Teoria da Aprendizagem Significativa de Ausubel: interfaces para o processo cuidativo-educacional na perspectiva tecnológica


Somos cercados pela arte, ciência e tecnologia, que encontram-se por toda a parte. Suas interpretações exigem de cada um, um conjunto de conhecimentos composto de diferentes áreas, habilidades e atitudes, para que os seus eventos sejam compreendidos e assumam relevância para cada indivíduo. A estrutura da grande maioria das instituições escolares e de saúde ainda apresentam um entrave: estão muito presas ao modelo de organização do século XIX, que prioriza a passividade, verticalização do ensino e a aprendizagem limitada pela técnica de decorar. No contexto de ensino atual o ensino-aprendizagem já não pode mais ser pensado através de estímulos, respostas e reforços, mas sim, de significados, construtivismo e protagonismo.


A sustentação do processo educativo está no fato do homem não ser detentor de todo o conhecimento que existe e buscá-lo, de modo que neste percurso o seu ser é transformado e o meio em que está inserido também se transforma, pela interação entre o educador, educando e o ambiente(SOUSA, et al., 2015; CARRIL, NATÁRIO, ZOCCAL, 2017). No contexto da saúde, o educador é todo o profissional que venha a compartilhar informações a respeito do processo saúde-doença e que contribua para a prevenção, promoção e manutenção da saúde da população, empoderando e tornando a população educanda,consciente, responsabilizada e incumbida pelas principais práticas relacionadas a sua saúde, tornando-se protagonistas. No entanto, para que aconteça esse protagonismo, se faz necessário que os conhecimentos compartilhados entre o educador e o educando estejam dentro do contexto em que eles vivem e que esse conhecimento seja capaz de dar sentido ao saber e à prática dequem aprende, tornando a aprendizagem significativa.

A aprendizagem significativa constitui de um processo onde uma nova informação se relaciona com conhecimentos prévios, que são os chamados subsunçores, de modo que dessa interação entre o conhecimento prévio e o novo conhecimento, mudanças são provocadas na estrutura cognitiva e as informações novas são assimiladas pelo indivíduo. Consiste em acreditar que as pessoas, através de suas habilidades singulares, são capazes de construir o conhecimento segundo sua maneira de enxergar as coisas e o mundo e suas experiências de vida.Assim, os subsunçores são conhecimentos relevantes para o indivíduo, e cruciais para a aprendizagem significativa, já que servem como matriz construtiva e organizacional para a incorporação, compreensão e fixação de novos conhecimentos. (LIRA, et al., 2015; MOREIRA, 2011; PELIZZARI, et al.,2002; SOUSA, et al., 2015).

Entrando em um enfoque também Piagetiano, o ensinar consiste em provocar instabilidade na estrutura cognitiva do aprendiz, para que ele, por sua vez, seja capaz de reestruturar o equilíbrio cognitivo e aprender significativamente. Aprender, ganha o sentido de ser a resiliência em remodelar-se mentalmente, estando sempre à procura de novos esquemas de assimilação, capazes de estabelecer o ajuste cognitivo ás novas situações. No entanto, para que o indivíduo seja capaz de reestruturar seu conhecimento, é preciso que o novo conhecimento seja compatível com o nível de desenvolvimento cognitivo do aprendiz e que o desequilíbrio causado na estrutura cognitiva não deve ser grande a ponto de levá-lo a abandonar o encargo de aprendizagem (PELIZZARI, et al., 2002; TEZANI, 2016).

Cabe ao professional da saúde, enquanto educador, facilitar a ampliação de conhecimentos. Assim, deve dar grande atenção ao conteúdo e à estrutura cognitiva do aprendiz, buscando alternativas e princípios para ponderá-los. Moreira (2011), Sousa, et al. (2015), Carvalho,et al.(2015) descrevem como:

·         Não sobrecarregar o aprendiz de informações, para não dificultar a organização cognitiva;
·         Estabelecer uma ordem na explicação dos conceitos a partir do que o aprendiz conhece (Princípio da Organização sequencial);
·         Utilizar-se de organizadores prévios, que são materiais introdutórios ao material de aprendizagem propriamente, que são mais abstratos e gerais, mas que podem ser utilizados tanto para ancorar provisoriamente o que o aprendiz conhece e irá conhecer como para resgatar conhecimentos já assimilados, porém obliterados pelo desuso naquele contexto especificamente.
·         Introduzir ideia e conceitos aos poucos e sucessivamente serem especificados e aprofundados (Princípio da Diferenciação progressiva);
·         Explorar explicitamente as relações de semelhança e diferença entre os conceitos novos e entre o conteúdo subsunçor e o novo conteúdo compartilhado (Princípio da Reconciliação integrativa);
·         Incentivar e certificar-se de que os aprendizes já se apropriaram do conhecimento compartilhado, antes que novos conceitos sejam introduzidos (Princípio da Consolidação).

É importante destacar que a aprendizagem significativa é construída progressivamente e alicerçada na autonomia; que pensamentos, sentimentos e ações estão integrados ao ser que aprende; que o conhecimento em saúde,a ser compartilhado com os aprendizes, não é definitivo, mas não deve ser totalmente relativista e que principalmente, apesar do esforço do educador, é o aprendiz quem decide se quer aprender significativamente determinado conhecimento e aplica-lo a novas situações (PAIVA, et al.,2016; RODRIGUES, et al., 2016.).

No contexto educacional atual, a tecnologia educativa assume grande impacto social e cultural, transformando a aprendizagem anteriormente mecânica e depositária de informações em uma aprendizagempotencialmente significativa e prazerosa.Os jogos vem encontrado espaços cada dia mais amplos no contexto educacional e devem focar no desenvolvimento de múltiplas habilidades e conhecimentos e estar centrados no protagonismo (ALEXANDRE, PERES, 2011; TEIXEIRA, et al., 2015;).

O desenvolvimento de ambientes de aprendizagem através de jogos, físicos ou digitais, pode contribuir para que o ensino-aprendizagem seja mais participativo, sendo que os conteúdos e simulações poderão ser utilizados segundo necessidades e ritmos de aprendizagem do aprendiz.Por isso é importante reconhecer a importância do jogo como um veículo para o desenvolvimento social, emocional e intelectual dos aprendizes. Uma vez que estimula o crescimento e o desenvolvimento, as faculdades intelectuais, as habilidades sociais, fortalece a inteligência emocional, de maneira que conhece a si, ao próximo e ao mundo (PAULA, VALENTE, 2015; TEZANI, 2016).

Existem pontos que são fundamentais para que a Aprendizagem Significativa aconteça, como disposição do aprendiz e relevância do conteúdo. Assim, a utilização dos jogos incentiva a disposição do aprendiz pela dinamização do jogo como uma tecnologia leve, focada nas relações sociais. Tornando o conteúdo relevante para os aprendizes, ao passo em que integra múltiplas áreas do conhecimento e representa situações vividas no cotidiano prático do indivíduo (MOREIRA, 2011; PELIZZARI, et al., 2002; SOUSA, et al., 2015; GÓES, et al., 2015).

Referências:

ALEXANDRE, C.; PERES, F. A educação que motiva: o uso de rede social e jogos a favor da Aprendizagem Significativa. Hipertextus Revista Digital. v.7,n.1, Dez., 2011.

CARRIL, M.G.P.; NATÁRIO, E.G.; ZOCCAL, S. Considerações sobre Aprendizagem Significativa, a partir da visão de Freire e Ausubel – uma reflexão teórica. Revista Multidisciplinar de Ensino, Pesquisa, Extensão e Cultura do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira, Rio de Janeiro, v.6, n.º 13, p. 68-79, dezembro, 2017.

CARVALHO, D.P.S.R.P. et al. Teoria da Aprendizagem Significativa como proposta para inovação no ensino de Enfermagem: experiência dos estudantes. RevEnferm UFSM, Santa Maria, v.5, n.º 1, p. 186-192, Jan.-Mar., 2015.

GÓES, F.S.N. et al. Elaboração de um ambiente digital de aprendizagem na educação profissionalizante em enfermagem. Ciencia y Enfermería. Concepción, v. 21, n. 1, p. 81-90, abr., 2015.

LIRA, A.L.B.C. et al. Estratégia de aprimoramento do ensino do Exame Físico em Enfermagem. Enferm. Foco. Brasília, v. 6, n.1, p. 57-61, ago., 2015.

MOREIRA, M.A. Aprendizagem Significativa: um conceito subjacente. Aprendizagem significativa. Brasília: Editora da UnB, 2011.

PAIVA, M.R.F. et al. Metodologias ativas de ensino-aprendizagem. SANARE. Sobral, v.15 n.2, p.145-153, Jun.-Dez., 2016.

PAULA, B.H.; VALENTE, J.A.Jogos digitais e educação: uma possibilidade de mudança da abordagem pedagógica no ensino formal. Revista Ibero-americana de Educação. Araraquara, v.70, n.1, p. 9-28, dez. 2015.

PELIZZARI, A. et al. Teoria da Aprendizagem Significativa segundo Ausubel. Rev. PEC, Curitiba, v.2, n.º 1, p.37-42, jul., 2002.

RODRIGUES, C.C.F.M. et al. Ensino inovador de enfermagem a partir da perspectiva das epistemologias do Sul. Esc Anna Nery. Rio de Janeiro, v. 20, n. 2, p. 384-389, abr.-jun., 2016.

SOUSA, A.T.O. et al.Usingthetheoryofmeaningfullearning in nursingeducation. RevBrasEnferm. Brasília, v. 68, n.4, p. 13-22, jul.-ago., 2015.

TEIXEIRA, C.R.S. et al. Avaliação dos estudantes de enfermagem sobre a aprendizagem com a simulação clínica. Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília, v. 68, n. 2, p. 311-319, mar.-abr., 2015.

TEZANI, T.C.R. O jogo e os processos de aprendizagem e desenvolvimento: aspectos cognitivos e afetivos. Educação em Revista. Marília, v.7, n.2, p. 1-16, jun., 2016.

Texto elaborado pela acadêmica de Enfermagem Francisca Patrícia da Silva Lopes e pela professora Dra. Silvia Carla Conceição Massagli. 

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