Saúde do homem: desafios e dificuldades na Atenção Básica

A forma como a rede de atenção à saúde no Brasil vem se estruturando demonstra que a maior parcela do atendimento de Atenção Básica privilegia grupos populacionais considerados mais vulneráveis, por meio de atividades programáticas direcionadas para a saúde da mulher, da criança e do idoso, pouco favorecendo ações à saúde do homem. Nota-se incongruência quando se avaliam os programas guiados para prevenção e campanhas de autocuidado, as quais são direcionadas quase de que forma exclusiva para as categorias de usuários supracitados (SILVA et al. 2012).
Com vistas a diminuir essas disparidades, houve a criação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), uma estratégia para melhorar à atenção primária ao gênero masculino, baseada em cinco eixos temáticos: acesso e acolhimento, saúde sexual e reprodutiva, paternidade e cuidado, doenças prevalentes na população masculina e prevenção de violências e acidentes (BRASIL, 2008).

A proposição dessa política visa qualificar a atenção à saúde da população masculina na perspectiva de linhas de cuidado que resguardem a integralidade da atenção. O reconhecimento de que a população masculina acessa o sistema de saúde por meio da atenção especializada requer mecanismos de fortalecimento e qualificação da atenção primária, para que a atenção à saúde não se restrinja à recuperação, garantindo, sobretudo, a promoção da saúde e a prevenção a agravos evitáveis (BRASIL, 2008).

Mesmo com a criação dessa política, não há comprovação de uma mudança significativa no Sistema Único de Saúde (SUS), pois são vários os outros fatores que interferem e influenciam na atenção e no acolhimento masculino. Entre eles, há o próprio pensamento do homem: a visão estigmatizada de procurar atendimento de saúde. Há rejeição e negação da idéia de adoecer, ou mesmo da própria doença, e um receio da procura de atendimento, talvez justificado por uma visão androcêntrica de que apenas as mulheres devem procurar atendimento de saúde.

Além do mais, o atendimento nas unidades de saúde geralmente é incompatível com seu horário, visto que muitos trabalham em horário comercial, o que dificulta e muito à procura por atendimento.

Outro empecilho, é que a estrutura física onde funcionam as unidades de saúde são geralmente voltadas para a atenção da saúde da mulher e da criança, deixando de lado à atenção à população masculina. Somado a isso, os profissionais da área de saúde não têm uma abordagem rigorosa acerca de conteúdos técnico-científicos que fomentem uma assistência integral que atenda às complexidades relacionadas às questões de gênero, o que possibilitaria desconstruir certos estigmas e propiciar uma atenção mais adequada ao homem (SILVA et al. 2012).

A desconstrução desses estigmas, melhor estruturação das unidades de atenção básica, a adaptação de horários, entre outras melhorias poderiam ser aplicadas em conjunto com as demais ações da PNAISH para assim se consolidar uma atenção de qualidade à saúde do homem, e reduzir os desafios e dificuldades para chegar até ela.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: princípios e diretrizes. Brasília(DF); 2008
SILVA, P. A. S. et al. A saúde do homem na visão dos enfermeiros de uma unidade básica de saúde. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 16, n. 3, Set. 2012.

Texto elaborado pela Acadêmico de Enfermagem Bruno Silva e pelo Professor Me. Marcelo Costa

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