Saúde digital e segurança do paciente: tecnologias como estratégias de apoio e desenvolvimento

A partir do momento em que ocorre a procura por um serviço de saúde, seja ele de nível primário, secundário ou terciário de atenção, o resultado almejado é a cura, reabilitação e/ou melhora do estado de saúde, e neste processo, a segurança e qualidade do cuidado fazem uma grande diferença no itinerário terapêutico dos usuários dos serviços (ROMERO, 2018). A temática segurança do paciente vem ganhando destaque nos últimos tempos, juntamente com análises de possíveis desfechos clínicos decorrentes de falhas na segurança assistencial, uma vez que a ausência ou falta de cuidado com medidas simples como a lavagem das mãos, até outras mais complexas, como a segurança em cirurgias, por exemplo, podem potencialmente gerar desfechos desfavoráveis aos pacientes (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018). 



A qualidade do atendimento e dos cuidados prestados ao paciente são de grande relevância, e como seus principais pilares, tem-se a efetividade (impacto gerado), eficácia (resultado da ação), eficiência (mais qualidade com menos custo), otimização (potencializar o tempo gasto), aceitabilidade (atendimento das expectativas do paciente), legitimidade (conquista de acreditação da instituição), equidade (qualidade assistencial para todos os pacientes) e cuidado centrado no paciente (respeito a autonomia)  (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).

Para ampliar e potencializar o alcance da qualidade do cuidado e segurança do paciente, o uso de tecnologias pode ser muito benéfico, permitindo desde reuniões remotas entre profissionais, até acessos rápidos a resultados de exames do paciente e a própria inteligência artificial, grande aposta futura para mapear e eliminar as possíveis causas de um problema para a segurança do paciente, ajudando na contenção de gastos em saúde.

Neste sentido, no Brasil recentemente foi criada a  Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS),  instituída pela Portaria GM/MS nº 1.434, de 28 de maio de 2020, que se trata de uma plataforma que integraliza os dados contidos acerca do paciente dentro de diferentes Sistemas de Prontuário ou Registros Eletrônicos em Saúde (S-RES) em diferentes instituições da Rede de Atenção à Saúde, de forma a gerar um conjunto completo de dados integrados, que permite a interoperabilidade em território nacional, projeto estruturante do Conecte SUS. Dentre os benefícios da operacionalização da RNDS, temos a utilização dos dados para a continuidade do cuidado, especialmente quando temos a transição dentro dos diferentes níveis de atenção, seja nos setores públicos ou privados (BRASIL,2022)

Ao se fazer uso de ferramentas como esta, é possível realizar um cuidado coerente e sistematizado, bem como contribuir com o desenvolvimento de pesquisas científicas que sustentam uma Prática Baseada em Evidências (PBE), essencial para o desenvolvimento do cuidado de enfermagem e aumento da resolutividade de casos, utilizando práticas seguras comprovadas cientificamente e centradas no paciente (SCHNEIDER; PEREIRA; FERRAZ, 2020). Dessa forma, pode-se evitar o desvio das reais necessidades do paciente, garantindo um cuidado direcionado e de qualidade, de forma a reduzir o número de eventos adversos e erros na prática assistencial, resultando em um aumento exponencial na segurança do paciente. 

Uma outra importante ferramenta, o Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), consiste em um banco de dados que registra de forma digital todos os dados do quadro clínico do indivíduo. Advinda dos avanços tecnológicos em saúde, possibilita substituir as informações em papéis, que ocasionam uma problemática em virtude da fragilidade dos documentos, inelegibilidades, rasuras e escassez de espaços físicos para seu armazenamento. Dentre as potencialidades oferecidas pelo PEP, destacam-se o ganho de tempo no preenchimento, facilidade do acesso a informações, viabilização de uma comunicação mais efetiva entre a equipe multidisciplinar, uso simultâneo por vários profissionais, emissão de relatórios e integração com outros sistemas e segurança da informação que também podem ser utilizados para realização de segurança do paciente, em virtude da precisão dos diagnósticos e prescrições, a facilidade do preenchimento também reduz a visão do profissional como uma mera “burocracia” do serviço. Além disso, a exatidão da informação por meio da legibilidade propicia uma maior qualidade de interpretações e menos ocorrência de erros na assistência. Dessa forma, é notório que o PEP traz benefícios à gestão das organizações de saúde e à sistematização da assistência do profissional, impactando diretamente na segurança e qualidade do cuidado. 

Como é possível perceber, a tecnologia se faz presente de forma crescente na vida cotidiana. Os serviços de saúde por sua vez, acompanham tais transformações do mundo digital e implementam na sua rede de cuidados visando a qualidade devolutiva. Apesar de ser uma área que enfrenta desafios para implementação, a adoção de tecnologias digitais na saúde podem proporcionar à atuação de serviços mais seguros, de qualidade, bem como facilitar a dinâmica de trabalho nos setores de saúde como por exemplo, auxiliando na prevenção, promoção da saúde e descoberta de alterações no estado de saúde. Apesar de aparentemente ser uma novidade no campo da saúde, trabalhar com saúde digital não é uma realidade distante, e deve ser enxergada como uma alavanca no aperfeiçoamento no trabalho da equipe multiprofissional, bem como o ponto de partida para melhor tomada de decisão na gestão dos serviços, garantindo que a junção do trabalho humano com as tecnologias sejam pilares de excelência nos serviços e sistemas de saúde. (UPFLUX, [s.d.])

REFERÊNCIAS 

BRAGA, T.; G.G, GARBE. Potencialidades e fragilidades do prontuário eletrônico de paciente: uma revisão integrativa. 


BRASIL. Ministério da Saúde. Banco de dados do Sistema Único de Saúde-DATASUS. Rede Nacional de Dados em Saúde. Disponível em: https://datasus.saude.gov.br/rnds-2/ .Acesso em: 26 de setembro de 2022.

Ministério da Saúde. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança do Paciente. Brasília- DF, 1° edição, 2014.

PEDROZA, Paulo Janiel Rodrigues. Potencialidades e dificuldades no uso do prontuário eletrônico do paciente no município de Piquet Carneiro. Trabalho de conclusão de curso, 39 p., 2016.

ROMERO, M. P. et al. A segurança do paciente, qualidade do atendimento e ética dos sistemas de saúde. Revista Bioética, Brasília- DF, v. 26, n. 3, p. 333-342, 2018.

SCHNEIDER, Luana Roberta; PEREIRA, Rui Pedro Gomes; FERRAZ, Lucimare. Prática Baseada em Evidências e a análise sociocultural na Atenção Primária. Physis: Revista de Saúde Coletiva. v. 30, n. 02, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-73312020300232. Acesso em: 26 de Setembro de 2022.

UPFLUX. Tecnologia na saúde: a transformação digital e a melhoria da qualidade assistencial | UpFlux. Disponível em: <https://upflux.net/blog/tecnologia-na-saude/amp/>. Acesso em: 26 set. 2022.


Linha de Pesquisa: Tecnologias cuidativo-educacionais: desenvolvimento e inovação no campo da saúde.

Eixo Temático: Saúde digital, qualidade do cuidado e avaliação em saúde

Texto produzido pelos acadêmicos de Enfermagem Larissa Rodrigues Oliveira, Maria Tereza Leite Mariano, Márley Romão Leite e Hortência Inácio Fernandes , orientado pela professora Dra. Cícera Renata Diniz Vieira Silva.

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