CONSEQUÊNCIAS NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL NA DEPRESSÃO PÓS-PARTO.

        A depressão pós-parto (DPP) materna se constitui durante a gestação, prosseguindo nos quatro primeiros meses após o parto (American Psychiatric Association, 2014). Segundo o estudo realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 26% das brasileiras apresentam o transtorno mental da depressão (Theme Filha et al. 2016). As puérperas com a depressão pós-parto em níveis consideravelmente maiores têm os sintomas de ansiedade, fadiga e estresse, baixa autoestima, que afetam tanto na qualidade de vida quanto nas relações sociais. E as puérperas em condições mais graves da depressão pós-parto apresentam maior prevalência de ideação suicida, onde pensam, idealizam, planejam e desejam tirar a sua própria vida (Slomian et al. 2019 apud Santos 2021).


Fonte: IP USP, 2019.

Nesse sentido, apesar de “as taxas de suicídio associado à depressão pós-parto serem inferiores às taxas para a população não-fértil, um relatório britânico cita suicídio em associação à doença psiquiátrica grave como a principal causa de mortes maternas” (Appleby; Mortensen; Faragher 1998 apud Quevedo, 2011, p. 8). Sendo assim, “um estudo brasileiro mostrou uma prevalência de risco de suicídio em mulheres no período pós-parto entre 5,7% a 11,1%" (Goodman, 2004 apud Quevedo, 2011, p. 12). 

Diante disso, na pesquisa integrativa realizada por Rodrigues et al. as consequências da depressão pós-parto serão prejudiciais no desenvolvimento da criança, a saber:  


(I) Problemas  de  comportamento,  desordens  linguísticas,  afetivas,  cognitivas e sociais; (II) Desordens alimentares; (III) Alterações no padrão de sono; (IV) Alterações na atividade cerebral; e ainda, (V) Efeitos deletérios  na  interação  mãe-bebê, entre esses: comprometimento do afeto positivo e da sintonia afetiva, apego inseguro e intrusividade (Rodrigues et al., 2019, p. 2732).


Além de acarretar em danos no “desenvolvimento socioemocional e cognitivo das crianças, como problemas de comportamento e déficits no desempenho intelectual” (Rodrigues et al., 2019, p. 2732). Nessa perspectiva, demonstrou-se que


[...] crianças  de  mães  deprimidas  desenvolveram uma interação pobre com suas mães, menos vocalizações, desvio do  olhar,  sinais  de  angústia,  irritação,  choro por um período maior de tempo, menor   comportamento   exploratório,   percentil  de  peso  baixo  e  comportamento depressivo.  Além  de  olharem  menos  para  suas  mães,  apresentavam  um apego inseguro e expressavam menos  afeto  positivo  e  mais  afeto  negativo (Rodrigues et al., 2019, p. 2732).


Para Bowlby (1969 apud Gomes 2011), existe uma profunda relação entre as experiências dos indivíduos com seus genitores que refletirá posteriormente na relação com seus filhos.

No entanto é importante enfatizar que a depressão pós-parto é uma condição tratável, e o apoio adequado à mãe é fundamental para prevenir essas situações trágicas, uma das medidas preventivas que podem ser tomadas é o acompanhamento psicológico no pré-natal, como relata Natália Maria de Castro Almeida, Especialista pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e Alessandra da Rocha Arrais, Doutora e Pós-doutora pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica e Cultura do Departamento de Psicologia e pesquisadora colaboradora da Universidade de Brasília (UnB):


Nesse contexto, o psicólogo com formação específica é o mais indicado para atuar em programas de psicoprofilaxia, na medida em que aborda questões relativas a alterações emocionais capazes de atenuar as angústias próprias deste período (Bortoletti, 2007a), além de considerar aspectos que não apenas os biológicos (Almeida; Arrais, 2016, p. 849).


Para isso, profissionais de saúde, familiares e amigos devem estar atentos a possíveis sinais de alteração brusca de humor e personalidade e buscar ajuda imediata. Além disso , programas de apoio psicológico e psiquiátrico podem ser necessários para garantir o bem-estar tanto da mãe quanto do bebê durante o período crítico e assim minimizar os danos do desenvolvimento de uma criança.


Referências


ALMEIDA, Natália Maria de Castro; ARRAIS, Alessandra da Rocha. O pré-natal psicológico como programa de prevenção à depressão pós-parto. Psicologia: ciência e profissão, v. 36, p. 847-863, 2016.


AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION – APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Tradução de Maria Inês Corrêa Nascimento. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.


APPLEBY, L.; MORTENSEN, P. B.; FARAGHER, E. B. O Suicide and other causes of mortality after post-partum psychiatric admission. The British Journal of Psychiatry 1998; 172: 209–211.


BORTOLETTI, F. F. (2007a). Psicoprofilaxia no ciclo gravídico puerperal. In: MORON, A. F.; BORTOLETTI, F. F.; BORTOLETTI FILHO, J.; NAKAMURA, M. U.; SANTANA, R. M.; MATTAR, R. Psicologia na prática obstétrica: abordagem Interdisciplinar. Barueri, SP: Manole. p. 37-46.


BOWLBY, J. Attachment and loss, Vol. I: Attachment. New York: Basic Books, 1969.


GOMES, Adriana de Albuquerque. A teoria do apego no contexto da produção científica contemporânea. 2011. 285 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências, 2011. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/97442. Acesso em: 22 set. 2023.


GOODMAN, J. H. Paternal post partum depression, its relationship to maternal postpartum depression, and implications for family health. Journal of Advanced Nursing 2004; 45:26-35.


QUEVEDO, L. D. A. Risco de Suicídio e Transtornos de Humor no período pós-parto: Estudo com pais e mães. 2011.


RODRIGUES, W. L. da C. et al. Consequências da depressão pós-parto no desenvolvimento infantil: revisão integrativa. Nursing, São Paulo, v. 250, n. 22, p. 2728-2733, mar. 2019. Disponível em: http://www.revistanursing.com.br/revistas/250/pg24.pdf . Acesso em: 23 set.

2023.


THEME FILHA, M. M. et al. Factors associated with postpartum depressive symptomatology in Brazil: The Birth in Brazil National Research Study, 2011/2012. Journal Affect Disorders, v. 194, p. 159-167, 2016.


SANTOS, Dherik Fraga et al. Prevalência de sintomas depressivos pós-parto e sua associação com a violência: estudo transversal, Cariacica, Espírito Santo, 2017.


SLOMIAN, J. et al. Consequences of maternal postpartum depression: a systematic review of maternal and infant outcomes. Womens Health (Lond). 2019.



Texto elaborado por Gabrielle Klein Silva, Isadora Klein Da Silva, Rafael Faller Deola e Silvia Carla Conceição Massagli.

 

 Linha de Pesquisa: Tecnologias Cuidativo-Educacionais: Interlocuções na Saúde, Formação e Educação.


Eixo temático: Educação e Saúde Psíquica Infanto-Juvenil.


Coordenadora: Dra. Silvia Carla Conceição Massagli.

(Docente da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) - Realeza).


Orientandas(o): Gabrielle Klein Silva, Isadora Klein Silva e Rafael Faller Deola (Acadêmicas/o da UFFS - Laranjeiras do Sul e Realeza).



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