Autoconceito e Autoestima na infância: desenvolvimento e repercussões


O Autoconceito refere-se a uma construção multidimensional a respeito de tudo o que uma pessoa julga como pertencente a ela, de características pessoais e sociais, atitudes, sentimentos, habilidades e aceitabilidade social, e o conceito que, devido a isso, constrói de si próprio. Tem duas principais dimensões: Descritiva (conhecido como autoimagem) e avaliativa (conhecido como autoestima).A autoimagem é a avaliação que é feita de si próprio, geralmente pela escolha de características de sentido oposto (alto ou baixo, bonito ou feio, extrovertido ou tímido, etc.). A autoestima é o sentimento que resulta dessa avaliação/autoimagem (ARAUJO, 2002; DEL PRETTE;DEL PRETTE, 2001; OLIVEIRA, 2015).


(FONTE: https://opsicologoonline.com.br/autoestima-infantil/)



A percepção que cada indivíduo tem de si mesmo influencia diretamente seu grau de motivação, autoestima e desenvolvimento social. A habilidade de manter a autoestima mesmo em situações negativas, envolve a Habilidade Social de Assertividade de Enfrentamento, e é capaz de reduzir a ansiedade e ajudar a manter o equilíbrio pessoal através da Inteligência Emocional.O autoconceito engloba o indivíduo em diferentes dimensões. Nobre (2017) e Oliveira (2015) destacam principalmente:

·         A dimensão cognitiva - que corresponde as características utilizadas para se descrever e que norteiam o comportamento;
·         A dimensão comportamental - que é influenciada pela definição que o sujeito tem sobre si mesmo;
·         A dimensão afetiva -  que são os afetos e às emoções que estão ligados à definição que o sujeito tem de si mesmo.
Assim, o indivíduo se auto caracteriza, isso repercute diretamente nas suas ações e gera emoções e sentimentos positivos ou negativos, que formam um ciclo que se altera de acordo com o amadurecimento cognitivo e com as experiências dos ganhos e perdas do dia a dia (AMORIM,2016; HARTER, 1978; NOBRE, 2017).

Neste contexto, o autoconceito pode ser classificado em 5 domínios básicas, segundo Harter (1978), que são eles:
·         Autoconceito acadêmico – Percepção de si próprio enquanto estudante;
·         Autoconceito social - Percepção de si próprio em relação as suas relações e aceitação social;
·         Autoconceito pessoal -Percepção de si próprio acerca da aceitação de si mesmo e a confiança em suas capacidades;
·         Autoconceito familiar -Percepção de si próprio como membro da família;
·         Autoconceito global - Percepção de si próprio quanto a avaliação geral de si mesmo, com base na análise de todas as áreas.

A forma como as crianças desenvolvem e expressam o seu autoconceito é diferente de criança para criança, uma vez que é influenciado pela idade, experiências e percepções que são únicos de cada indivíduo. Até os 2 anos de idade a criança desenvolve a identidade de sua existência, pelo reconhecimento dos limites do seu corpo, através das sensações corporais que experimentadas pelos sentidos. De 2 a 6 anos, no autoconceito da criança há certa falta coerência, expresso em palavras simples e gerais acerca apenas das suas características físicas, com os termos bom ou ruim (COLL; MARCHESI; PALÁCIOS, 2004).

A partir dos 6 anos a criança consegue formar um autoconceito com dimensões mais complexas e integradas, conseguindo diferenciar em quais aspectos ela é boa e em quais aspetos ela é ruim. A partir dos 7, a criança consegue descrever seu autoconceito com aspectos além de características físicas, com características psicológicas, aptidões e convicções. Dos 8 aos 12 anos, a vertente social do autoconceito ganha maior destaque, a autopercepção menos fragmentada e mais integrada, devido as relações interpessoais e as comparações com outras pessoas se tornarem mais prevalentes. Esta tendência tende a aumentar na adolescência e vida adulta(COLL; MARCHESI; PALÁCIOS, 2004).

A partir do momento que a comparação e as relações sociais tornam-se também pontos de referência para a autopercepção, o ambiente social e as relações do indivíduo com este ambiente, tornam-se de grande importância na determinação de expectativas, competências e capacidades, portanto, do próprio autoconceito e autoestima, de modo que as avaliações feitas por pessoas importantes que estão ao seu redor tem um peso muito grande na sua vida. Assim, o autoconceito recebe influência das pessoas significativas do ambiente familiar, social e escolar, onde desenvolve e mantém sua autorreferência(ARAUJO, 2002; ERIKSON, 1978).

Estudos demonstram que crianças com níveis elevados de autoconceito e autoestima positivos e suporte social, apresentam maior grau de bem estar, satisfação, proteção as situações de estresse, tornando-se um fator de resiliência entre esses indivíduos. Ao contrário disso, baixo autoconceito pode se tornar um forte fator de risco para desencadear comportamentos negativos como as dificuldades escolares, delinquência, uso de drogas, depressão, ansiedade, estresse, problemas de personalidade e identidade, fobia social (CIA; BARHAM, 2009; HARTER, 1978; STEVANATO, 2003).

Para tal, o modo como os pais, professores, familiares e amigos exercem o controle e a disciplina, a democracia ou autoritarismo, elogios ou repreensão em tarefas bem ou mal sucedidas tornam-se fatores que intervêm na formação de um auto conceito positivo ou negativo pela criança. Sendo a autoestima uma ferramenta para se alcançar com sucesso a identidade, pais autoritários expressam alto controle e exigências, pouco diálogo e afeto explícito, se preocupando demais em avaliar e controlar e o comportamento da criança, o que acaba por despertar nessa criança o medo de punição, baixa autoestima, insegurança, pouca iniciativa e dependência, repercutindo negativamente no seu autoconceito. Pais tolerantes são pouco exigentes, porém, são comunicativos e demonstram afeto explícito, porém aceitam todos os desejos da criança e acaba despertando na criança imaturidade, baixa autoestima e irresponsabilidade, que também repercute negativamente no seu autoconceito. Já pais democráticos, apresentam afeto explícito, são comunicativos, conscientes dos sentimentos e talentos da criança, as envolve nas decisões da família e explicam a ela o motivo da disciplina, as tornando interativa, confiante, decidida e independente, influenciando positivamente no seu autoconceito (ROSENBERG, 1973; ARAUJO, 2002).

Um dos acontecimentos mais significativos na vida de uma criança é a entrada na escola, já que as interações sociais aumentam e o autoconceito sofre mudança. A escola não responde, na maioria das vezes, às necessidades de participação no mundo social, político e econômico. A escola falha por apresentar a todos os indivíduos o mesmo conteúdo, independentemente do contexto, além de que as crianças não são estimuladas a pensarem sobre seus pontos fortes e fracos, não sendo capazes de superar seus limites, confiar em seus recursos, resultando em uma autoimagem distorcida, relações sociais empobrecidas. Neste contexto, professores autoritários (que detém o conhecimento, reprime os sentimentos, vontades e opiniões das crianças) ou negligentes (que permite que os alunos façam tudo que querem e assumam todas as responsabilidades), formam crianças desinteressadas, irrealizadas, ansiosas e inseguras. Sendo essencial a figura de um professor democrático, que desenvolva um trabalho centrado no aluno, facilitando o processo de formação de identidade e buscando estratégias de preservação da integridade psíquica destes (CARNEIRO, 2003; GODOY, 2013; GOMES, 2007; REZENDE; LEMOS; MEDEIROS, 2017; SÁ, 2004; SILVA, 2016). 

Referências:

ARAUJO, M.C.C. O autoconceito nos contexto familiar, social e escolar. 2002. 127 f. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002.

CARNEIRO, G. R. et al.Autoconceito e Dificuldades de Aprendizagem na Escrita. Revista Psicologia: Reflexão e Crítica, Campinas, v. 16, n. 3, p. 427-434, fev. 2003.

CIA, F.; BARHAM, E. J. Repertório de habilidades sociais, problemas de comportamento, autoconceito e desempenho acadêmico de crianças no início da escolarização.Estudos de Psicologia, Campinas, v. 26, n. 1, p. 45-55, jan. 2009.

COLL, C.; MARCHESI, A.; PALÁCIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação. 2ªed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

DEL PRETTE, Z. A. P.; DEL PRETTE, A. Psicologia das Habilidades Sociais: Terapia e Educação. 2.ed., Petrópolis: Vozes, 2001.

ERIKSON, E. H. Identidade: Juventude e Crise. Tradução: Álvaro Cabral. 2. ed., Rio de Janeiro: Guanabara S.A., 1987.

GODOY, J. A. et al.Autopercepção de dificuldades escolares em alunos do ensino fundamental e médio em município do Rio Grande do Sul.Revista Aletheia, v. 41, n.1, p. 121-133, mai. 2013.

GOMES, M. A. V. M. M. Auto-conceito /auto-estima e rendimento escolar em alunos do 2º e 3º ciclos do ensino básico: contributo para melhorar a comunicação e o bem-estar em contexto escolar. 2007. 165 f. Dissertação (Mestrado) – Comunicação em Saúde, Universidade Aberta, Lisboa, 2007.

HARTER, S. Effectancemotivationreconsideredtoward a developmentalmodel. HumanDev, v. 21, n.1, p. 34-64, 1978.

OLIVEIRA, D. A. S. Autoconceito, Autoestima e Rendimento Académico em Alunos do 11º ano de Escolaridade nos Cursos de Ciências e Tecnologias e Cursos Profissionais. 2015. 111 f. Dissertação (mestrado) -  Psicologia da Educação e Intervenção Comunitária, Porto, 2015.

REZENDE, B.A.; LEMOS, S.M.A.; MEDEIROS, A.M. Qualidade de vida e autopercepção de saúde de crianças com mau desempenho escolar. Revista Paulista de Pediatria, São Paulo, v. 35, n. 4, p. 415-421, dez. 2017.

ROSENBERG, M. La autoimagendeladolescent y lasociedad. Tradução: Margarita Galhana. Buenos Aires: Editorial Paidos, 1973.

SÁ, I. O desenvolvimento das percepções de valor pessoal e de competência escolar em estudantes do 2° e do 3° ciclos.Revista psicologia, Lisboa, v. 18, n. 1, p. 125-145, jan. 2004.

SILVA, P. N. et al.Análise da percepção de competência e desempenho motor de pré- escolares do município de Maringá- PR.Revista Biomotriz, Maringá, v.10, n. 1, p. 5 – 23, jul. 2016.

STEVANATO, I. S. et al.Autoconceito de crianças com dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento. Revista Psicologia em Estudo, Maringá, v. 8, n. 1, p. 67-76, jun. 2003.

Texto elaborado pela acadêmica de Enfermagem Francisca Patrícia da Silva sob a orientação da professora Dra. Silvia Carla Conceição Massagli

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