A Educação Emocional como estratégia para o desenvolvimento da autonomia, realização e socialização na infância e adolescência



Ira, tristeza, medo, prazer, amor, surpresa, nojo, vergonha. Essas são emoções primárias, uma maneira singular de interagir com o mundo, sentir, interpretar e se expressar. Envolve o corpo, a mente, sentimentos e habilidades, como defende Goleman (1995). As emoções interligam-se diretamente com os principais sistemas fisiológicos do corpo, como os sistemas neurológico, imunológico, cardiovascular, endócrino e linfático, provocando alterações sistêmicas. 




Nesse contexto, Gardner (1994) define que o desenvolvimento da inteligência emocional (IE) está ligado ao reconhecimento, expressão e controle das emoções. Podendo ser categorizada em cinco habilidades:
1. Autoconsciência emocional - que é a capacidade de reconhecer as próprias emoções e sentimentos;
2.Autocontrole emocional – que é a habilidade de lidar com os próprios sentimentos, adequando-os a cada situação vivida;
3. Automotivação emocional – que é a capacidade de dirigir as emoções a serviço de um objetivo ou realização pessoal;
4. Reconhecimentoemocional em outras pessoas - que é à habilidade de reconhecer emoções no outro e ter empatia de sentimentos;
5. Habilidades sociais – que são os comportamentos emitidos na interação com os outros indivíduos. O relacionamento é, em grande parte, a habilidade de gerir sentimentos de outros, expressando sentimentos positivos, defendendo os direitos e a autoestima e interagindo socialmente.

Diante das situações do dia a dia, cada pessoa tende a emitir uma reação, que pode ser habilidosa ou não, e depende do contexto cultural, ambiental e principalmente pessoal. O desenvolvimento emocional é uma construção pessoal, mas que é altamente influenciado pelo meio, e é neste ponto que se faz fundamental a educação emocional. A educação emocional consiste em um processo complexo e de construção permanente, originado no seio da família, passando pela escola e continuando por toda a vida. Ela não está focada na mensuração da inteligência, porque se preocupa com o aperfeiçoamento da capacidade de gerar conhecimentos com maior planejamento e depriorizar o pensamento sobre o sentimento (BUENO, PRIMI, 2003; GOMES, SIQUEIRA, 2010; REBELO, 2012).

A grande questão é que talvez os educadores – e isso inclui pais, familiares, professores, etc. – ainda estejam muito presos ao modelo educacional do século XIX e estão tão preocupados com as baixas notas em disciplinas clássicas como português ou matemática, que estão esquecendo do analfabetismo emocional, que é muito mais catastrófico. A sociedade está repleta decrenças em que uma única aptidão é determinante para o futuro pessoal e profissional. No entanto, esta é uma visão limitada diante da totalidade biopsicossocial e emocional que compreende o ser humano e sua individualidade, repleta de talentos, aptidões e potencialidades que são extremamente valiosos para a vida pessoal e profissional, e estão além do quociente de inteligência – QI (BELTRÁN, et al., 2019; GONZAGA, MONTEIRO, 2011;GOLEMAN, 1995; REBELO, 2012).

Neste contexto, em 2017, a chamada Educação Socioemocional foi implementada pelo MEC como disciplina da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Percebe-se assim que a saúde emocional e o bem-estar das crianças e adolescentes são sem dúvida fatores cruciais no processo de desenvolvimento de sujeitos proativos para lidarem com questões emocionais e sociais impostas pelos desafios cotidianos. Assim, se faz necessário sanar vulnerabilidades que funcionem como gatilho para o adoecimento emocional, em todos os contextos de convivência social – casa, escola, trabalho, instituições de saúde, etc. (MAIA, LOBO,2013; MOREIRA, ABREU, NETO, 2012).

Inteligência emocional e o poder pessoal estão intimamente relacionados, de modo que a falta de inteligência emocional promove problemas de relacionamento social, dependência familiar, tristeza, ansiedade, depressão, problemas de atenção e raciocínio, dificuldade de concentração, impulsividade, delinquência, agressividade, desafeto. Nas crianças e adolescentes, os problemas de relacionamento são um caminho para a depressão. Essas dificuldades podem estar no relacionamento familiar ou com os colegas e a dificuldade em expressar seus sentimentos torna mais difícil para os pais oferecer o apoio e a orientação emocional. Ao contrário disso, quem demonstra controle emocional, autoestima elevada e autoconfiança têm capacidade para identificar muitas soluções para os problemas enfrentados no dia-a-dia e encarar a vida de maneira positiva (ACOSTA, CLAVERO, 2017; CORTIZO, ANDRADE, 2017; GUTIÉRREZ, et al., 2014; HORTA, et al., 2016;PEREIRA, 2014;SOLANA, 2015).

Estudos demonstraram ainda que a IE tem um impacto positivo na saúde física e mental das crianças e adolescentes, porque tanto na vida pessoal quanto na profissional, o poder pessoal de alguém vale muito mais do que o cargo que ocupa,seus recursos financeiros ou seu poder de punição. Porque é considerada um elemento diferencial entre crianças e adolescentes em idade escolar envolvidos ou não em bullying (que são agressões físicas e/ou psicológicas repetitivas) e cyberbullying (agressões virtuais), de modo que Crianças e adolescentes emocionalmente desenvolvidos possuem menor vulnerabilidade emocional, maior autoconfiança e segurança para ativar mecanismos que permitam iniciativa para saída desse tipo. Assim, dificilmente tornam-se vítimas desse tipo de agressão e quando são vítimas conseguem mais rapidamente encontrar uma maneira de solucioná-lo (BELTRÁN, 2019; CATALÁN, 2018).

Diante desse contexto, reconhecer sentimentos e expressá-los; identificar as ligações entre pensamentos, sentimentos e reações; saber se são os pensamentos ou os sentimentos que governam uma decisão; reconheceras próprias forças e fraquezas; compreender o que está por trás de um sentimento; aprender as artes da cooperatividade, solução de conflitos e negociação de compromissos; respeitar às diferenças no modo como as pessoas encaram as coisas, são exercícios que devem tornar-se rotina no cotidiano de cada indivíduo, para que cada dia seja um novo degrau no caminho para a inteligência emocional (PAVARINI, LOUREIRO,SOUZA, 2011; NAKANO, ZAIA, 2012).

Referências:

ACOSTA, F.P.; CLAVERO, F.H. Predictores de laansiedad y la inteligência emocional enlaadolescência. Apuntes de Psicología, Ceuta, v. 35, n.1, p. 63-71, ago. 2017. Disponívelem:<http://www.apuntesdepsicologia.es/index.php/revista/article/view/652/480>. Acesso em: 25 de julho de 2019.

BELTRÁN, Y.H. et al.TionshipbetweenPhysicalActivityandEmotionalIntelligenceandBullyingAmongSchoolChildren.Revista de Psicologíadel Deporte, Barcelona, v. 28, n.1, p. 97–104, 2019. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/330684468_Relationship_between_Physical_Activity_and_Emotional_Intelligence_and_Bullying_Among_School_Children>. Aceso em: Acesso em: 25 de julho de 2019. 

BUENO, J.M.H.; PRIMI, R.Inteligência Emocional: Um Estudo de Validade sobre a Capacidade de Perceber Emoções. Psicologia: Reflexão e Crítica, Porto Alegre,v.16, n.2, p. 279-291, mai., 2003. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010279722003000200008&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 25 de julho de 2019. 

CATALÁN, M.B. et al.Victimisationthroughbullyingandcyberbullying: Emotionalintelligence, severityofvictimisationandtechnology use in differenttypesofvictims. Psicothema, Córboda, v. 30, n. 2, p. 183-188, dez. 2018. Disponível em: <http://www.psicothema.com/pdf/4468.pdf>. Acesso em: 25 de julho de 2019.

CORTIZO, M.L.C.; ANDRADE, R. A relação entre a inteligência emocional e a vida profissional. Psicologia.pt, 2017.

GARDNER, H. Estruturas da Mente - A teoria das inteligências múltiplas. 1ª ed., Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.

GOLEMAN, D. Inteligência emocional – a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente, Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1995.

GOMES, R. A.; SIQUEIRA, M. M. M. Inteligência emocional de estudantes universitários. Psicol inf., São Paulo, v. 14, n. 14, p. 29-43, out., 2010.

GONZAGA, A.R.;MONTEIRO, J.K. Inteligência emocional e qualidade de vida em gestores Brasileiros. Avaliação Psicológica, Porto Alegre, v.10, n.2, p. 117-127, ago., 2011. Disponível em:<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167704712011000200003>. Acesso em: 26 de julho de 2019.

GONZAGA, A.R.; MONTEIRO, J.K.Inteligência Emocional no Brasil: Um Panorama da Pesquisa Científica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Porto Alegre, v. 27 n. 2, p. 225-232, abr.2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722011000200013>. Acesso em: 26 de julho de 2019.

GUTIÉRREZ, A.E. et al.El papel mediador de laregulación emocional entre eljuego patológico, uso abusivo de Internet y videojuegos y lasintomatología disfuncional enjóvenes y adolescentes. Adicciones, Barcelona, v.26, n.4, p. 282 – 290, jan. 2014. Disponível em:<http://www.adicciones.es/index.php/adicciones/article/view/26/26>. Acesso em: 25 de julho de 2019.

HORTA, R.L. Et al.Condições associadas a prejuízo de desempenho em habilidades sociais em uma amostra de conveniência de usuários de crack. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 34, n. 4, p. 107-115, abr., 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102311X2016000400703&script=sci_abstract&tlng=pt>. Aceso em: 26 de julho de 2019.

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Texto elaborado pela acadêmica do curso de Graduação em Enfermagem, Francisca Patricia da Silva Lopes, sob orientação da professora Drª. Silvia Carla Conceição Massagli.

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