DISFUNÇÃO ERÉTIL E DOENÇAS CARDIOVASCULARES: HÁBITOS DE VIDA QUE FAZEM A DIFERENÇA
A disfunção erétil (DE) é uma condição clínica definida pela dificuldade persistente em obter ou manter uma ereção suficiente para a atividade sexual. Embora comumente associada a fatores psicológicos ou hormonais, evidências crescentes apontam que a DE também pode ser um importante marcador precoce de doenças cardiovasculares (DCV). Ambas compartilham mecanismos fisiopatológicos comuns, como disfunção endotelial, aterosclerose e inflamação sistêmica, o que reforça a necessidade de uma abordagem integrada para prevenção e tratamento (Araújo et al., 2017).
Fonte: Google ImagensEstudos recentes têm destacado a forte associação entre DE e eventos cardiovasculares. Uma revisão sistemática com meta-análise demonstrou que homens com disfunção erétil apresentam risco significativamente maior de infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e mortalidade cardiovascular, quando comparados com indivíduos sem DE. Os autores sugerem que a DE deve ser considerada um sinal clínico de comprometimento vascular sistêmico e, portanto, uma oportunidade para intervenção precoce (Mostafaei et al., 2021).
Dentre os fatores de risco modificáveis, o tabagismo se destaca como um dos mais relevantes. A exposição contínua às toxinas presentes no cigarro promove lesões endoteliais, estresse oxidativo e inflamação, contribuindo para o estreitamento dos vasos sanguíneos e dificultando a perfusão adequada do tecido peniano. A literatura científica é consistente ao apontar o cigarro como fator de risco independente tanto para DE quanto para DCV (Verywell health, 2021).
Por outro lado, a atividade física regular tem efeito protetor documentado. Em um estudo transversal com mais de 20 mil homens brasileiros, observou-se que níveis moderados a altos de atividade física estavam associados à redução de mais de 20% na prevalência de disfunção erétil. A prática de exercícios físicos favorece o tônus vascular, melhora a função endotelial, regula os níveis hormonais e reduz o impacto de outros fatores de risco como a obesidade e a hipertensão arterial (Pitta et al., 2022).
Além disso, a reabilitação cardíaca, tradicionalmente utilizada para pacientes com doença arterial coronariana, tem se mostrado eficaz também na melhora da função erétil. Um estudo recente de revisão sistemática e meta-análise evidenciou que a reabilitação cardiovascular, por meio de programas supervisionados de exercícios, melhora significativamente a qualidade da ereção e a satisfação sexual em homens com histórico de DCV (Wang et al., 2024).
É importante ressaltar que outros hábitos de vida também exercem papel fundamental na prevenção dessas condições, como a alimentação saudável, o controle do estresse e a redução ou abstinência do consumo de álcool. A disfunção erétil, portanto, deve ser compreendida não apenas como um problema sexual, mas como uma possível manifestação precoce de doenças mais graves, que afetam diretamente a saúde cardiovascular.
A integração de ações preventivas, com foco em mudanças no estilo de vida, representa uma estratégia de alto impacto na redução da morbimortalidade por DCV e na melhora da qualidade de vida sexual masculina. A identificação precoce da DE deve ser vista como uma oportunidade valiosa para avaliação cardiovascular e intervenção preventiva.
Referências
ARAÚJO, A.B. et al. Relation between smoking and erectile dysfunction: results from the Massachusetts Male Aging Study. American Journal of Epidemiology, v. 160, n. 7, p. 633–640, 2017.
MOSTAFAEI, H. et al. Association of erectile dysfunction and cardiovascular disease: an umbrella review of systematic reviews and meta‐analyses. BJU International, [S.l.], v. 128, n. 1, p. 3–11, 2021. DOI: https://doi.org/10.1111/bju.15313.
PITTA, R. M. et al. The association between physical activity and erectile dysfunction: A cross-sectional study in 20,789 Brazilian men. PLOS ONE, [S.l.], v. 17, n. 11, p. e0276963, 2022. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0276963.
WANG, J. et al. Impact of cardiac rehabilitation on erectile dysfunction in cardiovascular patients: a systematic review and meta-analysis. International Journal of Impotence Research, [S.l.], v. 36, n. 1, p. 45–53, 2024. DOI: https://doi.org/10.1038/s41443-023-00789-2.
VERYWELL HEALTH. Can Nicotine Cause Erectile Dysfunction? 2021. Disponível em: https://www.verywellhealth.com/nicotine-and-erectile-dysfunction-5198913.
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