Além da estética: a toxicidade das plantas ornamentais

Quando se fala sobre plantas com fins ornamentais, se imagina apenas a beleza das mesmas e que possuam a finalidade de bem estar visual e pelo fato de serem coloridas, chamativas, cheirosas e meramente inofensivas acabam sendo cultivadas dentro dos domicílios sem o conhecimento acerca de sua toxicidade e se tornando de fácil acessibilidade para crianças, se caracterizando assim como um risco para a saúde por mera falta de informação.
(FONTE: https://blog.giulianaflores.com.br/wp-content/uploads/2013/11/copo-de-leite-decoracao.jpg)
Dentre as mais conhecidas se tem como exemplo a “Comigo-Ninguém-Pode” e a Copo-de-Leite, respectivamente Dieffenbachia amoena e Zantedeschia aethiopic. Rocha (2006) traz que as mesmas possuem em comum o princípio ativo, oxalato de cálcio e toda a estrutura anatômica de ambas possui toxicidade. Os metabólitos secundários produzidos por elas e por tantas outras plantas tóxicas ornamentais, podem apenas desequilibrar o organismo ou trazer problemas sérios para o funcionamento regular dos sistemas do corpo.

A sua ação resulta principalmente na formação de cálculos renais, como Maifrede (2011) descreve que no caso de uma pedra de oxalato de cálcio monohidratado papilar, o mecanismo de ação se inicia nas papilas renais na região onde os glicosaminoglicanos que protegem a camada anti-aderente são reduzidos ou destruídos. Em decorrência disso, os detritos formados agem como um agente nucleante acelerando o processo de cristalização. Um pouco diferente é se for um cristal dihidratado, pois crescem desordenadamente, formando estruturas com sobreposição de fosfato de cálcio entre os cristais, onde os cristais dihidratados induzem o crescimento de mais compostos cristalizados, formando assim agregados cristalinos.

Segundo dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), no Brasil foram registrados 1026 casos em 2012, onde a maior parte deles ocorreu com crianças de 0 a 4 anos. Quando ocorre a ingestão, principalmente em casa, na escola e em parques, justamente locais de grande fluxos de crianças e por falta de informação sobre a toxicidade, elas são cultivadas livremente ao alcançe das mesmas, sendo de fácil inalação e ingestão de princípios tóxicos que podem acarretar em alterações patológicas no organismo humano, afetando o sistema respiratório, gastrointestinal, neurológico, cardiovascular e causando distúrbios metabólicos (CAMPOS, 2016).

Tendo em vista a ocorrência dos casos em decorrência da falta de conhecimento sobre a toxicidade das plantas ornamentais, Silva (2015) afirma que é preciso divulgar o máximo possível as espécies de plantas mais comuns que são cultivadas principalmente em ambiente doméstico, além do que se encontra disponível no SINITOX, como manter longe do alcance de crianças, ensinando as mesmas a não colocar na boca caso vejam uma planta que lhe chamem a atenção estando ao seu alcance, através de métodos educativos apropriados, que permitam o acesso à informação, prevenindo o acontecimento de acidentes domésticos que são facilmente evitáveis a partir do empoderamento sobre o assunto.

Referências
CAMPOS, S.C. et al. Toxicidade de espécies vegetais. Rev. bras. plantas med. Botucatu, v. 18, n. 1, supl. 1, p. 373-382,    2016 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-05722016000500373&lng=en&nrm=iso>. access on  14  Sept.  2018.  http://dx.doi.org/10.1590/1983-084X/15_057.

MAIFREDE, E. B. Estudo das fases de pedras de rins de oxalato de cálcio monohidratado e determinação de uma nova forma polimórfica. Dissertação (Dissertação em física) – UFES. Vitória. 2011.

ROCHA, L. D. et al. Organização estrutural e localização das estruturas tóxicas em  comigo-ninguém-pode(Dieffenbachia picta(l.) Schott) e Copo-de-Leite(Zantedeschia aethiopica (L.) Spreng). RUBS, Curitiba, v.2, n.1, p.54-63, jan./mar. 2006.

SILVA, P. H. da et al. Entre a beleza e o perigo: uma abordagem sobre as plantas tóxicas ornamentais. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia Risco Ambiental e Sociedade. Picos, v. 8, n. 1, p. 19-44, fev. 2015.

SINITOX. Fundação Oswaldo Cruz/Centro de Informação Científica e Tecnológica/Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas. Estatística Anual de Casos de Intoxicação e Envenenamento. Brasil, 2012. [acessado 2018 Set 14]. Disponível em: http://www.fiocruz.br/sinitox.

Texto elaborado pelo Acadêmico de Enfermagem Gustavo de Souza e pelo Professor Dr. Éder Freire.

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