USO DA POLIQUIMIOTERAPIA PARA O TRATAMENTO DA HANSENÍASE EM GESTANTES

A hanseníase, causada pelo Mycobacterium leprae, possui progressão lenta, levando cerca de 14 dias para ocorrer a divisão celular bacteriana e, sendo primordialmente neurológica, possui sintomas facilmente confundidos com outras doenças e são constantemente negligenciados. Dessa forma, torna-se possível o diagnóstico de gestantes com hanseníase.


Fonte: imagem de autoria própria, construída com o auxílio da plataforma canva

Entre os anos de 2018 e 2021 foram notificados cerca de 4947 casos de gestantes diagnosticadas com a doença no Brasil (Gomes et al., 2021) indicando fragilidades no rastreio precoce da hanseníase o que pode trazer implicações negativas para o desenvolvimento intrauterino do bebê.

A prematuridade e o baixo peso ao nascer estão entre as principais consequências acometidas aos recém-nascidos de mulheres que receberam o diagnóstico da hanseníase durante a gestação (Brasil, 2020). A gestante, por sua vez, está mais exposta ao agravamento ou à recidiva da doença devido a imunossupressão fisiológica à gravidez no período que compreende o terceiro trimestre e a 12° semana do puerpério (Luz et al., 2013; Amorim et al., 2022). Além disso, a anemia comumente encontrada em gestantes pode ser agravada pelo uso da Dapsona (Ozturk, 2016).

Atualmente, o tratamento da Hanseníase, chamado de Poliquimioterapia Única (PQT-U), é composto de três medicações utilizadas em conjunto: Rifampicina, Dapsona e Clofazimina, e o tempo de administração é determinado pela classificação operacional da doença, ocorrendo no uso de seis blísteres em seis a nove meses nos casos paucibacilares ou 12 blísteres no período de 12 a 18 meses em pacientes com a forma multibacilar (Brasil, 2021).

Estudos demonstram que uma parcela de rifampicina, clofazimina e dapsona é excretada pelo leite materno durante a amamentação, entretanto, os mesmos estudos afirmam que ela não oferece riscos à saúde do bebê, exceto pela mudança de sua coloração em decorrência dos efeitos colaterais da Clofazimina. Tão pouco foram encontradas influências da administração da PQT-U durante o desenvolvimento gestacional no feto ou na gestante (Ozturk & Tatliparmak, 2016; Amorim et al., 2022). 

Dado a complexidade que envolve o período gestacional e os efeitos colaterais das medicações que compõe a PQT-U é comum o sentimento de insegurança dos profissionais da saúde frente ao manejo do tratamento de gestantes diagnosticadas com hanseníase (Luz et al., 2013; Ozturk & Tatliparmak, 2016). Entretanto, a literatura demonstra expressamente sua segurança além de seu início, o mais precocemente possível, ser profundamente incentivado pelo Ministério da Saúde brasileiro (Brasil, 2020) para evitar o agravamento da condição e o surgimento de complicações.

Para assegurar a qualidade do tratamento, o bom desenvolvimento do bebê e a manutenção adequada da saúde da gestante, é recomendado que o binômio seja acompanhado por obstetra e dermatologista, e que as consultas de pré-natal sejam mais recorrentes do que as observadas em gestantes sem o diagnóstico (Brasil, 2020).

Por fim, apesar de haver segurança e incentivo ao tratamento da hanseníase com a PQT-U durante a gestação, o cenário ideal é aquele em que o diagnóstico e tratamento são realizados previamente à concepção, dessa forma o planejamento familiar tem sua abordagem indispensável para que a gestação futura ocorra somente após a cura definitiva (Brasil, 2020).


REFERÊNCIAS:

AMORIM, G. M. et al. Hanseníase virchowiana e eritema nodoso hanseníco em gestante de 34 semanas sem diagnóstico prévio. Revista de Medicina. v. 101, n. 1, 21 fev. 2022. Doi: https://doi.org/10.11606/issn.1679-9836.v101i1e-170709

Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Gestantes e crianças também podem ter hanseníase. 2020.

GOMES BLANGER, J.; ALEXANDRE ALVES, L.; ANDRADE BRITO SANTOS, V. Acompanhamento dos dados de hanseníase na Bahia. Research, Society and Development. v. 10, n. 15, p. e573101523500-e573101523500, 3 dez. 2021. Doi: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v10i15.23500

OZTURK, Z.; TATLIPARMAK, A. Leprosy treatment during pregnancy and breastfeeding: A case report and brief review of literature. Dermatologic Therapy. v. 30, n. 1, p. e12414, 23 ago. 2016. 

SACHA, P. et al. Characteristics of pregnant and lactating women with leprosy. Revista Da Sociedade Brasileira De Medicina Tropical. v. 48, n. 1, p. 96–98, 1 fev. 2015. https://doi.org/10.1590/0037-8682-0148-2014

TANUS LUZ, A. et al. Therapeutic approach of leprosy in pregnancy. Journal of the American Academy of Dermatology. v. 68, n. 4, p. AB125, abr. 2013. Doi: https://doi.org/10.1016/j.jaad.2012.12.517


Texto produzido pelo acadêmico de enfermagem Jonathan Pereira de Sousa e orientado pelo Prof. Dr. Marcelo Costa.


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