CIGARRO ELETRÔNICO: PROMESSA PARA A SAÚDE RESPIRATÓRIA OU ENGANAÇÃO?

Com variações de sabores, desde chiclete até algodão doce e cores diversas, o cigarro eletrônico (CE) se popularizou nos últimos anos, conhecido principalmente como Vape, esse dispositivo tem sido alvo de inúmeros estudos a respeito dos seus malefícios à saúde e embora proibida a sua comercialização e importação desde 2009, é crescente a taxa de usuários no Brasil, o que torna o seu uso uma grande tendência, principalmente entre os jovens. Também chamados de e-cigarro ou vaporizador, esses dispositivos foram produzidos com o intuito de substituir o cigarro convencional e reduzir os danos associados a ele e assim cessar o seu consumo, entretanto sua composição pode ser tão nociva ou até mesmo superior ao cigarro tradicional (BARRADAS et al., 2021).

Fonte: Google imagens

O cigarro eletrônico é composto basicamente por um atomizador onde se coloca o aroma em forma de líquido para que haja aquecimento e consequentemente a sua evaporação; uma bateria recarregável e um cartucho que na maioria das vezes contém nicotina e outras substâncias nocivas, como o propilenoglicol que é utilizada para diluir a nicotina e que também apresenta risco à saúde, principalmente quando associada ao uso do CE, pois quando vaporizada, libera o formaldeído em quantidades superiores ao cigarro convencional, essa substância por ser altamente cancerígena, ao longo prazo pode aumentar a incidência de câncer nos usuários desses dispositivos (KNORST et al., 2014).

Outro fator preocupante é a nicotina presente na maioria desses aparelhos, além disso, substâncias como acroleína, acetaldeído e outras substâncias derivadas de metais pesados também podem ser adicionadas aos cartuchos nicotínicos aumentando o risco de doenças pulmonares e cardiovasculares e o risco de câncer, principalmente de pulmão e também dos seios da face (PINTO et al., 2020).  Muitas vezes esses dispositivos também adicionam na sua composição outras substâncias como o tetra-hidrocanabinol (THC) ou derivados, o que potencializa ainda mais os danos à saúde.

As consequências do seu uso se baseiam principalmente em agressões contínuas ao epitélio respiratório, causando inflamação, alteração celular, desajustes de funções, principalmente no pulmão e diminuição da resposta imune a agentes agressores, o que pode abrir portas para infecções e outras doenças, como a pneumonia e a tuberculose, já que além de diminuir a resposta imune, pode haver aumento de lesão nos pulmões e interrupção do funcionamento dos cílios que são responsáveis por fazer a limpeza neste órgão (BATISTA et al., 2020).

Entretanto, essas consequências não se restringem apenas ao aparelho respiratório, pesquisas apontam que o uso contínuo pode acarretar problemas cardiovasculares, já que a inflamação causada pela sua utilização pode acometer o tecido que reveste as artérias, causando lesões e consequentemente episódios cardiovasculares agudos, como infartos (BRASIL, 2016).

Com o aumento de usuários uma nova doença pulmonar também surgiu, a Evali que pode ser denominada como uma doença relacionada ao uso do cigarro eletrônico, ela foi mencionada pela primeira vez nos Estados Unidos e está associada a reação inflamatória causada ao pulmão, em decorrência da desativação de células do sistema imune provocada pelo vapor emitido pelo vape, dados apresentados por D'Almeida et al. (2020) mostram que no mês de janeiro de 2020 foram confirmados 2.668 casos de EVALI, destes, 68 foram a óbito (MARTIN et al., 2022).

Artistas como Zé Neto da dupla Zé Neto e Cristiano e Solange Almeida experimentaram na pele as consequências do uso do cigarro eletrônico, inclusive divulgaram nas suas redes sociais um alerta para os usuários do famoso Vape, relatando a perca de voz e lesões nos pulmões identificados pelos médicos em decorrência do uso do dispositivo.

Entretanto, apesar dos relatos e das pesquisas apontarem todos os malefícios acarretados pelo uso dos CE, ainda são necessários mais estudos para correlacionar seus efeitos à algumas doenças, contudo, diante do exposto, fica explícito o seu efeito nocivo quando comparado ao cigarro convencional e como o seu uso é relativamente recente, ainda não se sabe com veracidade seus efeitos à longo prazo, o que torna a sua utilização ainda mais problemática, deste modo, é necessário aumentar a fiscalização para diminuir o acesso a esses aparelhos, já que seus riscos embora muitos, ainda não foram totalmente elucidados.

 

REFERÊNCIAS

BARRADAS, A. D. S. M.; SOARES, T. O.; MARINHO, A. B.; SANTOS, R. G. S.; SILVA, L. I. A. Os riscos do uso do cigarro eletrônico entre os jovens. Global Clinical Research Journal, v 1, n 1, p. 1-8, 2021.

BATISTA, B. G.; BATISTA, B. G.; LEMOS, L.; CARVALHO, A. D. P. M.; MAIA, I. D. A. M.; TAVARES, A. G. O. R. Uso indiscriminado do cigarro eletrônico e seus malefícios ao trato respiratório. Atena Editora, v 6, n 16, p.145-152, 2020.

BRASIL, Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Cigarros eletrônicos: o que sabemos? Estudo sobre a composição do vapor e danos à saúde, o papel na redução de danos e no tratamento da dependência de nicotina. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde. 2016.

D’ALMEIDA, P. C. V.; SILVEIRA, M. B.; POIANO, R.; AMÉRICO, B.; PADULA, A. L.; SANTOS, J. N. G. Lesões Pulmonares Associadas ao Uso do Cigarro Eletrônico. São Paulo: Blucher, v 6, n 4, p. 92-120, 2020.

KNORST, M. M.; BENEDETTO, I. G.; HOFFMEISTER, M. C.; GAZZANA, M. B. Cigarro eletrônico: o novo cigarro do século 21? Jornal Brasileiro de Pneumologia, v 40, p 564-572, 2014.

MARTIN, M.F.O.; NATÁRIO, J.A.A.; CORRÊA, G.O.; RITTER, G.P.; NETO, J.L.; OLIVEIRA, L.R.; BARBOZA, L.L.; NETO, B.C.; CARVALHO, S.C.M.; ABRAHÃO, N.M. A relação entre a utilização de cigarros eletrônicos e doenças pulmonares: uma revisão integrativa. Research, Society and Development. v 11, n 1, e13211125030, 2022.

PINTO, B. C. M.; LIMA, M. M. B.; TORRES, G. G.; TEIXEIRA, I. D.; RODRIGUES, J. C.; PONTELLI, L. H. B. S.; ARÊDES, M. R.; FREITAS, V.A.P. Cigarros eletrônicos: efeitos adversos conhecidos e seu papel na cessação do tabagismo. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v12, p. 1-9, 2020.

Texto produzido pela acadêmica de enfermagem Jaine Souto da Silva e orientado pela Professora Drª. Rayrla Temoteo

Eixo temático: Tecnologias cuidativo-educacionais, tuberculose e saúde coletiva

Linha de pesquisa: Tecnologias cuidativo-educacionais: desenvolvimento e inovação no campo da saúde 

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