A formação dos profissionais de saúde e os impactos na contemporaneidade

O processo de formação dos profissionais de saúde tem em vista o desenvolvimento de competências humanísticas, críticas e reflexivas, pautadas no rigor científico e nos princípios éticos de cada profissão. Capaz de intervir sobre os determinantes do processo saúde-doença-cuidado da sua realidade, estes profissionais objetivam adquirir competências para promover a saúde dos seres humanos de forma integral, considerando a singularidade e a multidimensionalidade que os abrangem.
No entanto, para Fourez (1995), quando se trata de estudar sociologicamente a medicina científica, percebe-se que o arranjo dessa área está atrelado a paradigmas que enfatizam a intervenção, o diagnóstico, o microscópio, e o biológico, em detrimento de fatores relacionados ao meio, à higiene, e aos valores sociais, culturais e históricos.

Sendo assim, o ensino desses profissionais é desenvolvido em um contexto de acentuada hiperespecialização, resultando em serviços de saúde organizados na lógica do modelo biomédico de atenção à saúde, o que evidencia a predominância do modelo tradicional de assistência à saúde, caracterizado pela exacerbação de tecnologias tecnicistas.

Logo, o processo de ensino e aprendizagem tem se restringido, muitas vezes, à reprodução do conhecimento, no qual o docente assume um papel de mero transmissor de conteúdos, o que Paulo Freire chama de “educação bancária”. Ao passo que, ao discente, compete a retenção e reprodução dos mesmos em uma atitude passiva, receptiva e alienada, tornando-se um simples expectador, sem a necessária crítica e reflexão.

Nesta perspectiva, os currículos enfatizam metodologias tradicionais que norteiam atividades hospitalocêntricas e tecnicistas, não abrangendo o processo de formação adequado para o desenvolvimento de aptidões humanísticas preconizadas pela Política Nacional de Humanização da Saúde. Para Paim et al (2011), esta política reforça o direito dos pacientes e diminui os casos de discriminação, porém são necessárias novas políticas para garantir uma melhor qualidade de cuidados, segurança e direitos nos estabelecimentos de saúde brasileiros.

Para romper este paradigma, o educador assume o papel de agente de mudanças, devendo apresentar-se como um facilitador da relação aluno e conhecimento, fomentando práticas construtivistas que busquem o desenvolvimento de uma relação dialética entre as competências humanísticas e científicas. 

Esta demanda se torna relevante à medida que as fragilidades presentes na formação refletem-se na assistência prestada pelos serviços de saúde, onde nota-se a presença de profissionais insensíveis e desqualificados para atender a todas as necessidades da população atendida. 

Estas limitações poderão ser sanadas por meio da construção de novos modelos de formação de pessoas que fomentem determinadas competências, tais como trabalho em equipe, criatividade, autonomia, resolutividade, e compromisso, as quais são essenciais para a prestação de uma assistência de saúde eficaz.

Referências

1. FOUREZ, Gérard. Perspectivas sócio-históricas sobre a ciência moderna. A construção das ciências: introdução à filosofia e a ética das ciências. São Paulo. Editora da Universidade Estadual Paulista, 1995, p. 155-177.
2. PAIM, Jairnilson; TRAVASSOS, Claudia; ALMEIDA, Célia; BAHIA, Lígia; MACINKO, James. O sistema de saúde brasileiro: história, avanços e desafios. Lance, v. 377, n. 9779, p. 11-31, 2011.

Texto elaborado pela Acadêmica de Enfermagem Paloma Gurgel e pelo Professor Me. Marcelo Costa

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