Ansiedade e depressão infantil: uma realidade invisibilizada.


Cuidar da saúde mental tem se tornado tão importante quanto cuidar da saúde física principalmente em crianças e adolescentes. Em 2021 essa temática foi incluída pela primeira vez na Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) no Tratado de Pediatria, como a principal publicação designada para os profissionais da saúde que cuidam de crianças e adolescentes de até 18 anos (Krug, 2023).


Fonte: Google Imagens.

        Segundo dados da pesquisa realizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), pelo menos uma em cada sete crianças e adolescentes de dez a 19 anos convivem com algum transtorno mental diagnosticado no mundo. Os casos mais comuns quando trata-se da saúde mental de crianças e adolescentes são a depressão, transtornos de ansiedade, entre outros (Krug, 2023).


O transtorno da ansiedade em crianças

A ansiedade é considerada uma emoção normal, faz parte da vida e é esperada em algumas situações. No caso das crianças, é comum antes de uma viagem, uma festa de aniversário, apresentação da escola, entre outras (Ribeiro, 2022). Segundo, as pesquisas do professor Fernando Asbahr (2018), aproximadamente 10% de todas as crianças e adolescentes têm ou terão algum transtorno de ansiedade.  

O transtorno da ansiedade “[...] é acompanhado de uma série de sensações físicas, tais como: palidez, palpitações, falta de ar, boca seca, tremores, sudorese nas mãos e pés, etc, manifestando-se numa resposta generalizada, ampla, que mobiliza todo o nosso organismo pelos mais variados estímulos” (Caíres; Shinohara, 2010, p. 65). Os transtornos ansiosos mais frequentes em crianças, são: o transtorno de ansiedade de separação, com prevalência em torno de 4%; o transtorno de ansiedade excessiva de 2,7% a 4,6%; e fobias específicas de 2,4% a 3,3%. A prevalência de fobia social fica em torno de 1% e do transtorno de pânico, 0,6%. Mais de 50 % das crianças ansiosas experimentarão um episódio depressivo como parte de sua síndrome ansiosa (Asbahr, 2004 apud Caíres; Shinohara, 2010).

O transtorno de ansiedade de separação é caracterizado por ansiedade excessiva e frequente ao se separar dos pais, de forma não adequada para a fase do desenvolvimento, que persiste por, no mínimo, quatro semanas, causando sofrimento intenso e prejuízos significativos em diferentes áreas da vida da criança ou adolescente (Caíres; Shinohara, 2010).

O transtorno de ansiedade excessiva, segundo Caíres e Shinohara (2010, p. 70), é caracterizado por 


ansiedade e preocupação, onde frequentemente envolvem a qualidade de seu desempenho na escola ou em eventos esportivos, mesmo quando seu desempenho não está sendo avaliado por outros. Pode haver preocupação excessiva com a pontualidade. Eles também podem preocupar-se com eventos catastróficos tais como terremotos ou guerra nuclear. As crianças com transtornos podem ser excessivamente conformistas, perfeccionistas e inseguras, apresentando uma tendência a refazer tarefas em razão de excessiva insatisfação com um desempenho menos que perfeito. Elas demonstram excessivo zelo na busca por aprovação e exigem constantes garantias sobre seu desempenho e outras preocupações (DSM-IV-TR).


Já o transtorno de ansiedade social, pode ser caracterizado por um  um medo acentuado e persistente de situações sociais ou de desempenho na qual o indivíduo poderia sentir vergonha, sendo esta a  particularidade deste transtorno. A exposição à situação social ou de desempenho provoca, quase que invariavelmente, uma resposta imediata de ansiedade, podendo assumir a forma de um Ataque de Pânico (DSM-IV-TR apud Caíres; Shinohara, 2010).

Sendo assim, em crianças “[...] a ansiedade pode ser expressa por choro, ataques de raiva, imobilidade ou comportamento aderente. As crianças com frequência não reconhecem que os temores são excessivos ou irracionais e raramente relatam sofrimento por terem fobias” (Caíres; Shinohara, 2010, p. 73).

Portanto, para prevenir e combater a ansiedade em crianças, sugere-se menos tempo nas telas, mais contato com a natureza, menos cobrança excessiva, mais tempo junto com seus pais/responsáveis, incentivar a leitura, ou seja, leia com seu filho(a), brincadeiras para movimentar-se, exercícios de ioga e ritmo de respiração, entre outros (Lima, 2019).


A depressão infantil, uma realidade invisibilizada

A infância, que muitas vezes é idealizada como um período idealizado de pureza, inocência e alegria, não é isenta de desafios e dificuldades. Embora muitas vezes possa passar despercebida a depressão infantil (D. I.) é uma realidade e sua presença é cada vez mais significativa e merece atenção e compreensão. Enquanto a depressão em adultos é mais comum e mais divulgada, a infantil é invisibilizada e muitas vezes transformada em “birra ou preguiça”.

A depressão infantil embora subestimada, não é um fenômeno isolado ou trivial. O Manual Diagnósticos e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM - IV), traz os sintomas para diagnóstico (tabela 1), e revela que são os mesmos para todas as faixas etárias, mas com predominância de alguns sintomas que podem variar com a idade (tabela 2). Segundo Bahls (2002), Saint-Clair traz em seu artigo uma tabela dos sintomas apresentados na DSM - IV  e que são apresentados abaixo:


As crianças, como qualquer outro grupo etário, enfrentam uma grande variedade de experiências emocionais, boas ou traumáticas. Muitas vezes o diagnóstico da depressão infantil, é confundida com outros transtornos, que tenham como sintomas também, comportamento agressivo, hiperatividade e a rebeldia, que muitas vezes podem mascarar sentimentos depressivos da criança conforme explicam (Bahls, 2002; Ballone, 2010; Scivoletto & Tarelho, 2002).

Bahls (2002), ainda expõe a importância do trabalho do psicoterapeuta em fazer abordagens individuais e personalizadas para cada criança que apresente esse sintomas para que não se faça diagnósticos equivocados. Hoje a porcentagem de crianças com diagnósticos de depressão segundo dados da FIOCRUZ, é de cerca de 2% das crianças e 5% dos adolescentes do mundo hoje receberam esse diagnóstico.

Diante disso, o grupo UNIMED, em março de 2022, traz em uma postagem em sua página oficial na web, algumas dicas de como prevenir a depressão infantil,  expondo antes uma pequena reflexão de que, “não pense que infância feliz significa ter as vontades da criança atendidas o tempo todo. Medidas que estabeleçam uma rotina em casa ajudam a organizar a vida e as emoções também”. No sentido de que, para auxiliar as crianças e adolescentes a terem uma melhor qualidade socioemocional, é necessário desenvolver algumas atividades, tais como:

  • Rotina de sono, com horário e tempo satisfatórios por idade.

  • Tempo e conteúdo de tela pré-estabelecidos de acordo com as recomendações por idade.

  • Brincadeiras ao ar livre.

  • Tempo de qualidade com os pais.

  • Acompanhamento sobre o desempenho na escola.

  • Atividades físicas e de lazer.

  • Técnicas de relaxamento ou meditação.

A depressão infantil é coisa séria e necessita muita atenção e cuidado.


REFERÊNCIAS


AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. DSM-IV. 4. ed. Washington, DC: American Psychiatric Association; 1994.


ASBAHR, Fernando R. Transtornos ansiosos na infância e adolescência: aspectos clínicos e neurobiológicos. Jornal de Pediatria. 2004, v. 80, n. 2, p. 28-34, ago. 2004. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0021-75572004000300005. Acesso em: 9 nov. 2023. 


ASBAHR, Fernando R. Ansiedade poderá afetar 10% de crianças e adolescentes. Jornal da USP, jan. 2018. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/10-das-criancas-e-adolescentes-poderao-sofrer-de-ansiedade/#:~:text=A%20ansiedade%2C%20comum%20e%20recorrente,pessoas%20cada%20vez%20mais%20jovens. Acesso em: 9 nov. 2023.


BAHLS, S. C. Aspectos clínicos da depressão em crianças e adolescentes: clinical features. Jornal de Pediatria, v. 78, n. 5, p. 359–366, set. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jped/v78n5/7805359.pdf. Acesso em: 9 nov. 2023.


CAIRES, Monique Cabral; SHINOHARA, Helene. Transtornos de ansiedade na criança: um olhar nas comunidades. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, Rio de Janeiro,  v. 6, n. 1, p. 62-84, jun. 2010. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872010000100005&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 9 nov. 2023.


DSM-IV-TRTM. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2002.


FIOCRUZ. Depressão Infantil. Disponível em: https://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/deprssao-infantil.htm#:~:text=Ao%20contr%C3%A1rio%20do%20que%20muitos,5%25%20dos%20adolescentes%20do%20mundo. Acesso em: 9 nov. 2023.


KRUG, Jefferson Silva.Dicas e caminhos para promover a saúde mental na infância e adolescência. Blog PURS, fev. 2023. Disponível em: https://www.pucrs.br/blog/dicas-e-caminhos-para-promover-a-saude-mental-na-infancia-e-adolescencia/. Acesso em: 10 nov. 2023.


LIMA, Manuela. 9 dicas para ajudar seu filho a combater a ansiedade. Revista Crescer, fev. 2019. Disponível em: https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Saude/noticia/2019/02/9-dicas-para-ajudar-seu-filho-combater-ansiedade.html. Acesso em: 10 nov. 2023.


RIBEIRO, Maiara. Ansiedade em crianças: como reconhecer os sintomas?. Blog Drauzio, jul. 2022. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/pediatria/ansiedade-em-criancas-como-reconhecer-os-sintomas/. Acesso em: 9 nov. 2023.


UNIMED. Depressão infantil existe, mas pode ser vencida, mar. 2022. Disponível em: https://www.unimed.coop.br/viver-bem/pais-e-filhos/depressao-infantil-existe-mas-pode-ser-vencida-. Acesso em: 9 nov. 2023.


Texto elaborado por Gabrielle Klein Silva, Isadora Klein Da Silva, Rafael Faller Deola e Silvia Carla Conceição Massagli.

 Linha de Pesquisa: Tecnologias Cuidativo-Educacionais: Interlocuções na Saúde, Formação e Educação.

Eixo temático: Educação e Saúde Psíquica Infanto-Juvenil.

Coordenadora: Dra. Silvia Carla Conceição Massagli.

(Docente da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Realeza).

Orientandas(o): Gabrielle Klein Silva, Isadora Klein Silva e Rafael Faller Deola (Acadêmicas/o da UFFS - Laranjeiras do Sul e Realeza).


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