A deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (g6pd): um agravo que acomete a população brasileira afrodescendente
Historicamente
nos anos 50, descobriu-se que uma variante instável
da enzima glicose-6 fosfato desidrogenase (G6PD) era a causa de anemia
hemolítica em homens negros sensíveis à droga antimalárica primaquina. Após
esta descoberta 150 variantes de glicose-6fosfato desidrogenase foram
identificadas. E tais variantes resultam de mutações que afetam o código
genético para sequência de aminoácidos da glicose-6 fosfato desidrogenase. Em
algumas variantes a atividade enzimática é muito deficiente (BEUTLER, 1994; FARIA et al, 2016).
A variante Mediterrânea está incluída na classe II e apresenta uma mobilidade eletroforética semelhante à da enzima normal (G6PD B), protagonizando uma deficiência enzimática mais severa do que a proporcionada pela G6PD Africana (FARIA et al, 2016).
(FONTE: Fonte: https://mail.google.com/mail/u/0/?ui=2&ik=2e29da6696&view=att&th=15e73e6e71a4fc39&attid=0.1&disp=safe&realattid=f_j7gz4or80&zw) |
A variante Mediterrânea está incluída na classe II e apresenta uma mobilidade eletroforética semelhante à da enzima normal (G6PD B), protagonizando uma deficiência enzimática mais severa do que a proporcionada pela G6PD Africana (FARIA et al, 2016).
De acordo com a literatura a G6PD é uma enzima citoplasmática que é codificada
por um gene localizado na região telomérica do braço longo do cromossomo sexual
X (banda Xq28), constituído por 13 éxons e 12 íntrons (MEHTA, 2000).
A
G6PD desempenha função essencial no metabolismo da hemácia, tanto na obtenção
de energia a partir da glicose, quanto na sua proteção contra agentes
oxidantes. A G6PD catalisa a primeira reação da Via das Pentoses Fosfato, na
qual a glicose-6-fosfato é oxidada a 6-fosfogluconolactona com a redução
concomitante de NADP a NADPH. Portanto, é essencial na proteção da hemácia
contra a ação de oxidantes por reduzir a glutationa (SOARES et al, 2013).
Este
é o defeito enzimático mais comum da espécie humana, afetando mais de 400
milhões de pessoas em todo o mundo e sendo encontrado em muitas populações e
com maior frequência entre negros africanos e em mediterrâneos (FARIA et al, 2016).
A
deficiência da G6PD acarreta .um defeito
enzimático das hemácias que pode causar episódios de hemólise aguda, ou anemia
hemolítica crônica, ou ainda ser assintomático, o que ocorre maioria dos
afetados (FARIA et al, 2016).
Como citado
acima, a maioria dos indivíduos deficientes apresenta-se inteiramente
assintomática e os indivíduos portadores desenvolvem sintomas apenas quando
expostos a situações onde há uma condição de estresse e mesmo não sendo comuns
episódios de crise hemolítica no país, causada por deficiência de G6PD, o
portador deve estar ciente de que esta é uma possibilidade (SILVA et al, 2006).
A síndrome
hemolítica aguda e intensa é, geralmente, desencadeada quando expostos a alguns
fatores do meio ambiente, como a naftalina e os nitritos voláteis ou,
principalmente, quando fazem uso de medicamentos tais como analgésicos,
antipiréticos, antimaláricos, antibacterianos sulfonamídicos e sulfônicos,
entre outros, podendo manifestar hemólise de graus variáveis ou pela ingestão
de determinados alimentos que possibilitem a formação do grupo sulfidrila como
feijão fava (favismo), ervilhas, corantes etc. Entretanto, os fármacos
constituem os principais agentes que desencadeiam crises hemolíticas nos
deficientes de G6PD (SARDINHA, 2009; SOARES
et al, 2013).
A hemólise aguda
se manifesta clinicamente por fadiga, dor lombar, anemia e icterícia. Em
análises pode ser indicada por um aumento dos marcadores de hemólise:
bilirrubina não conjugada, desidrogenase láctica e reticulócitos (ZAGO, 2001).
O diagnóstico da
deficiência de G6PD é feito pela demonstração da atividade diminuída ou ausente
da enzima. Há vários métodos qualitativos que se baseiam na produção de NADPH
(por fluorescência ou por redução da metemoglobina). O diagnóstico de certeza
depende da demonstração de baixa atividade enzimática medida quantitativamente
por espectrofotometria (ZAGO, 2001; SARDINHA, 2009).
De um modo
geral, a maioria dos serviços de hematologia e os laboratórios clínicos são
capacitados para realizar um dos testes qualitativos para identificação da
deficiência de G6PD. Já a dosagem quantitativa enzimática é realizada apenas
por alguns laboratórios no país, mas em geral a determinação qualitativa é
suficiente para identificar os portadores (CASTRO, 2009).
Cabe destacar
que estudos cada vez mais revelam que o grupo étnico negro apresenta maior
prevalência da deficiência de G6PD (7,4%) e a segunda maior prevalência ocorre entre
indivíduos de cor parda (6%). Outros autores corroboram com a maior prevalência
da deficiência de G6PD entre os indivíduos de etnia negra (SILVA et al, 2006 ).
A Política de
Saúde da População Negra no Brasil enfatiza que existem doenças e agravos
prevalentes na população negra, dentre eles
os geneticamente determinados – tal qual a deficiência de glicose 6-fosfato
desidrogenase (G6PD), necessitando assim de uma abordagem específica sob pena
de se inviabilizar a promoção da eqüidade em saúde no país (ZAGO, 2001).
O portador deve
estar ciente de que esta é uma possibilidade e informar ao médico sempre que
vai iniciar uma nova medicação. Os médicos devem estar atentos sobre esta associação
e procurar excluir a deficiência de G6PD em pacientes que se apresentem com
quadro de hemólise inexplicada. A possibilidade de deficiência deve também ser
considerada em uma família em que um recém-nascido do sexo masculino apresente
icterícia neonatal intensa ou prolongada (ZAGO, 2001).
Portanto, faz se
necessário que se aborde esta deficiência entre as populações afrodescendentes,
ressaltando a importância de prestar orientação a fim de prevenir efeitos
secundários à saúde dos indivíduos.
Referências
BEUTLER, E. G6PD Deficiency.
Blood Dec 1994, 1;84(11):3613-36. Disponível em: <http://www.bloodjournal.org/content/84/11/3613.long?sso-checked=true>. Acesso em: 05
set.2017
CASTRO, S.M. Aspectos laboratoriais do diagnóstico da deficiência de
Glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD). Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Tese, 2009. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/7444/000544647.pdf>.Acesso em : 07
set.2017
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Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10916676 > .Acesso em : 09 set.2017.
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Medicina Tropical do Amazonas. Manaus – AM: UEA; FMTAM, 2009. Disponível
em: <http://www.pos.uea.edu.br/data/area/dissertacao/download/4-4.pdf>Acesso em: 05
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SILVA, R. T.;
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07 set.2017.
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In: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Manual de doenças
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05 set.2017.
Texto elaborado pelos Acadêmicos de Enfermagem Isadora Roberta, Pedro Tiago, Francley Gonçalves, Enfermeiro Rubens Félix e pelo Prof. Dr. Eder Freire.
Texto elaborado pelos Acadêmicos de Enfermagem Isadora Roberta, Pedro Tiago, Francley Gonçalves, Enfermeiro Rubens Félix e pelo Prof. Dr. Eder Freire.
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