Perda auditiva em pessoas idosas e o uso do Aparelho de Amplificação Sonora Individual

O mundo hodierno vem passando por um processo de envelhecimento populacional, sendo marcado pela inversão da pirâmide etária, decorrente de diversos fatores, como a redução das taxas de fecundidade e mortalidade e o aumento da expectativa de vida (IBGE, 2022). Realidade também no âmbito brasileiro, onde 15% da sua população é composta por pessoas com idade acima de 60 anos, com expectativa para 2077 para que 38% da população seja compreendia por pessoas idosas (WHO, 2022).



Assim, destaca-se que o envelhecimento é um processo natural a todo ser humano, sendo dinâmico, único, heterogêneo e irreversível, caracterizado por alterações nos âmbitos biológicos, psicológicos e sociais, que ampliam o risco de declínio das capacidades física e mental, podendo ser progressivo e se manifestar como dificuldades motoras, quedas, incontinência urinária e fecal, declínio cognitivo, diminuição ou perda da acuidade visual e auditiva (Cochar-Soares; Delinocente; Dati, 2021).

Dentre essas manifestações, a audição se configura como o primeiro sentido humano a sofrer alterações com o passar dos anos, influenciado por fatores diversos, que reduzem a acuidade auditiva, como a ação do tempo associada à exposição a ruídos intensos e às doenças no geral, que irão contribuir com a piora do quadro (Venites, 2021).

Além disso, vale destacar algumas dessas alterações anatômicas e fisiológicas relacionadas com a audição, como a atrofia de nervos auditivos, perda de células ciliadas, diminuição na sensibilidade auditiva e comprometimento na recepção dos sons, que irão acarretar a diminuição da capacidade de compreender a fala e diversas consequências na realização de atividades do dia a dia, afetando a qualidade de vida das pessoas idosas (Pedrão, 2016; Calhoun; Eibling, 2012).

Essa redução na habilidade de compreensão da fala resulta no comprometimento da comunicação, o que gera tensão, ansiedade e grande possibilidade de frustração na pessoa idosa, fazendo com que elas, muitas vezes, prefiram se isolar, evitar participar da realização de atividades de vida diária e quaisquer interações com amigos e familiares, resultando no sentimento de solidão (Luz, 2024). Assim, a diminuição da acuidade auditiva está intrinsecamente ligada à depressão, além de sua associação à outras condições, como déficit cognitivo e delirium (Freitas; Py, 2022).

Diante disso, existem alguns dispositivos terapêuticos capazes de solucionar ou minimizar a dificuldade de comunicação da pessoa idosa com perda auditiva, podendo-se citar o Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI) como principal recurso, que auxilia na manutenção da capacidade auditiva comprometida, promovendo qualidade de vida e inserção social às pessoas com perda auditiva (Fonseca; Dutra; Ferreira, 2021).

Apesar da existência de diversos recursos terapêuticos que auxiliam na manutenção das habilidades auditivas, as taxas de adesão são baixas devido a fatores como a má escolha do tipo de AASI, questões relacionadas ao usuário, como dificuldade para manuseio e desconforto ao usar os aparelhos, além do estigma enraizado na sociedade (Neves, 2024). Ademais, muitas pessoas idosas optam por não procurar os serviços de saúde por acreditarem que a perda auditiva é inerente ao processo de envelhecimento e não há medidas para solucionar ou minimizar o problema (Venites, 2021).

Diante do exposto, pode-se observar a necessidade da realização de ações de educação em saúde com o público, compartilhando informações acerca da importância da manutenção da capacidade auditiva e os recursos e alternativas disponíveis para tal, com vistas a conscientização e mudanças de conduta para melhora da qualidade de vida das pessoas idosas com perda auditiva e prevenção de agravos.

Além disso, pode-se citar as tecnologias cuidativo-educacionais como fortes aliadas no processo de cuidado e na realização de ações educativas em saúde, sendo de suma importância o desenvolvimento de tais instrumentos para proporcionar uma maior adesão aos aparelhos de AASI, além de permitir a transmissão de informações de forma dinâmica e participativa, gerando maior interesse e engajamento no público-alvo (Nietsche; Salbego; Lacerda, 2021).

 

REFERÊNCIAS:

CALHOUN, K.; EIBLING, D. E. Geriatric Otolaryngology. 1st edition. New York: Taylor and Francis Group, 2012.

COCHAR-SOARES, N.; DELINOCENTE, M. L. B.; DATI, L. M. M. Fisiologia do envelhecimento: da plasticidade às consequências cognitivas. Revista Neurociências, [S.L.], v. 29, p. 1-28, 2021.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. População cresce, mas número de pessoas com menos de 30 anos cai 5,4% de 2012 a 2021. Rio de Janeiro. 2022. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/34438-populacao-cresce-mas-numero-de-pessoas-com-menos-de-30-anos-cai-5-4-de-2012-a-2021. Acesso em: 10 abr. 2025.

FREITAS, E. V.; PY, L. Tratado de geriatria e gerontologia (5a. ed.). Rio de Janeiro: Grupo Gen -Guanabara Koogan, 2022.

LUZ, V. B. Deficiência Auditiva, Restrição de participação e cognição: um estudo em idosos. Tese (Doutorado em Distúrbios da Comunicação Humana) – Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2024.

NEVES, F. D. M. Presbiacusia: Impacto das Opções Terapêuticas na Qualidade de Vida. 2024. Dissertação de Mestrado (Mestrado Integrado em Medicina) – Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra, Portugal, 2024.

NIETSCHE, E. A.; SALBEGO, C.; LACERDA, M. R. Práxis e desenvolvimento tecnológico na enfermagem. Revista de Enfermagem da UFSM, v. 11, p. e1-e1, 2021.

PEDRÃO, R. A. A. O Idoso e os Órgãos dos sentidos. Tratado de Geriatria e Gerontologia, Guanabara Koogan, 2016.

VENITES, J. Perda auditiva no idoso: é tempo de desmistificar e reabilitar. Aptare, e. 39, p. 20-23, 2021.

WHOa. World Health Organization. MATERNAL, NEWBORN, CHILD AND ADOLESCENT HEALTH AND AGEING. 2022. Disponível em: https://platform.who.int/data/maternal-newborn-child-adolescentageing/indicator-explorer-new/mca/percentage-of-total-population-aged-60- years-or-over. Acesso em: 10 abr. 2025.


Eixo Temático: Tecnologias cuidativo-educacionais para pessoas idosas.

Texto produzido por Silvana Vidal Oliveira de Assis, Maria Rafaela Dias de Freitas, Iasmin Oliveira Silva e Maria Vitória Barros Pereira, sob orientação da Professora Dra. Fabiana Ferraz Queiroga Freitas.

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