Cascata de Coagulação Sanguínea

Quando ocorre uma lesão do tecido, que cause a ruptura do endotélio, normalmente ocorre uma série de interações entre o sangue circulante e a parede do vaso lesionado para que haja a interrupção da perda sanguínea. A resposta imediata é a vaso-constrição, que reduz o fluxo de sangue temporariamente na área lesionada, seguida pela ativação das plaquetas sanguíneas e a adesão destas à parede do vaso no local da lesão formando um tampão plaquetário temporário. Por fim há ativação dos fatores de coagulação que formam o tampão hemostático.
A coagulação consiste numa série complexa de interações, onde a cada ativação de uma pro-enzima ela passa a ser substrato de outra enzima (ou complexo enzimático) da próxima reação. O termo “cascata” refere-se a essa sequência de reações (GUYTON & HALL, 2002). O coágulo é o resultado dessas inúmeras etapas nos fatores de coagulação, onde na etapa final uma proteína solúvel do plasma, o fibrinogênio, é convertida em fibrina (BOZZINI, 2004).       

Por convenção, os componentes da cascata de coagulação são designados por números romanos. Entretanto, essa numeração não reflete a ordem de sua ação e a adição do sufixo ‘a’ indica que o fator está na sua forma ativa. A cascata de coagulação é dividida em duas vias, a extrínseca e a intrínseca. A Via Extrínseca recebe esse nome por depender do Fator Tecidual, que é um componente extravascular. A coagulação tem inicio quando uma proteína de membrana, o Fator Tecidual (ou Tromboplastina) chega à corrente sanguínea em consequência da lesão do tecido, e forma um complexo com o Fator XII circulante. O complexo Fator Tecidual-VIIa converte proteoliticamente o zimogênio Fator X em Fator Xa. O Fator Xa, então, converte a Protrombina (Fator II) em Trombina, que posteriormente cliva o Fibrinogênio para formar Fibrina. Essa via é rapidamente controlada pela ação de uma proteína que inibe o Fator VII, desde que o Fator Xa já tenha sido produzido (VOET, 2014).

A Via Intrínseca é assim denominada, pois todos seus componentes são intravasculares, essa via tem papel fundamental na continuação da ativação da Trombina. Ela é estimulada pelo complexo Fator Tecidual-VIIa, que converte o Fator IX na sua forma ativa, o Fator IXa. A Trombina gerada ativa diversos componentes da via intrínseca, incluindo o Fator XI, uma protease que ativa o Fator IX, para manter a coagulação na ausência do Fator Tecidual ou do Fator VIIa. A Trombina também ativa os fatores V e VIII. O Fator Va promove a ativação da Protrobina pelo Fator Xa inúmeras vezes, assim como o Fator VIIIa promove a ativação do Fator X pelo o Fator IXa. Dessa maneira, a Trombina promove sua própria ativação por um mecanismo de feedback positivo. O Fator XIIIa, que também é ativado pela Trombina, é o fator responsável pela formação das ligações cruzadas nas moléculas de fibrina que formam uma rede de fibrina mais forte (VOET, 2014).

Os distúrbios de sangramentos geralmente estão associados aos fatores de coagulação sanguínea ou aos seus cofatores. Esses distúrbios podem ser congênitos, como é o caso das hemofilias que são doenças genéticas hereditárias, onde a baixa atividade dos Fatores VIII (hemofilia A) e IX (hemofilia B) prolonga o tempo de coagulação, dificultando assim o controle desse sangramento, ou podem ser adquiridos como, por exemplo, os resultantes da má absorção da vitamina K, que é um cofator para a produção de vários fatores como VII, IX, X e a Protrombina, que possui papel fundamental na produção de fibrina, principal componente do coágulo. O uso de anticoagulantes orais, muito indicados no caso de pessoas com histórico de problemas cardiovasculares, também podem levar a distúrbios de sangramentos, pois esses fármacos são antagonistas da vitamina K, reduzindo assim a síntese hepática de fatores de coagulação e consequentemente causando danos à coagulação.

Referências:
BOZZINI C.E; MOLINAS F. Hemostasia. In: HOUSSAY A.B; CIRGOLANI H.E. Fisiologia Humana de Houssay, 7 ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

GUYTON A.C; HALL J.E. Tratado de Fisiologia Médica, 10 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

VOET, D; VOET, J; PRATT, C. W. Fundamentos de bioquímica: a vida em nível molecular.  4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

BAYNES, J, W; DOMINICZAK, M, H. Bioquímica Médica. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011.

Texto elaborado pela Acadêmica de Enfermagem Joyce de Souza e pelo Professor Dr. Éder Freire.

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