Por que pessoas com doenças crônicas, como Diabetes Mellitus, têm mais chances de serem infectadas pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2)?


    A entrada do SARS-CoV-2 na célula hospedeira acontece através da ligação da proteína viral Spike (S) com o receptor das células hospedeiras ACE2 (Enzima Conversora da Angiotensina 2), através de um processo complexo que envolve a proteólise do receptor ACE2, resultando na fusão das membranas da célula-vírus. Este receptor é expresso em vários órgãos, como por exemplo, nas membranas das células epiteliais do pulmão, intestino, rim, e vasos sanguíneos (MUNIYAPPA, R.; GUBBI, S., 2020). Assim, qual seria a função fisiológica normal deste receptor?

Fonte: https://portugues.medscape.com/verartigo/6504833

    A proteína ACE2 é homóloga da já conhecida ACE (em português: ECA – Enzima conversora da Angiotensina) – responsável pela regulação da pressão arterial dentro do Sistema Renina-Angiotensina. A variante ACE2, descoberta no ano 2000, é muito semelhante em estrutura (cerca de 42%) mas faz o papel inverso da ACE. Enquanto a última faz vasoconstrição e consequente aumento da pressão arterial, a ACE2 promove a vasodilatação e diminui a mesma. Dessa forma é feita a regulação do Sistema Renina-Angiotensina (CUSCHIERI S.; GRECH, S, 2020).

    O gene ACE2 geralmente é mais expresso em pacientes com doenças crônicas como hipertensão, diabetes e outras doenças cardiovasculares, o que as torna mais suscetíveis a infecção pelo novo coronavírus. Além disso, o uso de medicamentos inibidores da enzima conversora de angiotensina (iECA) e dos bloqueadores dos receptores de angiotensina (BRA), comumente usados por pacientes com diabetes e hipertensão, pode resultar em um aumento ainda maior da expressão de ACE2 devido a um mecanismo compensatório (upregulation). Sobretudo, como a entrada do SARS-CoV-2 na célula é feita principalmente por meio da ligação da proteína Spike do vírus com o receptor ACE2, o aumento da expressão dessa molécula na superfície das células desses pacientes pode aumentar a chance de infecção e até mesmo influenciar na gravidade da doença (LI et al, 2020). 

    É importante salientar que o receptor ACE2 também é expresso no pâncreas. Assim, a entrada do novo coronavírus nas ilhotas pancreáticas pode causar uma disfunção aguda de células beta, através da desregulação na produção de insulina, causando um estado hiperglicêmico agudo. Portanto, indivíduos com diabetes são vulneráveis à infecção por SARS-COV-2, levando a um status hiperglicêmico não controlado (MUNIYAPPA, R.; GUBBI, S., 2020). Portanto, durante a pandemia de COVID-19, é extremamente necessário manter o gerenciamento da diabetes, através de uma nutrição equilibrada, atividade física, utilização regular dos medicamentos, monitoramento de glicose no sangue, cuidados com a saúde mental e isolamento social (WANG et al 2020).

REFERÊNCIAS

CUSCHIERI S.; GRECH, S. COVID-19 And Diabetes: The Why, The What And The How. J. Diabetes Complications. 2020 May 22. 

MUNIYAPPA, R.; GUBBI, S. COVID-19 Pandemic, Coronaviruses, and Diabetes Mellitus. Am. J. Physiol. Endocrinol. Metab. 318(5):E736-E741. 2020 May 1. 

LI X.C., ZHANG J., ZHUO J.L. The vasoprotective axes of the renin-angiotensin system: physiological relevance and therapeutic implications in cardiovascular, hypertensive and kidney diseases. Pharmacol Res 2017; 125: 21–38.

WANG, W. LU, J. GU, W. ZHANG, Y. LIU, J. NING, G. Care For Diabetes With COVID-19: Advice from China. J Diabetes; 12(5): 417-419, 2020 05.

YAN, Y. YANG, Y. WANG, F. et al. Clinical Characteristics And Outcomes Of Severe COVID-19 Patients With Diabetes. BMJ Open Diabetes Res. Care 2020.

Texto produzido pela acadêmica de Enfermagem Anna Valéria Duarte Calixto e orientado pela professora Dra. Rafaelle Cavalcante de Lira.

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