Saúde da mulher: humanização e qualidade, princípios inerentes da política de atenção à saúde atual.

O mundo moderno trouxe consigo a necessidade e a cobrança por parte da classe feminina de maior paridade no que se refere aos direitos e dimensões pertinentes a igualdade de gênero, luta essa que também se reflete na sua saúde.
No início do século XX as mulheres começaram a ganhar espaço na busca por políticas públicas, embora essas não tivessem uma visão ampla de todas as suas subjetividades. Somente nos últimos anos é que elas têm conquistado ênfase na criação de políticas que possuem dentro da sua filosofia um caráter mais integral, que possa atender todas as demandas da singularidade e multidimensionalidade do gênero feminino, assim como outras doutrinas pregadas com o advento do Sistema Único de Saúde (SUS).

A evolução das políticas destinadas à saúde da mulher se deu de forma lenta e que acompanhou, assim como outros segmentos da saúde, os aspectos históricos nos quais estão inseridos. As primeiras, por exemplo, visavam romper com o paradigma, até então fortemente implantado na sociedade, de que a mulher deveria estar atrelada à criação dos filhos e da manutenção do lar, onde o aspecto saúde e qualidade de vida pouco tinham importância ou era restritamente enfatizado.

Durante o decorrer das décadas iniciais do século XX as primeiras discursões surgiam sobre a saúde feminina refletindo na formulação de políticas que ressaltavam primordialmente o ciclo gravídico-puerperal. Somente na década de 60 é que o movimento feminista conquistou espaço, rompendo com todo esse enfoque, embora que de maneira tímida, visando dar importância aos outros âmbitos aos quais elas estão imbuídas e que também necessitam de destaque, incorporando termos como a integralidade, que ganham impulso com os debates para a criação do SUS (Sistema Único de Saúde) e a Reforma Sanitária. 

Embora inicialmente tivesse um caráter bastante restritivo, o qual visava a mulher somente como um ser reprodutor, a criação das primeiras políticas públicas mediante a anexação da saúde feminina, foi um grande avanço e que se reflete nos benefícios hoje disfrutados. Elas têm como objetivo minimizar as desigualdades existentes e que contribuem para o processo de adoecimento das mulheres brasileiras.

Atualmente a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) possui dentro dos seus pressupostos a ressalta de dois princípios básicos e de bastante importância: a humanização e a qualidade da assistência prestada, visando a integralidade da saúde da mulher, que até então eram questões pendentes.

A humanização está atrelada a um melhor atendimento, e por isso a mesma está intimamente relacionada a qualidade do amparo assistencial, bem como a ampliação da participação mais efetiva das mulheres nos serviços de saúde, onde elas serão co-responsáveis e colaboradoras da manutenção do seu bem estar, sendo assim, protagonistas do seu processo saúde, doença e cuidado.

Humanização e qualidade da assistência vão além de somente recuperar a saúde, mas também envolve a promoção e a prevenção de agravos, onde o emprego das tecnologias leves (acolhimento, vínculo e escuta ativa) é necessário para o alcança desses fundamentos no cotidiano assistencial. 

Ainda dentro desses aspectos, para atingir esses princípios deve-se fazer o uso da clínica ampliada, em que o enfoque não está somente atrelado ao processo da doença ou enfoque biologicista, mas também englobando todas as dimensões em que as mulheres estão inseridas, como por exemplo, a sua cultura, a sua religião, a opção sexual, as condições de moradia e psicológicas, visando a mulher de maneira integral.

Dessa forma se faz necessário que, para atingir os princípios enfatizados, devem disponibilizar as protagonistas sociais (usuárias dos serviços de saúde) profissionais qualificados, maior facilidade de acesso aos serviços, disponibilidade de materiais necessários, avaliação e acompanhamento das mesmas, embora que para se alcançar tais, ainda se encontra barreiras decorrentes da fragilidade do sistema público de saúde.

Todavia, algumas lacunas precisam, ainda hoje, serem preenchidas, mesmo com a criação da atual Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), muito há a se fazer na sua efetivação. Pode-se observar que muitas vezes profissionais ainda se sentem desconfortáveis para atuar de forma a atender a todas as demandas e obter qualidade e humanização na assistência prestada, que são indissociáveis e necessários. 

Texto elaborado pelo Acadêmico de Enfermagem Mike Douglas e pelo Professor Me. Marcelo Costa

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