Mini Exame do Estado Mental (MEEM) como marcador da Cognição em Idosos

O processo do envelhecimento acomete todas as funções orgânicas, morfológicas e funcionais dos idosos, ocasionando modificações profundas em seu modo de vida e de viver (LEITE et al., 2014). Dentre essas mudanças, a função cognitiva comumente afetada pela velhice sofre alterações que podem originar os chamados declínios cognitivos, levando o idoso a processos de debilidade física e mental, fazendo-se necessárias medidas intervencionistas e preventivas quanto às necessidades de desempenho cognitivo.
(FONTE: casaderepousoemfamilia.com.br/wp-content/uploads/2016/02/estimulacao-cognitiva-para-idosos.jpg)
A cognição define-se pela aquisição, processamento e aplicação de informações a vida cotidiana, conduzindo na tomada de decisão, escolha, desempenho, análise e aprendizado e desenvolvimento das Atividades de Vida Diária (AVD), determinando a autonomia e autodeterminação do ser humano. A manutenção e preservação da capacidade cognitiva resguardará o indivíduo quanto a sua integridade física, psicológica e social, indicando as condições necessárias para manter ativa a capacidade cognitiva a se desempenhar (CHAVES et al., 2015).

As alterações cognitivas são vivenciadas por quase todos os indivíduos à medida que estes envelhecem. Muito provavelmente, essas alterações devem-se principalmente as propriedades cerebrais relacionadas com a idade. Desse modo, os mecanismos de processamento de informação tornam-se com o passar dos anos mais lentificados constituindo-se como reflexo da diminuição da cognição (REBOLO, 2015).

Tais alterações muitas vezes acabam por serem confundidos com o processo natural do envelhecimento, sendo negligenciados e subdiagnostificada ocasionando prejuízos à saúde e na qualidade de vida do indivíduo idoso.

A utilização de mecanismos avaliativos como ferramenta de detecção precoce de sinais de declínio cognitivo em idosos, tem se mostrado bastante eficiente na identificação precoce de demências dos mais diversos tipos e causas, sendo um dos objetivos mais importantes na abordagem clínica de indivíduos idosos (LOURENÇO; VERAS, 2006).

O Mini Exame do Estado Mental (MEEM) é um instrumento de avaliação utilizado para detectar déficits cognitivos e rastrear quadros demenciais em indivíduos, principalmente em idosos. Este recurso é capaz de detectar sinais de alarme para déficit cognitivo em adultos e idosos, porém não tem poder de diagnosticar demência, apenas de propiciar sinais de alarme quanto ao risco de demência. Comumente, o MEEM tem sido uma ferramenta, bastante utilizada por pesquisadores para investigação e detecção de casos de demência tanto precoce como avançada, e seus possíveis fatores associados (CRISPIM, 2014).

O objetivo deste instrumento era de avaliar o estado mental, e mais especificamente sintomas de demência. Sua criação se deu, sobretudo, pela necessidade de uma avaliação padronizada, simplificada, reduzida e rápida dentro do contexto clínico (MELO; BARBOSA, 2015).

O mini mental foi desenvolvido nos Estados Unidos da América e publicado por Folstein et al., (1975). No Brasil, o MEEM foi inicialmente proposto por Bertolucci et al., (1994), o qual realizou a tradução e fez modificações apropriadas a população brasileira, e pôde observar, que o escore total do MEEM dependia, de certo modo, do nível educacional do público alvo.

O MEEM é composto por um conjunto de questões agrupadas em sete categorias que avaliam funções cognitivas específicas: orientação para tempo (cinco pontos); orientação para lugar (cinco pontos); registro de três palavras, referindo-se a memória imediata (três pontos); atenção e cálculo referindo-se a atenção e concentração (cinco pontos); lembrança das três palavras referindo-se a evocação (três pontos); linguagem referindo-se a nomeação e compreensão (oito pontos) e capacidade construtiva visual (um ponto). O escore do MEEM pode varia de 0 a 30 pontos (NASCIMENTO, 2008).

O ponto de corte usualmente utilizado para indicar comprometimento cognitivo varia em torno de 24 (LOURENÇO; VERAS, 2006; MACHADO et al., 2007; KOCHHANN et al., 2010). Tombaugh e MacIntyre (1992) observaram que esta escala possui uma boa consistência interna e confiabilidade teste-reteste, demonstrando que o ponto de corte 23/24 tem boa a excelente sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de demência.

Entretanto, a adoção desse ponto de corte para indivíduos de escolaridade baixa, é ainda bastante questionável (VALLE et al., 2009). No Brasil, têm sido propostos pontos de corte mais baixos para indivíduos sem escolaridade formal ou com níveis de escolaridade muito baixos. Dentre os escores propostos a população brasileira, tem-se valores bastante díspares, variando entre 12/13 e 18/19 (VALLE et al., 2009; SOUZA et al.,2014).

A utilização do MEEM como instrumento de triagem para declínios cognitivos faz-se mais apropriado e útil, manter os níveis de sensibilidade altos em comparação ao de especificidade buscando assim detectar maior número possível de casos verdadeiros, mesmo que isso ocorra em detrimento da inclusão de falsos positivos (SOUZA et al., 2014).

Assim, o MEEM constituiu-se como um dos testes mais empregados, pesquisados e estudados em todo o mundo. Este pode ser usado de forma isolada ou em associação a outros mecanismos avaliativos mais amplos, permitindo o rastreamento e avaliação das funções cognitivas e consequentemente dos quadros demenciais. É amplamente utilizado em pesquisas de base populacional e em estudos epidemiológicos, devido ser de fácil e rápida aplicação (NASCIMENTO, 2008).

O MEEM é um instrumento capaz de realizar uma avaliação de forma rápida, prática e segura das funções cognitivas visando uma melhor abordagem e conduta no atendimento ao público idoso, uma que vez que quando detectado precocemente os déficits cognitivos torna-se passível de tratamento, melhorando a qualidade de vida.

Desse modo, pode-se notar a ferramenta eficaz que o Mini Exame do Estado Mental se constitui possibilitando estabelecimento de meios viáveis e possíveis para a promoção da saúde e bem estar de longevos, atuando diretamente na manutenção e reabilitação da saúde do idoso através de um cuidado integral, equânime e universal necessário a todos os indivíduos.

Referências
BERTOLUCCI, P. H. F.; MINETT, T. S. C. Perda de memória e demência. In: do PRADO, F. C, RAMOS, J.; DO VALLE, J. R, 1994. Atualização terapêutica 2007. 23ª ed. São Paulo: Artes Médicas, 2007.

CRISPIM, K. G. M. Condições de vida e saúde, distúrbios da comunicação e fatores associados: inquérito populacional em idosos residentes em Manaus, AM. 2014. 214f. Tese (Doutorado) – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2014.

FOLSTEIN, M. F.; FOLSTEIN, S. E.; MCHUGH, P. R. Mini-Mental Sta­te: a practical method for grading the cognitive state for the clinician. J. Psychiatr. Res., v.12, p. 189-98, 1975.

KOCHHANN, R. et al. The Mini Mental State Examination: review of cutoff points adjusted for schooling in a large Southern Brazilian sample. Dement. Neuropsychol., São Paulo, v. 4, n. 1, p. 35-41, 2010. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1980-57642010000100035 . Acesso em 09 de Maio de 2017.

LEITE, C. D. S. M. et al. Conhecimento e intervenção do cuidador na doença de Alzheimer: uma revisão da literatura. J. bras.Psiquiatr., v. 63, n. 1, p. 48-56, 2014.

LOURENÇO, A. R.; VERAS, R. P. Miniexame do Estado Mental: características pscicométricas em idosos ambulatoriais. Rev. Saúde Pública, v. 40, n. 4, p. 712-9, 2006.

MACHADO, J. C. et al. Ava­liação do declínio cognitivo e sua relação com as caracterís­ticas socioeconômicas dos idosos em Viçosa-MG. Rev. Bras. Epidemol., v. 10, n. 4, p. 592-605, 2007.

NASCIMENTO, N. M. R. Estudo comparativo sobre a prevalência de declínio cognitivo entre dois grupos de idosos. 2008. 69f. Dissertação (Mestrado em Gerontologia Biomédica) – Instituto de Geriatria e Gerontologia, PUCRS, 2008.

SOUZA, J. G. S. et al. Miniexame do estado mental: capacidade psicométrica e formas de avaliação. Rev. APS., v.17, n. 1, p. 101- 05, 2014.

TOMBAUGH, T. N.; MCINTYRE, N.J. The mini-mental examination: a comprehensive review. J. Am. Geriatr. Soc., v. 40, p. 922-35, 1992.

VALLE, E. A. et al. Estudo de base populacional dos fatores associados ao desempenho no Mini Exame do Estado Mental entre idosos: Projeto Bambuí. Cad. Saúde Pública, v. 25, n. 4, p. 918-26, 2009.

Texto elaborado pela Acadêmica de Enfermagem Lana Lívia e pela Profa. Ma. Fabiana Ferraz.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Adolescência e a puberdade: limites entre a maturação sexual e a erotização