Tecnologias em saúde para a segurança do paciente
Introdução
As tecnologias em saúde são
utilizadas como recursos que possibilitam ampliar e aprimorar as habilidades e
potencialidades dos profissionais de saúde para atuação. Compreende-se como
tecnologia, o resultado de processos advindos da experiência cotidiana e da
pesquisa, para o desenvolvimento de um corpo de conhecimentos científicos que
possibilitam a construção de produtos materiais, ou não, com a finalidade de
intervir sobre a prática profissional. Assim, tecnologias em saúde podem ser
utilizadas em processos de ensinar e aprender, nos diversos cenários
(Educacionais); para intermediar o cuidado ofertado nos serviços de saúde
(Assistenciais) ou ainda, para mediação de processos de gestão na saúde
(Gerenciais) (Nietsche et al., 2005).
As tecnologias do cuidado em saúde
dizem respeito a tudo o que é utilizado como instrumento para levar cuidado a
outras pessoas e, dessa forma, o próprio profissional pode ser considerado
tecnologia em suas interações. O conjunto de conhecimentos que o profissional
detém, a maneira como ele interage com o usuário, bem como as estratégias
utilizadas na operacionalização do cuidado constituem-se tecnologias do cuidado
em saúde(Santos Koerich et al., 2006).
Pensando nas tecnologias do cuidado
em enfermagem, podemos definí-las como “todas as técnicas, procedimentos e
conhecimentos utilizados pelo enfermeiro no cuidado”(Nietsche, Leopardi, 2000).
De acordo com Merhy (2002), as
tecnologias classificam-se em leves, que são as tecnologias de relações
(produção de vínculo e das relações, autonomização, acolhimento, gestão de
processos de trabalho); leve-duras, como no caso dos saberes bem estruturados,
que operam no trabalho em saúde (como a clínica médica, a psicanalítica, a
epidemiológica) e duras, como no caso de equipamentos tecnológicos, máquinas,
normas, estruturas organizacionais.
Já parou para pensar que elementos da
sua prática profissional diária podem ser considerados como tecnologias de
cuidado em saúde? E já pensou em como as tecnologias podem influenciar na
melhoria da qualidade do cuidado e, mais especificamente, na segurança do
paciente? Vamos refletir um pouco...
Desenvolvimento
A Segurança do Paciente envolve ações
promovidas pelas instituições de saúde para reduzir a um mínimo aceitável, o
risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde. Com isso, a máxima
de ofertar um cuidado eficaz e seguro tem encontrado espaço nos debates
contemporâneos de incorporação de tecnologias.
No Brasil, as metas para Segurança do
Paciente baseadas nas metas internacionais da OMS, são coordenadas pelo
Programa Nacional de Segurança do Paciente do Ministério da Saúde. Existem
iniciativas específicas no campo da segurança do paciente. A Rede Sentinela
compõe-se de instituições que, desde 2002, trabalham com gerenciamento de risco
sobre três pilares: busca ativa de eventos adversos, notificação de eventos
adversos e uso racional das tecnologias
em saúde, para o gerenciamento de riscos na saúde.
Um exemplo da articulação política da
“tecnologia e segurança do paciente” é a POLÍTICA NACIONAL DE GESTÃO DE
TECNOLOGIAS EM SAÚDE, que tem como objetivo principal maximizar os benefícios
de saúde a serem obtidos com os recursos disponíveis, assegurando o acesso da
população a tecnologias efetivas e
seguras, em condições de equidade.
Vamos refletir um pouco sobre como
podemos utilizar as tecnologias a favor da segurança do paciente, tomando como
ponto de partida as metas internacionais de segurança do paciente?
Meta 1. Identificação correta do
paciente
Garantir uma identificação correta de cada paciente para
evitar erros e trocas de pacientes e garantir que o paciente receba o
tratamento correto.
Exemplos: agendamento, cadastro, acolhimento,
pulseiras ou etiquetas de identificação, prontuário eletrônico, placa de
identificação no leito.
Meta 2. Comunicação efetiva
Melhorar a comunicação entre os profissionais de saúde para
garantir uma transferência adequada de informações e evitar erros de
comunicação que possam afetar a segurança do paciente. Mitigar as chances de
ruídos e desvios com alinhamentos, padronizações e validações através de uma
comunicação institucional, séria, objetiva e clara
Exemplos: Prontuários, folders, comunicados internos e
externos, relatórios, indicadores, Protocolos/Manuais/Políticas, sistema
eletrônico para a troca de informações de diferentes setores.
Meta 3. Uso seguro de medicamentos
Estimular o uso seguro e a administração correta de
medicamentos, evitando erros em toda a cadeia medicamentosa.
Exemplos: prontuário eletrônico, tecnologias de dispensação de medicamentos, bombas de infusão contínuas, acessos venosos guiados por USG, uso de etiquetas informativas nas medicações, conferir todas as informações antes de administrar a medicação ( 9 certos: 1. Paciente certo; 2. Medicação certa; 3. Forma farmacêutica certa; 4. Dose certa; 5. Via certa; 6. Horário certo; 7. Orientação certa; 8. Registro certo; 9. Monitoramento certo).
Meta 4. Cirurgias seguras
Reduzir os riscos associados a procedimentos cirúrgicos,
garantindo a implementação de medidas de segurança com a implementação do
Programa de Cirurgia Segura, contemplando desde pequenos procedimentos até as
cirurgias de mais alta complexidade.
Exemplos: identificação do paciente, termos de consentimentos
cirúrgicos e anestésicos, checklist de cirurgia segura, confirmação e marcação
da área a ser operada, planejamento quanto a necessidade de transfusão
sanguínea, vigilância
contínua sobre a capacidade, volume e resultados cirúrgicos.
Meta 5. Higienização das Mãos para
prevenção de complicações relacionadas à assistência à saúde
Implementar práticas de higiene das mãos, precauções de
isolamento e uso adequado de equipamentos de proteção individual, para reduzir
a ocorrência de complicações associadas à assistência à saúde.
Exemplos: Lavar as mãos constantemente, principalmente nos
cinco momentos para a higiene das mãos, que são: antes de tocar o paciente;
antes de realizar procedimento limpo/asséptico; após o risco de exposição a
fluidos corporais; após tocar o paciente e após tocar superfícies próximas ao
paciente
Meta 6. Prevenção do risco de queda e
lesão por pressão
Quedas - Identificar pacientes com risco de queda, que
normalmente recebem uma pulseira ou algum marcador de identificação de
determinada cor. O objetivo é agir preventivamente, evitando esse tipo de
evento e eventuais lesões. A avaliação do risco é realizada a partir da entrada
do paciente com critérios definidos de acordo com o perfil de público de cada
instituição e saúde, com base nas condições clínicas e necessidades do usuário.
Lesões por pressão - Identificar os pacientes com risco de
desenvolver lesões por pressão durante o período de internação. O objetivo é
reduzir a ocorrência de lesões. A avaliação do risco deve ser realizada,
diariamente, com base nas condições clínicas apresentadas pelo paciente, para
aplicação de medidas de prevenção como não deixar lençóis enrolados ou
enrugados, mudança de decúbito a cada determinado período, colchões
apropriados, interação e sensibilização do acompanhante, entre outas ações
simples, mas que trazem resultados extremamente eficazes.
Considerações finais
A adesão às
metas de segurança do paciente e as tecnologias em saúde para este fim, trazem
benefícios tangíveis, incluindo a melhor qualidade do cuidado, a redução de
eventos adversos, melhor comunicação e coordenação, promoção de uma cultura de
segurança. Esses benefícios resultam na melhoria geral dos cuidados de saúde e
na proteção e bem-estar dos pacientes e da instituição como um todo.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da
Saúde. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do
Paciente / Ministério da Saúde; Fundação Oswaldo Cruz; Agência Nacional de
Vigilância Sanitária. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
BRASIL. Ministério da
Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento
de Ciência e Tecnologia.
KOERICH, M. S.; BACKES, D. S.; SCORTEGAGNA, H. DE M.; WALL, M. L.; VERONESE, A. M.; ZEFERINO, M. T.; RADÜNZ, V.; SANTOS, E. K. A.. Tecnologias de cuidado em saúde e enfermagem e suas perspectivas filosóficas. Texto & Contexto - Enfermagem, v. 15, p. 178–185, 2006.
NIETSCHE, E.
A.; BACKES, V.M.S.; COLOMÉ, C.L.M.; CERATTI, R.N.; FERRAZ, F. Tecnologias educacionais,
assistenciais e gerenciais: uma reflexão a partir da concepção dos docentes de
enfermagem. Revista Latino-Americana de
Enfermagem, v. 13, n. 3, p. 344–353, 2005.
NIETSCHE, E. A.; LEOPARDI, M. T. O saber da enfermagem como tecnologia: a produção de enfermeiros brasileiros. Texto & contexto - enfermagem, p. 129–152, 2000.
WHO: World
Alliance for Patient Safety, Taxonomy: The Conceptual Framework for the
International Classification for Patient Safety: final technical report.
Genebra; 2009.
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