ASSOCIAÇÃO ENTRE DIABETES MELLITUS E HIPERTENSÃO NÃO CONTROLADA
A hipertensão arterial é o fator de risco tratável mais importante de acidente vascular cerebral, fibrilação atrial, insuficiência cardíaca e diabetes mellitus. A redução da pressão arterial previne de forma efetiva lesões nos órgãos-alvo, eventos cardiovasculares e morte envolvendo perfis de risco cardiovascular, e comorbidades. Apesar disso, a hipertensão não controlada continua sendo uma situação muito prevalente em todo o mundo, o que acaba favorecendo o surgimento de outras doenças associadas à hipertensão arterial (JARDIM et al., 2020).
Fonte: google imagens.
Entre as principais DCNT que acometem a população brasileira estão o diabetes mellitus, que atinge cerca de 16 milhões de brasileiros e aumentou 61,8% nos últimos 10 anos, e a hipertensão arterial sistêmica, que atinge 30 milhões de pessoas no país (COVALSKI et al., 2021).
Por ser geralmente assintomática, o diagnóstico e tratamento da hipertensão é frequentemente negligenciado, acrescentando a isso uma baixa adesão, por parte do paciente, ao tratamento prescrito e às recomendações e orientações recebidas. Estes são os principais fatores que contribuem para o controle muito baixo da HAS aos níveis considerados normais em todo o mundo, apesar de existir hoje maior acesso ao acompanhamento médico e ao tratamento farmacológico, grande parte da população foge aos padrões considerados importantes para o controle dessas doenças crônicas (JARDIM et al., 2020).
Somado a isso, o envelhecimento populacional, a urbanização crescente e a adoção de estilos de vida poucos saudáveis como sedentarismo, dieta inadequada e obesidade, também são fatores responsáveis pelo aumento da incidência e prevalência da hipertensão arterial e diabetes mellitus (CUNHA, 2009).
Ademais, há uma certa resistência para a realização regular de atividades físicas e dieta adequada. Há a predominância do uso de sal em quantidades elevadas, associado à dificuldade em ir a encontros festivos e negar alimentos gordurosos e salgados. Tendo em vista a dificuldade nas mudanças de estilo de vida, o tratamento medicamentoso aparece como uma medida “mais fácil”, para muitos tomar o medicamento se torna um hábito, porém, para outros não há uma boa aceitação, pois possuem a consciência que deverão ingerir a medicação pelo resto da vida (MACETE; BORGES, 2020).
Existem vários mecanismos que relacionam obesidade, diabetes mellitus e hipertensão. Entre eles, a resistência à insulina é um importante fator envolvido na patogênese da síndrome metabólica. A insulina elevada promove angiogênese, hipertrofia vascular e aumento na reabsorção renal de sódio. Assim, a sinalização da insulina estará prejudicada e comprometerá o relaxamento cardíaco e a vasodilatação por meio das vias de sinalização metabólica (COSENSO-MARTIN; YUGAR-TOLEDO; VILELA-MARTIN, 2021).
Dessa forma, a elevação e ação inadequada da insulina levam à produção de endotelina-1 e outros vasoconstritores. Desta forma, em um estado de resistência à insulina, há anormalidades na função vascular, rigidez, hipertrofia, fibrose e remodelação. Em condições de hiperinsulinemia, ocorre também ativação do sistema nervoso simpático, decorrente da resistência à insulina e da hiperleptinemia, situações que elevam a pressão arterial. A insulina também causa aumento na reabsorção renal de sódio, o que contribui para a rigidez vascular e hipertensão (LASTRA et al., 2014; FRONTONI et al., 2014).
As doenças crônicas hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus apresentam altas taxas de morbimortalidade, com repercussões econômicas, sociais e comportamentais. Para o enfrentamento e aceitação dessas doenças, além de habilidades e conhecimentos para lidar com o complexo tratamento, é preciso que o indivíduo reavalie seus pensamentos, sentimentos e comportamentos frente à doença (ALMEIDA; NUNES; REZEK; NOVO; SCHNAIDER,, 2012).
Reelaborar os sentimentos relacionados ao processo do adoecimento facilita a ocorrência do autocuidado por meio de mudança de comportamento e de suporte para o controle da doença, preservando a autonomia das pessoas adoecidas. A educação em saúde e o empoderamento são as principais intervenções da equipe multiprofissional na prática de promoção da saúde das pessoas que convivem com essas condições crônicas (PEREIRA; LANZA; VIEGAS).
Para que ocorram intervenções efetivas e com bons resultados de saúde, o profissional deve conhecer as dificuldades que o indivíduo possui em relação à doença crônica, monitorar e acompanhar a prática do autocuidado na busca de falhas e potencialidades e, a partir dessa percepção, proporcionar conhecimentos atualizados sobre a doença, comunicação efetiva, escuta e compreensão, bem como a capacidade de negociação e obtenção de metas para atingir o controle da doença e ter maior qualidade de vida.
Referências:
ALMEIDA A. M; NUNES, F. A; REZEK, G. S; NOVO, N. F; SCHNAIDER, T. B. Qualidade de vida, autoestima, depressão e espiritualidade em pais cuidadores de menores diabéticos. Rev Med Res [Internet], v. 14, n. 2, p. 94-100, 2012 [cited 2023 Apr 05] Available from: http://www.crmpr.org.br/publicacoes/cientificas/index.php/revista-do-medico-residente/article/viewFile/248/238
COSENSO-MARTIN, L. N; YUGAR-TOLEDO, J. C; VILELA-MARTIN, J. F. HIPERTENSÃO E DIABETES: CONCEITOS ATUAIS NA TERAPÊUTICA. Revista Brasileira de Hipertensão, v. 28, n. 3, p. 213-18, 2021.
COVALSKI, D. et al. Idosos com diabetes mellitus e/ou hipertensão arterial: adesão à medicação. Revista Recien-Revista Científica de Enfermagem, v. 11, n. 33, p. 360-369, 2021.
CUNHA, C. W. Dificuldades no controle da hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus na atenção básica de saúde através do Hiperdia-Plano de Reorganização da Atenção. 2009.
FRONTONI, S. et al. Italian Society of Diabetology (SID)-Study Group on Diabetes, Hypertension and the Kidney. The ideal blood pressure target to prevent cardiovascular disease in type 2 diabetes: a neutral view point. Nutr Metab Cardiovas Dis, v. 24, n. 6, p. 577–84, 2014. doi: 10.1016/j.numecd.2014.01.004.
JARDIM, T. et al. Controle da pressão arterial e fatores associados em um serviço multidisciplinar de tratamento da hipertensão. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 115, p. 174-181, 2020.
LASTRA, G. et al. Type 2 diabetes mellitus and hypertension: an update. Endocrinol Metab Clin North Am, v. 43, n. 1, p. 103–22, 2014. doi: 10.1016/j.ecl.2013.09.005.
MACETE, K; BORGES, G. Não Adesão ao Tratamento não Medicamentoso da Hipertensão Arterial Sistêmica/Not Adhering to Non-Drug Treatment of Systemic Hypertension. Saúde em Foco, p. 128-154, 2020.
PEREIRA, N; LANZA, F; VIEGAS, S. Vidas em tratamento para Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus: sentimentos e comportamentos. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 72, p. 102-110, 2019.
Eixo temático: Tecnologias cuidativo-educacionais, condições crônicas cardiovasculares
Comentários
Postar um comentário