Mudanças no diagnóstico da infecção latente pelo mycobacterium tuberculosis (ILTB)
A infecção latente pelo Mycobacterium tuberculosis (ILTB) ocorre quando a infecção é
controlada pelo sistema imune do hospedeiro, ou seja, o bacilo entra em estado
de latência no organismo do indivíduo sem que haja a manifestação de sintomas.
Estima-se que um terço da população esteja infectada pelo Mycobacterium
tuberculosis, atuando como reservatórios para a replicação do bacilo, estes,
podem ser ativados por uma queda na imunidade celular, passando a ser
denominada tuberculose pós primária (Brasil, 2019).
Tendo em vista que a tuberculose (TB) é um grave
problema de saúde pública, diagnosticar e tratar a ILTB é fundamental para que
os bacilos em estado de latência não sejam ativados, impossibilitando desta
forma, a sua transmissão. Sendo assim, o Ministério da Saúde através do Plano
Nacional pelo Fim da Tuberculose, determinou que uma das suas ações
prioritárias seria focar no diagnóstico precoce e tratamento da ILTB como forma
de diminuir a incidência de tuberculose ativa (WHO, 2022).
Por muitos anos, a prova tuberculínica (PT) foi o
único método de diagnóstico amplamente utilizado para diagnosticar casos de
ILTB, tendo seu uso datado desde o século XX. Foi somente em 2020 pela portaria
sctie/ms nº 50, de 11 de novembro de 2020 que houve a incorporação ao SUS do
teste de liberação de interferon-gama (interferon gamma release assay - IGRA)
comumente chamado de teste IGRA (Brasil, 2020).
A implantação do teste IGRA beneficia
públicos alvos com condições distintas, como: Crianças com idade maior ou igual
a 2 anos e menor que 10 anos em casos de terem contatos com casos de TB ativa,
pessoas em uso de drogas imunossupressoras, como em tratamento de neoplasias,
pessoas vivendo com HIV e candidatos a transplante de células troncos (Brasil,
2023). O
IGRA, mede através das células T a liberação interferon-γ (IFN-γ) após serem
estimuladas por antígenos sintetizados ou purificados excretado pelo bacilo.
Temos duas técnicas que são amplamente utilizadas e comercializadas para a
realização do teste IGRA, no qual, a diferença, está apenas no método aplicado,
no Brasil apenas o QuantiFERON-TB Gold Plus® (QTF) é registrado, pois, foi
considerado o custo-benefício associado ao método (Siqueira; Oréfice, 2019).
O
teste QTF é realizado coletando o sangue heparinizado e o armazenando em quatro
tubos: tubo de nill, tubo mitogen, tubo TB1 e tubo TB2 nos quais são incubados
numa temperatura de 37° em um tempo de 16 a 24 horas, sendo posteriormente
centrifugados para adquirir o plasma e terem os níveis de interferon-gama
(IFN-γ) mensurados pelo teste ELISA (Brasil, 2022).
O
teste IGRA quando comparado a prova
tuberculínica apresenta maiores benefícios, principalmente por ter maior
especificidade (95%). Além disso, o IGRA não tem seus resultados afetados em
decorrência da vacinação pela BCG, pois, as proteínas ESAT-6, CFP-10 E TB.7.7
que são responsáveis por promoverem uma resposta imune no teste IGRA são
ausentes em todas as espécies de BCG. Por não ser necessário o retorno do
paciente para a leitura do teste, também promove maior adesão ao diagnóstico e
consequentemente ao tratamento precoce.
Porém, embora, o teste IGRA, apresente
maiores benefícios em detrimento da prova tuberculínica (PT), as diretrizes
internacionais sugerem o uso de ambos, concluindo que o teste IGRA é uma
alternativa a PT ou pode ser utilizada junto a ela, principalmente nas
condições em que ela se sobressai (Siqueira; Oréfice, 2019).
Tendo em vista que o diagnóstico precoce é uma forma importante de prevenir que os bacilos em estado de latência no organismo do indivíduo sejam ativados produzindo a tuberculose ativa, é importante investir nesta perspectiva afim de diminuir os riscos associados a ela, sendo necessário que os métodos diagnósticos sejam mais difundidos para a população e que mais estudos sejam realizados para atestar os resultados trazidos por eles.
REFERÊNCIAS
Brasil.
Ministério da Saúde. Secretaria de
Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções
Sexualmente Transmissíveis. Protocolo de vigilância da infecção latente pelo
Mycobacterium tuberculosis. 2° ed. Brasília, Ministério da Saúde, 2022.
Brasil, Ministério da Saúde. Ampliação de uso do Teste de liberação de
interferon Gama (IGRA) para detecção de infecção latente pelo Mycobacterium
tuberculosis em pacientes com doenças inflamatórias imunomediadas ou receptores
de transplantes de órgãos sólidos. Brasília, DF: Ministério da Saúde.
Disponível em: 20220919_relatorio_cp_teste_igra_para_iltb_pacientes_diim_ou_receptores_orgaos_solidos_64_2022.pdf
(www.gov.br).
Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência,
Tecnologia e Insumos Estratégicos em Saúde. Portaria n° 50. Diário Oficial da
União no 217; 2020. Disponível em: http://conitec.gov.br/images/Relatorios/Portaria/2020/20201113_Portaria_SCTIE_50.pdf
Brasil. Ministério da Saúde. NOTA INFORMATIVA Nº 2/2022-CGDR/DCCI/SVS/MS de 02 de fevereiro de 2022. Recomendações para utilização do teste de liberação de interferon-gama (IGRA) para o diagnóstico laboratorial da Infecção Latente pelo Mycobacterium tuberculosis (ILTB). Brasília, 2022.
SIQUEIRA, Rubens Camargo; ORÉFICE, Fernando. Potencial do teste IGRA
(Interferon Gama Release Assay) para o diagnóstico de tuberculose ocular:
Revisão e análise Comparativa com o teste tuberculínico cutâneo (PPD) Revista Brasileira de Oftalmologia, v. 78, n. 3, p. 202-09, 2019.
World
Health Organization. Global tuberculosis report 2022 [Internet]. Geneva: World
Health Organization; 2022. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/346387
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