Estigmas e Preconceitos relacionados ao Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O mundo caracteriza-se por sua pluralidade, na qual as diferenças entre seus habitantes é constante. Não obstante, os estigmas em relação às diversidades existentes são, de fato, bem prevalentes.


 FONTE: (Autoria própria, 2020).


O estigma é resultado de três elementos básicos, falta de conhecimento acerca do tema em questão (ignorância), julgamento sem conhecimento prévio (preconceito), e agir de acordo com comportamentos exclusivos (discriminação). Além disso, a cultura é um fator estruturante na criação de estigmas (THORNICROFT et al., 2007).

Nesse sentido, indivíduos portadores do Transtorno do Espectro Autista (TEA), por vezes, também são vítimas de preconceitos e discriminações. Comumente, as características e comportamentos das crianças autistas são vistos como inerentes à sua personalidade, de modo que os próprios familiares apresentam dificuldades em relacioná-los a algum transtorno, dificuldades estas que muitas vezes permanecem mesmo após o diagnóstico, o que torna difícil a aceitação dessa criança (MAPELLI et al., 2018). Nesse contexto, o acolhimento da criança com TEA, por parte da família, é o primeiro passo para desmistificar julgamentos errôneos.

Devido à existência de discriminação e de preconceitos voltados para os autistas na sociedade, estes indivíduos muitas das vezes tornam-se excluídos também de seus direitos como cidadãos, tais como o direito à educação, à saúde, ao lazer, à religião e ao bem-estar (MAPELLI et al., 2018). Isso torna-se ainda mais grave ao perceber que os autistas possuem características que incluem prejuízos na interação e compreensão social; na comunicação, na imaginação e em interesses, além de apresentarem comportamentos repetitivos e estereotipias (WUO, 2019). Vale ressaltar que os comportamentos repetitivos e as estereotipias podem incomodar as pessoas ao redor deles e fazer com que haja julgamentos precipitados (RIBEIRO, 2020).

Um estudo realizado na França mostrou que dos 1000 pacientes entrevistados 61% deu rótulos pejorativos para o TEA, transtorno bipolar e esquizofrenia. Além disso, 1 em cada 3 entrevistados disseram que não diria a amigos ou familiares caso fosse diagnosticado com algum desses transtornos, o que demonstra haver uma alta porcentagem de pessoas que ainda possuem estigma (autoestigma) em relação a esses transtornos (DURAND-ZALESKI et al., 2012).

Esse estigma (autoestigma) que as pessoas têm em relação ao TEA tem como base a falta de conhecimento da população sobre transtorno mental. Vale salientar, que ao contrário do que muitos pensam, os autistas podem aprimorar suas habilidades e desenvolver-se socialmente, sendo o diagnóstico precoce crucial para tal desenvolvimento. Entretanto, muitos pensam que uma criança com TEA é sempre aquela criança triste, indiferente e que não demonstra nenhum tipo de afetividade. Essa ideia é totalmente errada, visto que como o próprio nome diz, esse transtorno faz parte de um espectro, o qual pode variar de indivíduo para indivíduo, e como já mencionado, há tratamentos que podem diminuir os déficits causado por ele.

Portanto, nota-se que uma boa forma de combater esse estigma é iniciar a disseminação do conhecimento sobre temas como esse no ambiente  escolar, o qual  tem um papel fundamental nisso, visto que é uma das instituições sociais que mais forma opinião. Ademais, o estigma deve ser combatido também dentro do seio familiar, pois como dito, é comum muitos indivíduos ainda possuírem estigma sobre esses transtornos, mesmo em condições nas quais eles próprios tenham algum transtorno, como o TEA.


REFERÊNCIAS


DURAND-ZALESKI, I. et al. A first national survey of knowledge, attitudes and behaviours towards schizophrenia, bipolar disorders and autism in France. BMC Psychiatry, [s. l.], v. 12, p. 128-128, 2012. Disponível em: https://bmcpsychiatry.biomedcentral.com/articles/10.1186/1471-244X-12-128. Acesso em: 22 novembro 2020.


MAPELLI, L.D. et al. Criança com transtorno do espectro autista: cuidado na perspectiva familiar. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 22, n. 4, e20180116, 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/2177-9465-ean-2018-0116. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452018000400232&lng=en&nrm=iso. Acesso em:  22  novembro  2020.


RIBEIRO, E. O ESTIGMA DO AUTISMO: QUANDO TODOS OS OLHOS ESTÃO SOBRE TI. 2019. Elaborado por Vencer o Autismo. Disponível em: https://vencerautismo.org/2019/09/estigma-do-autismo-os-olhos-estao-ti/. Acesso em: 21 novembro 2020.


THORNICROFT, G. et al. Estigma: ignorância, preconceito ou discriminação? Br J Psychiatry. 190 : 192–3, 2007. DOI: 10.1192 / bjp.bp.106.025791. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17329736/. Acesso em: 22 novembro 2020.


WUO, A.S. Educação de pessoas com transtorno do espectro do autismo: estado do conhecimento em teses e dissertações nas regiões Sul e Sudeste do Brasil (2008-2016). Saúde Soc, São Paulo, v.28, n.3, p.210-223, 2019. DOI: 10.1590/S0104-12902019170783. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902019000300210&lng=en&nrm=is. Acesso em: 22 novembro 2020.


 Linha de pesquisa: Tecnologias Cuidativo-Educacionais para pessoas com necessidades especiais.

Texto elaborado pelos acadêmicos Kaline Oliveira de Sousa, Francisco José Ferreira Filho e Maria Amélia Lopes Martins, sob orientação do professor Dr. José Ferreira Lima Júnior.


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