
Dificuldades na criação do vínculo na creche
A criação desse vínculo pode ser desafiadora devido a fatores como a alta rotatividade de cuidadores, número elevado de crianças por profissional e falta de preparo emocional dos educadores. A ausência de um vínculo estável pode gerar insegurança e afetar a adaptação da criança ao ambiente escolar, dificultando seu desenvolvimento emocional.
Consequências da falta de vínculo afetivo
Quando a criança não estabelece um apego seguro, podem surgir impactos negativos no seu desenvolvimento. Segundo Bowlby (1989), a ausência de uma base segura pode levar a dificuldades na regulação emocional, maior vulnerabilidade ao estresse e problemas de relacionamento na infância e na vida adulta. Crianças com apego inseguro podem demonstrar ansiedade excessiva na separação, dificuldades na interação social e menor interesse pela exploração do ambiente.
Assim, a construção de vínculos afetivos na creche não é apenas desejável, mas essencial para o desenvolvimento integral da criança, garantindo bases sólidas para sua vida emocional e social.
Referências
AINSWORTH, M. Attachments beyond the infancy. American Psychologist, vol. 44, nº 4, p. 709-716. 1989.
AINSWORTH, Mary D. S. Infancy in Uganda: Infant Care and the Growth of Love. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1970.
BOWLBY, J. Uma base segura: Aplicações clínicas da teoria do apego. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
DALBEM, J. X.; DELL’AGLIO, D. D. Teoria do apego: bases conceituais e desenvolvimento dos modelos internos de funcionamento. Arquivos Brasileiros de Psicologia, v. 57, n. 1, p. 12-24, 2005.
Texto elaborado por Thaís Mendes da Purificação sob a orientação da Dra. Silvia Carla Conceição Massagli.
Linha de Pesquisa: Tecnologias Cuidativo-Educacionais: Interlocuções na Saúde, Formação e Educação.
Eixo temático: Educação e Saúde Psíquica Infanto-Juvenil.
Coordenadora: Dra. Silvia Carla Conceição Massagli.
(Docente da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Realeza).
Orientandas: Gabrielle Klein Silva, Isadora Klein Da Silva e Thaís Mendes da Purificação.
(Acadêmicas da UFFS - Laranjeiras do Sul e Realeza).
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