Álcool, calorias vazias e seus efeitos sobre a nutrição humana

O consumo de álcool esteve presente na rotina dos seres humanos desde o início dos tempos nas mais diversas culturas sendo associado a lazer, festejos, e cerimônias religiosas. O seu uso permanece de modo abrangente na sociedade atual, tornando imprescindíveis os estudos acerca desse tema que proporcionem maiores entendimentos dos efeitos dessa substância.
(FONTE: https://vivamelhoronline.files.wordpress.com/2012/02/calorias-das-bebidas-alcoc3b3licas.jpg)
Após sua ingestão o etanol precisa ser metabolizado para que se torne possível a eliminação do mesmo pelo organismo. Esse processo ocorre principalmente no fígado e é capaz de interferir em outras vias metabólicas do sistema causando distúrbios que irão refletir no funcionamento de todo o corpo.

Uma das principais ações encontradas no metabolismo do etanol é a reação de redução de carreadores de elétrons NAD+, processo que origina moléculas de NADH. O aumento desse tipo de reação inibe a oxidação de ácidos graxos que necessitariam do carreador na sua forma oxidada. Uma vez que as necessidades de NADH do corpo são supridas pelo metabolismo do etanol os ácidos graxos acumulam-se na forma de trialcilgliceróis podendo ocasionar processos como a esteatose hepática, conhecida como fígado gorduroso (COLLEEN; MARKS; LIEBERMAN, 2007).

O etanol como uma substância tóxica para o corpo acaba sendo metabolizado primeiro que outros elementos como os lipídeos, suprindo parte ou toda necessidade energética do corpo, uma vez que seu processo de oxidação fornece energia. Porém essa produção de energia pelo etanol ocorre de maneira pouco eficaz, sendo considerada uma substância que possui “calorias vazias” no metabolismo, já que ele apresenta-se como fonte de energia sem acrescentar nutrientes essenciais como proteínas, vitaminas e elementos traço, podendo ser responsável inclusive pela má absorção desses nutrientes por outras fontes (KACHANI; BRASILIANO, HOCHGRAF, 2008).

Os efeitos do etanol podem se estender também para o metabolismo das vitaminas, como por exemplo no metabolismo da vitamina A onde algumas isoenzimas da álcool desidrogenase (ADH) possuem a capacidade de oxidar o retinol (um álcool) em retinal (um aldeído), enquanto isoenzimas da aldeído desidrogenase (ALDH) e da retinal desidrogenase (RDH) oxidam o retinal em ácido retinóico essa similiridade entre as vias metabólicas garante ao etanol a capacidade de atuar como um inibidor competitivo do processo de ativação da vitamina A, colaborando para distúrbios relacionados com a sua ausência, como a síndrome alcoólica do feto e o desenvolvimento de uma variedade de cânceres (DINIZ; LIMA; ANTONIOSI FILHO, 2002).

O consumo de álcool também pode contribuir para baixa absorção de vitamina C, o que prejudica a formação do colágeno, dando origem ao chamado escorbuto alcoólico caracterizado por lesões na pele e fragilidade dos vasos sanguíneos, principalmente em regiões como as gengivas (BERG; TYMOCZO; STRYER, 2008).

Nesse contexto, o consumo do álcool acaba por interferir em diversos aspectos do metabolismo de outras substâncias no corpo. A presença do etanol no organismo gera um reajuste das vias metabólicas que direcionam-se para eliminação dessa substância, inibindo rotas como a da oxidação dos lipídeos, que tendem a acumular-se causando sobrepeso e até algumas patologias. Assim, vale ressaltar a importância de se pesquisar e trabalhar ações de educação em saúde acerca dessa temática de modo a construir cada vez mais conhecimentos sobre o consumo dessa substância que possui a capacidade de influenciar diversos fatores associados a qualidade de vida das pessoas.

Referências
BERG, Jeremy Mark; TYMOCZO, John; STRYER, Lubert. Integração do metabolismo. In: ______. Bioquímica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. cap. 27. P.816-824. 6 ed.

DINIZ, Danielle Guimarães Almeida; LIMA, Eliana Martins; ANTONIOSI FILHO, Nelson Roberto. Isotretinoína: perfis farmacológico, farmacocinético e analítico. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas. São Paulo, SP. vol. 38, n. 4, out./dez., 2002

KACHANI, Adriana Trejger; BRASILIANO, Silvia; HOCHGRAF, Patrícia Brufentrinker. The impact of alcohol consumption on weight gain. Rev. Psiq. Clín, São Paulo, SP, v. 35, n. 1, p. 21-24, set./dez. 2008.

SMITH, Colen; MARKS, Allan; LIEBERMAN, Michael. Metabolismo do Etanol. In: ______. Bioquímica Médica Básica de Marks. Porto Alegre: Artmed, 2007. cap. 25. P.458-71. 2 ed.

Texto elaborado pelo Acadêmico de Enfermagem Mateus Andrade e pelo Professor Dr. Éder Freire.

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