O declínio cognitivo face ao processo de envelhecimento: é sinal de demência?
O envelhecimento faz parte
do curso natural da vida, assim como outras fases e deve ser encarado como tal.
Trata-se de um processo contínuo marcado por alterações físicas e biológicas
comuns aos seres humanos, que ovivencia de diversas formas.
(FONTE: https://paineira.usp.br/aun/index.php/2018/08/22/alzheimer-pode-ser-detectado-precocemente-com-ajuda-de-biomarcadores/)
A concepção do
envelhecimento é datada desde os tempos antigos até a modernidade como algo
associado a doenças e fragilidade. No entanto, com o passar dos anos, a partir
do desenvolvimento de normas e valores estruturados na sociedade, o idoso
passou a ser visto como figura a dispor de grande valor significativo para a
cultura, ocupando um espaço de poder e saber na sociedade (RODRIGUES; RAUTH;
TERRA, 2016).
Contudo, com os avanços
tecnológicos e a chegada do capitalismo, quando a sociedade passou a se
preocupar mais com o lucro proveniente dessa época, a imagem do idoso se
modificou e ele passou a ser deixado de lado, como se não soubesse ou fizesse
mais nada, experimentado do desamparo e desvalorização cultural, sob a
concepção de ser um indivíduo incapaz de trazer mais aquisições e sim apenas
perdas, sendo destituído também de sua posição de saber na sociedade (FIGUEIRÓ,
2017).
O envelhecimento, por sua
vez, pode vir a desencadear alterações cognitivas, observadas a partir da
dificuldade em realizar atividades motoras, tratar e manipular informações
visuais e espaciais, executar duas tarefas ao mesmo tempo, esquecimentos de
fatos recentes, entre outros (ROCHA et al., 2017; BEZERRA et al., 2016). Essas
alterações podem causar uma série de sentimentos negativos em relação ao
envelhecimento, especialmente se envolver o esquecimento, fator alvo de muitas
queixas.
Durante o processo de
envelhecimento, é comum haver certo declínio das funções cognitivas devido a
diversos fatores decorrentes dessa fase, podendo ser eles:
·
Ligados ao plano
neuroanatômico, como a redução da massa cerebral;
·
Ao neurofisiológico,
como a diminuição de número e tamanhos dos neurônios e a perda da eficácia dos
contatos sinápticos e;
·
Ao neuroquímico, pela
redução da concentração de neurotransmissores (SKA el al., 2010apud CASEMIRO, 2017).
Trata-se de mudanças que
podem ser observadas por meio da dificuldade de foco atencional e da percepção do
aumento do tempo para processamento de informações, por exemplo, o que acaba
deixando o idoso e as pessoas que estão ao seu redor com falsa impressão de
comprometimento da memória (CARDOSO, 2016), sendo muitas vezes associado tanto
pelos familiares como pela própria pessoa idosa ao surgimento de algum tipo de
demência como, por exemplo, o mal de Alzheimer. Logo, torna-se fundamental
saber diferenciar o normal do anormal.
A
atenção é uma manifestação capaz de administrar uma grande quantidade de
informações e pode ser classificada em quatro tipos:
·
Atenção seletiva, em
que um estímulo é escolhido e os outros são excluídos;
·
Atenção concentrada,
quando o foco é mantido em um estímulo;
·
Atenção alternada,
em que o cérebro combina diversas informações recebidas e;
·
Atenção dividida,
que ocorre quando há estímulos em duas situações diferentes (CARDOSO, 2016).
Deve-se ressaltar que o
declínio cognitivo, embora seja esperado durante o envelhecimento, mesmo que
não haja presença de alguma doença, é algo que acontece de forma subjetiva para
cada indivíduo, variando de acordo com as diferenças relacionadas a fatores
culturais e hábitos de vida tidos durante todo o processo de envelhecimento, podendo
ter associação a alimentação, fatores ambientais, socioeconômicos e até mesmo
genéticos (BJORKLUND, 2015).
A demência, por sua vez, é
definida como uma condição neurodegenerativa progressiva ou crônica,
caracterizada por declínio cognitivo severo, a ponto de influenciar
negativamente na vida diária da pessoa idosa (CONFORTIN et al., 2019), por
exemplo, quando o indivíduo se esquece de onde está ou como chegou em
determinado local e de como voltar para casa.
Devido a essas condições, a
demência configura-se como um dos agentes de deficiência e dependência da
pessoa idosa, não sendo considerado, portanto, como uma parte normal do
envelhecimento (OMS, 2019).
Portanto, o que ocorre
normalmente durante o envelhecimento é uma perda do foco de atenção que,
resumidamente, pode se agravar a partir de alguns fatores de risco como baixa
escolaridade e falta de atividades mentais, o que reforça a importância do
desenvolvimento de atividades que estimulem as funções cognitivas durante o
envelhecimento (CARDOSO, 2016), que pode ocorrer tanto a partir do incentivo de
profissionais de saúde, como de cuidadores e familiares presentes na vida do
idoso.
Referências:
BEZERRA, P.K. et al. Déficit
cognitivo: proposição de cartilha para atenção ao idoso.
Revista Brasileira de Pesquisa em Ciências e Saúde.V. 3, n. 1, p. 1-10.2016.
Revista Brasileira de Pesquisa em Ciências e Saúde.V. 3, n. 1, p. 1-10.2016.
BJORKLUND, B.R. The Journey of
adulthood.8ª ed. Florida: Pearson. p. 204-239. 2015.
CARDOSO, T.K.R. Declínio da capacidade atencional no idoso:
uma investigação psicopedagógica. 2016. Monografia (Bacharelado em
Psicopedagogia) – Centro de educação, Universidade Federal da Paraíba.
CASEMIRO, Francine
Golghetto. Efeitos do Treino Cognitivo e
Educação em Saúde sobre a cognição, sintomas depressivos e ansiosos em idosos
com Comprometimento Cognitivo Leve. 2017. Dissertação (mestrado em Ciências
da Saúde) - Departamento de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal
de São Carlos.
CONFORTIN, S.C. et al. Indicadores
antropométricos associados à demência em idosos de Florianópolis–SC, Brasil:
Estudo EpiFloripa Idoso. Ciência &
Saúde Coletiva.V. 24, n. 6, p. 2317-2324. 2019.
FIGUEIRÓ, P.R. O envelhecer e a velhice: considerações
sobre uma clínica do envelhecimento. 2018.Monografia (Bacharelado em Psicologia)
– Departamento de Humanidades e Educação, Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul.
OMS. Organização Mundial da
Saúde (World Health Organization). Dementia[internet].
Maio, 2019. Disponível em: https://www.who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/dementia.
ROCHA, M.R.C. et al.
Avaliação Funcional e Cognitiva do Idoso. In: Congresso Internacional de Enfermagem. 2017.
RODRIGUES, N.C; RAUTH, J;
TERRA, N.L. Gerontologia Social Para Leigos. – 2.ed. Rev. e atual. – Dados Eletrônicos. – Porto Alegre: EDIPUCRS, 2016.
112p.
SKA, B. et al.
Mudanças no processamento cognitivo em adultos idosos: déficits ou
estratégias adaptativas?. Estud. Interdicip. Envelhec.V. 14, n.1, p. 13-24. 2010.
estratégias adaptativas?. Estud. Interdicip. Envelhec.V. 14, n.1, p. 13-24. 2010.
Texto elaborado
pela Enf.ª Alêssa Cristina Meireles de Brito e pela docente Dra. Fabiana Ferraz
Queiroga Freitas.
Comentários
Postar um comentário