Depressão pós-parto e Baby Blues: quais as diferenças e como identificar?

       A gestação, parto e  pós-parto são períodos delicados marcados na vida de uma mulher. Isto pois, são fases em que físicas e psíquicas tendem a surgir, podendo influir diretamente na saúde psicológica, capaz de produzir um estado temporário de instabilidade emocional em virtude das mudanças no papel social e na identidade da mulher (Alves et al., 2021).

                              Imagem autoral. 

      Durante o puerpério, a mulher pode vivenciar intenso sofrimento psíquico devido a questões como mudanças na fisionomia, adaptações com o recém nascido, medo relacionado às exigências específicas do cuidado com o bebê. Além disso, é comum que após o nascimento o olhar da família voltar-se para RN, enquanto a puérpera tende a se sentir sozinha, deprimida e ansiosa (Temóteo et al., 2019). 


        É nesses casos que alguns transtornos mentais podem surgir, como por exemplo: o baby blues e a depressão pós-parto. Dessa forma, é importante entender quais são as diferenças entre essas condições.  Depressão pós-parto (DPP) e o “baby blues” são dois estados emocionais com características e gravidades distintas que podem afetar as mães após o parto (Castro, 2019). 


       O “baby blues”, também conhecido por disforia puerperal ou tristeza materna, acontece em um curto período de tempo, entre o segundo e décimo dia pós parto, marcado por alterações hormonais que estão relacionadas ao estresse após o parto. Sendo assim, o choro  fácil  ou  frequente, baixa autoestima, ansiedade, irritabilidade, dependência são alguns dos sinais e sintomas presentes no baby blues. Apesar da sua ocorrência variar entre 30 e 75% das parturientes, é considerada uma condição subdiagnosticada, uma vez que os sintomas tendem a desaparecer sozinhos (Vieira, 2020). Essa fase é descrita por algumas mulheres como uma “montanha-russa emocional”. 

      Já a depressão pós-parto (DPP) é considerada um problema de saúde pública, caracterizada por um episódio de tristeza maior que ocorre dentro das quatro primeiras semanas, ou ao longo dos meses, após o parto, e sem estimativa de término. Alguns dos sintomas da DPP são: presença de humor deprimido, perda de interesse ou prazer por quase todas as atividades, perda ou aumento de apetite (Vieira, 2020). Além disso,é nessa fase que pode haver surgimento de sentimentos conflitantes tanto em relação ao bebê quanto à própria vida da puérpera com DPP.   

         A American Psychiatriac Association (2014) destaca que sintomas de ansiedade e humor alterado aliados ao baby blues podem desencadear o quadro de DPP, fato que ocorre em até 50% dos casos. Dessa forma, a puérpera com baby blues passa a apresentar outros sinais de alerta, como: insônia, ansiedade grave, sentimento de inutilidade, culpa e ataques de pânico (Moll et al., 2019). Sendo assim, diante da gravidade desses transtornos, a falta de informação e de um acompanhamento adequado pode dificultar o processo de prevenção e diagnóstico, sendo de extrema importância o acompanhamento de pré-natal.

       Quanto à prevenção do baby blues e DPP, algumas medidas adotadas evitam o seu aparecimento, como: acompanhamento psicológico, padrões regulares de sono, atividade física durante e após a gestação, uma boa rede de apoio e atividades que façam com que a mulher sinta-se a sua utilidade para além do papel de mãe. Assim, para o tratamento do Baby Blues, o cuidado relacionado ao emocional da mulher é o tratamento essencial, bem como  a compreensão da família e amigos, o descanso adequado e acompanhamento psicológico, caso seja necessário, são pilares necessários para a superação dessa condição (Gonçalves et al., 2018). 

          Já nos casos de DPP, o tratamento, além de combinar os pilares anteriormente citados, envolve uma abordagem multifacetada, incluindo como ponto principal a psicoterapia, uma vez que a ajuda profissional se mostra crucial para a recuperação, e em casos graves, a necessidade da farmacoterapia (Pinheiro, 2018). Em ambas as condições, é importante que os familiares e amigos tentem proporcionar um ambiente de apoio para a mãe, ajudando a superar esses desafios e a obter êxito no cuidado consigo mesma e com o seu bebê. 



REFERÊNCIAS 


AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (org). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-V. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Tradução M.I.C. Nascimento.


ALVES, B. K. et al. Depressão pós parto e seus efeitos na relação mãe-bebê. Revista de Iniciação Científica e Extensão, [S. l.],v.4,n.1,p.536 --47,2021. Disponível em: https://revistasfacesa.senaaires.com.br/index.php/iniciacao-cientifica/article/view/314 


CASTRO, A. S. et al. Os aspectos psicológicos da mulher: da gravidez ao puerpério.  CES Revista, [S.l.], v. 33, n. 2, p. 202-218, dez. 2019. ISSN 1983-1625. Disponível em: https://seer.uniacademia.edu.br/index.php/cesRevista/article/view/2286  


GONÇALVES, A. P. et al. Reconhecendo e intervindo na depressão pós-parto. Revista Saúde em Foco, Edição nº 10, 2018. Disponível em: https://portal.unisepe.com.br/unifia/wp-content/uploads/sites/10001/2018/06/035_RECONHECENDO_E_INTERVINDO_NA_DEPRESS%C3%83O_P%C3%93S-PARTO.pdf 


MOLL, M. F. et al. Tracking Postpartum depression in Young wonen. Journal of Nursing, UFPE online, 13(5), 1338-1344, 2019.  Disponível em: https://doi.org/10.5205/1981-8963-v13i05a239289p1338-1344-2019 


PINHEIRO, P. Depressão pós-parto: causas, sintomas e tratamento. MD saúde on line, São Paulo, 2018. Disponível em>http://revista.lusiada.br/index.php/ruep/article/view/1169/u2019V16n44e 


TEMÓTEO, M. P. et al. Fatores associados à depressão pós-parto e instrumento para o diagnóstico precoce. Anais do Seminário Científico da FACIG, n. 4, 2019. Disponível em: https://pensaracademico.unifacig.edu.br/index.php/semiariocientifico/article/view/757 


VIEIRA FILHO, A. H. G. Transtornos Mentais na Gestação e Puerpério. P.41-47. In: CORDÁS, T.A.: SALZANO, F.T. (org). Saúde Mental. São Paulo Atheneu, 2006. Disponível em: http://revista.lusiada.br/index.php/ruep/article/view/1169/u2019V16n44e1169 

SERRATINI, C. P. et al. Depressão Pós-Parto: v. 16, ed. 44, 2019. Disponível em: http://revista.lusiada.br/index.php/ruep/article/view/1169 



Texto produzido pelas acadêmicas de enfermagem Ana Clara de Sousa Cavalcanti e Isabelly Fernandes Teotonio, e orientado pela Prof. Dra. Maria Berenice Gomes Nascimento.

 

Linha de Pesquisa: Tecnologias Cuidativo-Educacionais

Eixo temático: Saúde da mulher


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