COMPREENDENDO A TUBERCULOSE DURANTE A GESTAÇÃO: CONSIDERAÇÕES PARA A SAÚDE MATERNO-INFANTIL

Tuberculose: definição e epidemiologia

A Tuberculose (TB) é uma doença infectocontagiosa que mais prevalece em extensão global. Continua sendo um relevante problema de saúde pública, pois se trata de uma das doenças infecciosas mais letais do mundo (WHO, 2021).

O Brasil se encontra na 20ª posição mundial de incidência de TB e da comorbidade TB/HIV (Cortez et al., 2021). Estima-se que, no ano de 2019, aproximadamente dez milhões de pessoas no mundo desenvolveram TB e cerca de 1,2 milhão morreram por causa da doença. Atrelado a isso, dentre os países com elevada carga para a TB, o Brasil está entre os 30 países da lista, dado como preferencial no controle da doença pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a fim de reduzir a incidência do agravo no país (Brasil, 2021).


Fonte: Google Imagens


Riscos da tuberculose não tratada durante a gestação

Quando associada à gravidez, a TB pode comprometer gravemente a saúde da mulher e do bebê. Tendo em vista que a evolução da doença em gestantes ocorre mais rapidamente do que em mulheres que não estão grávidas, a doença é considerada uma causa significativa de morbidade e mortalidade materna (Gai et al., 2021). Nesse sentido, entende-se que a TB na gestação é uma condição associada a fatores de risco que indicam a necessidade de encaminhamento da gestante para o pré-natal de alto risco.

Ademais, por ter sinais fisiológicos semelhantes aos da doença, como falta de ar, cansaço e fadiga, a gestação pode impossibilitar um diagnóstico precoce da TB (Nguyen et al., 2014), o que pode retardar o início do tratamento e favorecer o avanço da doença. Nestes casos, e especialmente em grávidas vivendo com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), podem haver sérias complicações obstétricas e perinatais (Gentahum et al., 2012).


Sintomas da tuberculose na gestante

No que diz respeito aos sinais de TB em mulheres grávidas, incluem-se principalmente a falta de apetite, redução do ganho de massa corporal, elevação da temperatura corporal e cansaço. Essas manifestações clínicas, muitas vezes, levam a atrasos no diagnóstico e no tratamento, pois a TB pode ter um início incomum durante a gestação, e essas mudanças fisiológicas são semelhantes no período gestacional (Fonseca et al., 2021). Além disso, a perda de massa corporal provocada pela TB pode ser disfarçada pelo aumento de massa comum na gestação, com 64,3% das mulheres grávidas não alcançando o ganho de massa esperado (Li et al., 2019).

Outras complicações durante a fase gestacional com TB são principalmente o desconforto respiratório, letargia, irritabilidade e hepatoesplenomegalia. Somado a isso, pode haver a incidência de aborto espontâneo, baixo crescimento fetal, pré-eclâmpsia, hemorragia pós-parto e parto prematuro oferecendo assim a possibilidade de danos e adversidades à gestante, ao feto e o acarretamento da tuberculose congênita e neonatal (Francis, 2015).


Tratamento da tuberculose durante a gestação

O tratamento da TB na gestação não é contra indicado, pois a doença pode gerar maiores riscos à gravidez, no entanto, devem ser observados alguns efeitos adversos aos envolvidos. Em relação a alguns medicamentos anti-TB neste período, são informados que os fármacos como, o Etambutol, Rifampicina, Isoniazida e a Terizidona mostram-se seguros e com efeito teratogênico conhecido, a Pirazinamida e o Ofloxacino/Levofloxacino provavelmente também são seguros, mas devem ser usados com cautela, já o uso de Aminoglicosídeos pode gerar dano auditivo no nervo craniano vestibulococlear e a Etionamida pode estimular náuseas e vômitos, são contraindicados na gestação (PIH, 2013).

As reações adversas mais comuns ao tratamento da TB com a rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol (RHZE) em geral são, mudança de coloração da urina, intolerância gástrica, alterações cutâneas, icterícia e artralgia, porém, podem surgir outras com menor incidência como, náuseas, vômitos, prurido, cefaleia e outros, além daqueles mais graves como crises convulsivas, choque e neurite óptica. Acerca disso, devem ser implantadas condutas que orientem o paciente sobre sintomatologia, dieta e horários de administração de medicamentos, mudança de esquema, elaboração de um tratamento sintomático ou a suspensão do fármaco de acordo com prescrição médica (Rabahi, et al., 2017). 


Pré-natal em gestantes diagnosticadas com TB

Estudos corroboram que mulheres gestantes que dispuseram de um acompanhamento pré-natal contínuo obtiveram maior percentual de cura em relação às não grávidas (Tonin, 2020). Os índices de TB têm crescido gradativamente durante a gestação em locais que há situação de pobreza e de grande prevalência da doença, devido a este avanço, é de suma importância a prestação de um serviço de saúde de qualidade com o acompanhamento destas gestantes, desde o pré-natal ao pós-parto. Sendo indispensável que haja durante a consulta de pré-natal o seu rastreamento (Brasil, 2017). Segundo as Recomendações da OMS sobre o atendimento pré-natal (APN), devem ser incluídas as intervenções de promoção, prevenção e detecção precoce de doenças como a Tuberculose, sendo considerada a prevalência de 100 casos a cada 100.000 habitantes (OMS, 2016). É proposto que, em todas as consultas do pré-natal seja realizada a triagem sistemática para TB, estabelecida com o critério de quatro sintomas: tosse, febre, sudorese noturna, e principalmente a perda de peso em gestantes (OMS, 2020). Deve ser disposto um projeto de diagnóstico, tratamento, assistência e gestão de apoio ao paciente, antes da realização da triagem, ainda, deve ser previsto o aumento de sua capacidade, prevendo o rastreio de casos decorrentes da TB em mulheres grávidas (OMS, 2022).

 

Tuberculose e amamentação

No que diz respeito à amamentação, não há contraindicações, desde que a mãe não tenha mastite tuberculosa. Contudo, é recomendável que ela utilize máscara cirúrgica ao amamentar e ao cuidar da criança, enquanto a baciloscopia do escarro continuar positiva (Brasil, 2019). Para mães em fase não-contagiante de tuberculose, cujo tratamento começou há mais de 3 semanas, não há restrições para a amamentação, sendo recomendado vacinar o bebê com BCG-ID ao nascer. Se o diagnóstico de tuberculose materna for feito após o início da amamentação, o lactente deve ser considerado potencialmente infectado e receber quimioprofilaxia. A amamentação deve continuar, pois o uso de medicamentos tuberculostáticos pela mãe não contraindica o aleitamento (Lamounier et al., 2004).


Coinfecção TB-HIV em mulheres grávidas

Em 2023, o Brasil registrou 80.012 casos de tuberculose (TB), posicionando o país entre os 30 com maior número de casos no mundo. A situação é ainda mais preocupante devido à alta taxa de coinfecção com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) (Brasil, 2024). Mulheres grávidas que têm TB não tratada e convivem com HIV enfrentam sérios riscos obstétricos e perinatais, como parto prematuro, baixo peso ao nascer e aumento da mortalidade neonatal. Portanto, a gravidade dessa coinfecção destaca a necessidade urgente de desenvolver e implementar estratégias eficazes para o diagnóstico e tratamento da tuberculose, especialmente em regiões com alta prevalência de HIV (Yilma et al., 2023; Getahun et al., 2012).



REFERÊNCIAS


BRASIL. Boletim Epidemiológico de Tuberculose 2021. Disponível em: file:///C:/Users/Public/Downloads/boletim_tuberculose_2021_internet.pdf>.


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BRASIL. Ministério da Saúde. Grupo Hospitalar Conceição. Tuberculose na atenção primária à saúde [Internet]. GHC. 4. ed. Porto Alegre; 2017. 


BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Recomendações para Controle de Tuberculose no Brasil. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. [Internet]; 2019.


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