Influência das mídias sociais e desenhos animados na personalidade das crianças


O nascimento de cada criança representa um grande desafio para todos aqueles que se responsabilizam pelo seu cuidado e pela sua educação. No contexto da era digital, as tecnologias de informação e comunicação vem alterando as relações sociais, de modo que repercute na maneira de brincar, interagir, conhecer a si, ao próximo e ao mundo e exercer sua autonomia.

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Cada dia mais, crianças e adolescentes dedicam boa parte do seu tempo ao uso de televisores, celulares, tablets ou computadores, como forma de preencher o período em que ficam em casa. Tanto é, que o relatório da Situação Mundial da Infância, elaborado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF no ano de 2017, mostra que 1 em cada 3 usuários da internet em todo o mundo tem menos de 18 anos de idade. No entanto, o uso desregrado dessas tecnologias produzidas para ter os pequenos como consumidores, pode trazer prejuízos físicos, psicológicos e na aprendizagem (MOURA; LEAL; PADILHA, 2012).

A infância é marcada por desenvolvimento e crescimento acelerado, sendo necessário vários estímulos diferentes para que o cérebro realize conexões em diferentes áreas e desenvolva habilidades para curto, médio e longo prazo. A personalidade é uma formação integral, construída com base nas relações sociais, englobam capacidades de aprendizagem e controle emocional, influenciando a maneira como cada um age no mundo. O amadurecimento da personalidade permite consciência de suas possibilidades e controle de comportamento (BISSOLI, 2014).

As experiências que a criança tem são responsáveis pela formação do autoconceito, que são características pessoais e sociais, atitudes, sentimentos e habilidades que cada pessoa constrói de si próprio e que repercute na autoimagem, autoestima e desenvolvimento social. Apesar da forma como as crianças desenvolvem e expressam o seu autoconceito ser diferente de criança para criança, por depender da idade, experiências e percepção sobre si mesmas, é comum a todas elas que o processo de autoidentidade inicie primeiramente pelo eu-corporal, através das emoções geradas pelo contato com objetos e pessoas. As experiências do mundo vão aos poucos se unindo a imagem do eu da criança (COLL; MARCHESI; PALÁCIOS, 2004; SANTOS, 2017).

O acesso a mídias digitais e desenhos animados estimulam bastante a visão e audição, mas restringem a criança de estímulos ao tato, paladar, olfato, da comunicação verbal e não verbal.Além disso, quando uma criança assiste a um desenho, filme ou jogo que transmite cenas de agressividade, violência, distorção da realidade ou soluções fantasiosas, ela pode entender e se identificar com a situação e o personagem, reproduzindo em forma de brincadeira e comportamentos negativos o que vê sendo veiculado através das cenas assistidas, assim tendem a representar em si e em seus colegas aquilo que assiste e identifica-se. Acreditando que de acordo com o que ela assistiu também pode fazer o mesmo, pois não houve consequências negativas, logo não haverá com ela (BISSOLI, 2014; OLIVEIRA; MOARAIS, 2016).

Além disso, o crescente número de visualizações de Vídeos com testagem de produtos e brinquedos recebidos por influenciadores de conteúdo digital através de parceiros de vendas, faz surgir uma visão de mundo voltada ao consumismo e fortalecimento do mundo capitalista. As crianças tendem a achar que é normal, aceitável e necessário, pois a visualização deste conteúdo é rápida, não mostra as consequências e não oferece espaço para reflexão crítica. Logo, quando a criança internaliza essas mensagens sem intervenção de um adulto, corre sério risco de não formarem seus próprios valores, dessa forma, serão as informações obtidas no material assistido que irão formá-las (SOUZA et al., 2017).

É certo que esses meios de telecomunicação não de um todo negativos. Existem Sites, aplicativos e desenhos que ajudam no desenvolvimento de habilidades artísticas, de raciocínio, lógica, leitura, democratiza o acesso à informação, à cultura e às artes. No entanto, o uso desregrado e excessivo estimula o sedentarismo, obesidade, distúrbios do sono e insônia, agressividade, alterações do humor, isolamento social, depressão, déficit de atenção, problemas de linguagem, problemas oculares, dor de cabeça, má postura, exposição a exploração e abuso virtual, cyberbullyng (LIMA, 2010; TAVARES, 2015).

O acesso ás mídias sociais e desenhos animados através dos equipamentos tecnológicos não podem atrapalhar a alimentação, o sono, a atividade física, os momentos de interação e brincadeiras em família, muito menos substituir a presença, atenção, diálogo e carinho dos pais e familiares. Surge então um grande empasse: Como tornar o uso de mídias sociais e desenhos animados mais saudável? Para isso, Santos (2017) e Simon et al. (2010) destacam como necessário:

1.    Reduzir o tempo de acesso das crianças a essas tecnologias, com um tempo de acesso fracionado ao longo do dia, estabelecendo momentos de descanso, locais e horários onde é proibido o uso (como nos quartos e durante as refeições) e principalmente, escolhendo um conteúdo que seja pedagogicamente responsável.
2.    Orientar ao uso da internet com menos riscos (Não compartilhar senhas, não conversar nem compartilhar fotos com desconhecidos)
3.    Acompanhar/monitorar o que elas acessam e assistem. Sem esquecer também, de desenvolver atividades que estimulem o movimento e o vínculo familiar.

É importante destacar ainda, que cabe à escola e aos pais estimular atividades de recreação que recuperem o dinamismo da infância e superem a mesmice sugerida pelos desenhos animados sem, entretanto, excluí-los enquanto possibilidade de construção lúcida. Também sendo função da instituição familiar escolar, levar a criança a pensar criticamente sobre as mensagens incutidas no que assiste e de que maneira se posicionar frente a essas mídias (PEREIRA; RUARO, 2009; RIBEIRO; BATISTA, 2010; SANTANA; FERREIRA, 2015; SIMON et al., 2010).

Referências:

BISSOLI, M.F. Desenvolvimento da personalidade da criança: o papel da educação infantil. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 19, n. 4, p. 587-597, out. 2014.

COLL, C.; MARCHESI, A.; PALÁCIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação. 2ªed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

LIMA, B.R. A influência da mídia no comportamento infantil. 2010. 41f. Monografia. Graduação em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, na faculdade de tecnologia e ciências sociaisaplicadas – Brasília, 2010.

MOURA, J.T.T.; LEAL, L.O.; PADILHA, K.D.S. A influência do desenho animado no processo sociocognitivo da criança. Campina Grande: REALIZE Editora, 2012.

OLIVEIRA, D.M.S.; MOARAIS, A. Conflitos interpessoais e desenho animado: Um estudo sobre os estilos de resolução predominantes. PsicolArgum. v.34, n. 8, p. 01-14.  jan. 2016

PEREIRA, M.C.; RUARO, L.M. Mídia e desenvolvimento infantil: influências do desenho animado na organização do brincar. EDUCARE, Paraná, v.50, n.1, p.3305-3316, out. 2009.

RIBEIRO, A.C.; BATISTA, A.J. A influência da mídia na criança / pré-adolescente e a educomunicação como mediadora desse contato. In: I Encontro de História da Mídia da Região Norte, Palmas, v. 1, n. 1, out. 2010.

SANTANA, A.M.; FERREIRA, L.G. A TV e a educação: um estudo sobre a influência dos desenhos animados nos valores morais da criança. Cadernos da Pedagogia, São Carlos, v.9, n.17, p. 2-18, jul 2015.

SANTOS, S.R.S. A influência dos desenhos animados na construção da subjetividade infantil. 2017. 44f. Monografia. Graduação em Psicologia da Faculdade de Educação e Meio Ambiente – Ariquemes, 2017.

SIMON, H.S. et al.A presença das mídias nas brincadeiras infantis – um estudo de caso. In: V Congresso Sulbrasileiro de Ciências do Esporte, Itajaí, v. 5, n. 1, 2010.

SOUZA, R.G. et al., Consumo Infantil: A Influência da Mídia no desejo de Compra das Crianças. In: XIV Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, Rio de Janeiro, v. 14, n.1, 2017.


TAVARES, S.M.S. A influência dos desenhos animados (d. a) no desenvolvimento da personalidade das crianças de seis a onze anos de idade. 2015. 24 f. Monografia. Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Vale do Acaraú - Horizonte, 2015.

UNICEF. Situação Mundial da Infância 2017: Crianças e adolescentes em um mundo digital. 2017. Disponível em:<http://www.crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/ publi/ unicef_sowc/sit_mund_inf_2017.pdf>. Acesso em 01 de set. de 2019.

Texto elaborado pela acadêmica do curso de graduação em Enfermagem, Francisca Patricia da Silva Lopes, sob orientação da Profª. Drª. Silvia Carla Conceição Massagli.

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