LESÃO PULMONAR INDUZIDA PELO CIGARRO ELETRÔNICO (EVALI): COMO O USO CONTÍNUO PODE EVOLUIR PARA DOENÇA PULMONAR?

            Alguns indícios arqueológicos podem indicar que o consumo de cigarro acontecia há cerca de oito mil anos. E os primeiros registros de prejuízos à saúde por conta do uso do tabaco é datado de 1761, onde foram relatados ligações com acidente vascular cerebral, epilepsia, cânceres entre outras patologias (Barreto, 2018). O hábito de fumar representa uma significativa questão de saúde pública global, sendo categorizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das principais responsáveis por óbitos que poderiam ser evitados (Knorst et al., 2014).

FONTE: UOL Notícias, 2020.

Neste cenário, o cigarro eletrônico surgiu como uma alternativa para a administração de nicotina. Foi concebido pelo farmacêutico chinês Hon Lik e teve sua patente registrada em 2003. Apesar da escassez de informações conclusivas quanto à sua eficácia e segurança, a comercialização do cigarro eletrônico tem se expandido através da Internet, além de ser disponibilizado diretamente ao consumidor em diversos países. Nos últimos anos, o cigarro eletrônico, também conhecido como e-cigarro ou vape, emergiu como uma alternativa aparentemente menos prejudicial ao tabagismo tradicional. No entanto, pesquisas recentes têm revelado que esse dispositivo não é isento de riscos e pode ter consequências adversas significativas para o organismo (Brasil, [202-]; Knorst et al., 2014).

Em primeiro lugar, a inalação de vapores contendo nicotina, uma substância altamente viciante, pode levar à dependência química. Isso pode resultar em uma necessidade crescente de nicotina, levando os usuários a consumirem quantidades cada vez maiores ao longo do tempo. Essa dependência pode ser difícil de superar, aumentando a probabilidade de desenvolver um vício duradouro (Brasil, 2016; Souza, 2023).

Além disso, os líquidos utilizados nos cigarros eletrônicos muitas vezes contêm uma variedade de substâncias químicas nocivas, incluindo formaldeído, acetaldeído e acroleína. Quando vaporizados e inalados, estes compostos podem causar danos aos pulmões e ao sistema respiratório. A longo prazo, isso pode contribuir para o desenvolvimento de condições como bronquite crônica, enfisema e outras doenças pulmonares graves (Brasil, [202-]).

Ainda mais preocupante é o impacto sobre o sistema cardiovascular. Estudos recentes demonstraram que o uso de cigarros eletrônicos está associado a um aumento do risco de doenças cardíacas. A nicotina, em particular, pode elevar a pressão arterial e aumentar a frequência cardíaca, o que pode resultar em tensão adicional sobre o coração e aumentar as chances de eventos cardiovasculares graves (Scholz; Abe, 2019).

Além disso, os vapores liberados pelos cigarros eletrônicos podem conter partículas finas e produtos químicos que, quando inalados, podem causar danos nos tecidos pulmonares e inflamação crônica. Isso pode comprometer a capacidade dos pulmões de funcionar adequadamente, levando a problemas de respiração e diminuindo a qualidade de vida (Scholz; Abe, 2019). 

A EVALI, que é a sigla em inglês para lesão pulmonar induzida pelo cigarro eletrônico, é uma condição pulmonar associada ao uso de Dispositivos Eletrônicos de Liberação de Substâncias (DEFs). Esta condição foi identificada pela primeira vez em 2019 nos Estados Unidos. Inicialmente, a lesão pulmonar foi atribuída a certos solventes e aditivos presentes nesses dispositivos, desencadeando uma resposta inflamatória nos pulmões que pode resultar em fibrose pulmonar, pneumonia e até insuficiência respiratória. Até janeiro de 2020, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos registrou 2.711 casos de EVALI que resultaram em hospitalizações, e até fevereiro do mesmo ano, 68 mortes foram confirmadas. A idade média dos afetados era de 24 anos, sendo que 66% eram do sexo masculino, e a média de tempo de uso foi de 12 meses (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, 2022).

Em suma, embora o cigarro eletrônico possa ser visto como uma alternativa aparentemente menos prejudicial ao tabagismo convencional, é crucial compreender que não é isento de riscos. As consequências para o organismo podem ser sérias e de curto prazo. A melhor maneira de preservar a saúde é evitar o uso de qualquer forma de tabaco ou produtos similares, e buscar ajuda para superar o vício, se necessário. O cuidado com a saúde pulmonar e cardiovascular é essencial para uma vida longa e plena.



Linha de Pesquisa: Tecnologias Cuidativo-Educacionais: Desenvolvimento e Inovação no Campo da Saúde

Eixo Temático: Condições crônicas cardiovasculares

Orientadora: Profa. Dra. Elisangela Vilar de Assis

Produção: Adriano Freitas de Santana



REFERÊNCIAS

BARRETO, Ivan Farias. Tabaco: a construção das políticas de controle sobre seu consumo no Brasil. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, [S.L.], v. 25, n. 3, p. 797-815, set. 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Cigarros eletrônicos: o que sabemos?. o que sabemos?. 2016. Disponível em: https://www.inca.gov.br/bvscontrolecancer/publicacoes/edicao/cigarros_eletronicos.pdf. Acesso em: 14 set. 2023 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Saúde do Esdato de Goiás. NARGUILÉ E CIGARRO ELETRÔNICO: modismo entre adolescentes?. 202-. Disponível em: https://www.saude.go.gov.br/files/vigilancia/epidemiologica/tabagismo/Cartilha%20sobre%20cigarro 20eletr%C3%B4nico.pdf. Acesso em: 15 set. 2023. KNORST, Marli Maria; BENEDETTO, Igor Gorski; HOFFMEISTER, Mariana Costa; GAZZANA, Marcelo Basso. The electronic cigarette: the new cigarette of the 21st century?. Jornal Brasileiro de Pneumologia, [S.L.], v. 40, n. 5, p. 564-572, out. 2014. SCHOLZ, Jaqueline Ribeiro; ABE, Tania Ogawa. Cigarro Eletrônico e Doenças Cardiovasculares. Revista Brasileira de Cancerologia, [S.L.], v. 65, n. 3, p. 1-3, 2 out. 2019. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PNEUMOLOGIA E TISIOLOGIA (Brasil). EVALI. 2022. Disponível em: sbpt.org.br/portal/t/evali. Acesso em: 13 set. 2023. SOUZA, Barbara. Cetab critica interferência da indústria do tabaco nas políticas públicas de saúde relativas ao cigarro eletrônico. 2023. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca INFORME ENSP. Disponível em: https://informe.ensp.fiocruz.br/noticias/54168. Acesso em: 14 set. 2023.



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