O cenário da assistência à saúde da mulher vítima de violência
A
violência contra a mulher distribui-se em física, psicológica, doméstica,
moral, patrimonial, sexual, tráfico de mulheres, assédio sexual, entre outros
(BRASIL, 2011). Trata-se ainda de uma ação relacionada ao gênero, ou seja, uma ramificação
ou produto da disparidade de gênero como construção histórica, social e
cultural que caracteriza a mulher como submissa,além disso, a violência é uma
agressão aos direitos humanos que implica em problemas de saúde na vítima e,
atualmente, é configurada como um problema de saúde pública (CORTES et al.,
2015). Tendo isso em vista, os serviços de saúde devem organizar-se numa logística,
sobretudo no que diz respeito à abordagem profissional e articulação dos
serviços, que possa compreender o atendimento às mulheres em situação de
violência e sejam resolutivos nesta problemática.
(FONTE : https://www.unasus.gov.br/noticia/aten%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-sa%C3%BAde-da-mulher-em-situa%C3%A7%C3%A3o-de-viol%C3%AAncia-%C3%A9-o-tema-do-novo-curso-da-una-susufmg)
A
Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres dispõe de diretrizes,
objetivos e eixos estruturantes que variam desde prevenção – ações educativas e
culturais de intervenção no cenário sexista; Enfrentamento e combate – ações
punitivas e cumprimento da Lei Maria da Penha; Acesso e garantia de direitos –
cumprimento das normas legislativas vigentes nacionais e internacionais e
empoderamento das mulheres; Assistência – fortalecimento da Rede de Atendimento
e capacitação dos agentes públicos (BRASIL, 2011).
No
âmbito jurídico, a proteção da integridade da mulher foi garantida pela Lei nº11.340/2006
(Lei Maria da Penha), e desde então aplica-se para crimes de violência contra a
mulher conseguindo amparar e assistir a vítima a partir do respaldo legal
(MARTINS et al., 2018).
Os
diversos setores que atuam na assistência à mulher vítima de violência
apresentam pouca articulação entre si culminando na individualização de cada
setor, algo que dificulta a atuação dos profissionais no referenciamento (ARBOIT
et al., 2017). Ainda segundo Arboit et al.(2017), numa perspectiva
multissetorial, o atendimento deve ser assegurado mediante um conjunto de
serviços, tais como Unidade Básica de Saúde (UBS), Centro Especializado de
Assistência Social (CREAS), Pronto Atendimento (PA), Secretaria de Saúde,
delegacia da mulher, Secretaria de Assistência Social, Centros de Atenção
Psicossocial e Casa de Passagem.
Guzzoet
al. (2014) apontam a integralidade como um princípio do Sistema Único de Saúde
(SUS) fundamental no atendimento à vítima de violência, no entanto, não está
sendo plenamente praticado na Estratégia Saúde da Família, pois as práticas
estão direcionadas para o aspecto biológico dissociado dos aspectos
psicossociais. Outro impasse encontrado para a assistência qualificada está na
capacitação dos profissionais para o atendimento das usuárias, os quais ainda
demonstram despreparo diante de uma situação de violência (GUZZO et al,2014; MARTINS
et al., 2018).
De
acordo com a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM),
um dos objetivos específicos e estratégicos é a promoção da atenção às mulheres
e adolescentes em situação de violência sexual e doméstica, incluindo:organizar
redes integradas de atenção às mulheres em situação de violência doméstica e
sexual, articular a atenção à mulher em situação de violência com ações de
prevenção de DST/aids e promover ações preventivas em relação à violência
doméstica e sexual (BRASIL, 2004).
Diante
de uma paciente vítima de violência, algumas medidas devem ser tomadas pelos
profissionais de saúde, a saber: identificar o caso, questionar direto e claramente,
enfatizar o papel da Lei Maria da Penha, realização da notificação compulsória,
seguir o protocolo preconizado pelo Ministério da Saúde para o atendimento às
mulheres em situação de violência, orientar sobre a denúncia, priorizar a
intersubjetividade, interação e escuta sensível (MARTINS et al., 2018).
O
uso das tecnologias leves é um instrumento demasiado importante no manejo das
situações de violência, por exemplo, a escuta qualificada, a qual permite o
cuidado mais humanizado a partir da sensibilização e empatia do profissional
para lidar com o paciente (FERNANDES E HORTA, 2018).
A
violência contra a mulher ainda é bastante prevalente e, por isso, é uma das
demandas nos serviços de saúde. Sendo assim, a Rede de Atendimento precisa
estar organizada e articulada de modo a atender de maneira qualificada a mulher
em situação de violência. A capacitação profissional é fundamental para que
seja possível o reconhecimento de casos, a notificação compulsória, a qual
expõe a epidemiologia da problemática, e a tomada de condutas de combate à
violência e assistência, em todos os setores, à vítima.
Referências:
ARBOIT, Jaqueline et al. Atenção à saúde de mulheres em situação
de violência: desarticulação dos profissionais em rede. Rev. esc.
enferm. USP, São Paulo , v. 51, e03207, 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: princípios e
diretrizes. Brasília, 2004.
BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Políticas
para as Mulheres. Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as
Mulheres.Brasília, 2011.
CORTES, Laura Ferreira et al. Cuidar mulheres em situação de
violência: empoderamento da enfermagem em busca de equidade de gênero. Rev.
Gaúcha Enferm., Porto Alegre , v. 36, n. spe, p.
77-84, 2015 .
FERNANDES, Hugo; HORTA, Ana Lúcia de Moraes. Enfermagem e
tecnologias leves para a cultura de paz na família. Rev. Bras. Enferm.,
Brasília , v. 71, supl. 6, p. 2854-2857, 2018.
GUZZO, Patrícia Caprini et al. Práticas de saúde aos usuários em
situação de violência: da invisibilidade ao (des)cuidado integral. Rev.
Gaúcha Enferm., Porto Alegre , v. 35, n. 2, p.
100-105, June 2014.
MARTINS, Lidiane de Cassia Amaral et al. Violência de gênero:
conhecimento e conduta dos profissionais da estratégia saúde da família. Rev.
Gaúcha Enferm., Porto Alegre , v. 39, e2017-0030,
2018 .
Texto
elaborado pela acadêmica de Enfermagem Irlla Jorrana Bezerra Cavalcante e pela
professora Dra. Maria Berenice Gomes Nascimento Pinheiro
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