O BRINQUEDO TERAPÊUTICO COMO FERRAMENTA DE TRABALHO NA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA PEDIATRIA

A hospitalização na infância é considerada uma situação de tensão, principalmente quando envolve procedimentos invasivos. Uma vez que a criança não tem oportunidade para expressar seus sentimentos, muitas acabam desenvolvendo ansiedade e estresse durante o período da internação (OLIVEIRA et al, 2020).

Fonte: vídeo elaborado por alunos da Universidade Federal de Campina Grande.

Assim, o brinquedo terapêutico (BT) permite vivências menos traumáticas no ambiente hospitalar, pois auxilia na expressão dos sentimentos de forma verbal e não-verbal. Outrossim, pela limitação de compreensão que a criança possui, há a dificuldade em entender o que está acontecendo com ela, o BT é capaz de ajuda-la compreender o que se passa (OLIVEIRA et al, 2020).

Além disso, o BT contribui para a criação, o fortalecimento e o vínculo entre profissionais, pacientes e familiares. Os achados apontam que, ao explicar o procedimento por meio de fantoches, as crianças repetiam as técnicas no brinquedo e demonstravam os sentimentos vivenciados durante o procedimento hospitalar, como ansiedade relacionada ao medo, doença, hospitalização e cirurgia (CHIAVON et al,. 2021). A arte terapia é capaz de gerar sentimentos positivos por meio do desenvolvimento de símbolos, imagens e materiais criativos, garantindo alívio, minimizando emoções negativas e proporcionando experiências menos traumáticas em situações difíceis. (AMATUZZI, SOUZA, LIONE, 2019).

O BT não é apenas uma forma de comunicação e contato com o mundo da criança, mas também pode auxiliar a criança no enfrentamento da realidade da doença, possibilitando que ela compreenda e recupere o autocontrole no enfrentamento da doença (FONSECA et al., 2015).

Quando se trata de cirurgia pediátrica, o BT também traz grandes benefícios no preparo psicológica da criança no pré-operatório. Um estudo comparou o desempenho de crianças submetidas à cirurgia hospitalar após usar a brinquedoteca e o BTI e constatou que elas responderam melhor à cirurgia, se sentiram mais seguras, tiveram menos ansiedade e tornaram-se mais colaborativas após as técnicas de tratamento (CHIAVON et al,. 2021).

A enfermagem tem atuação no preparo pré-operatório. Através do jogo, pode prestar ajuda decisiva durante a hospitalização da criança. Por meio do lúdico o profissional consegue criar vínculos e confiança dos envolvidos. A abordagem no período pré-operatório permite entender as necessidades, e interfere na forma como a criança irá vivenciar o desconhecido. Além disso, contribui para a recuperação no período pós-operatório (CASSENOTE et al., 2018).

O BT pode ser utilizado em diversas áreas da enfermagem, a para atender a todos os requisitos ele é classificado em três tipos diferentes: brinquedo terapêutico dramático que auxilia na liberação da tensão, pois facilita a expressão de sentimentos e necessidades; instrucional, prepara a criança para os procedimentos e ajuda na compreensão de suas vivências no hospital; o capacitador de funções fisiológicas, que contribuem para a promoção do autocuidado (SILVA et al, 2020).

Deste modo, conclui-se que o uso do BT é considerado uma ferramenta de cuidado (OLIVERIA et al., 2020) e pode ser incorporado no processo de enfermagem, inclusive, o Conselho Federal de Enfermagem reforça a implementação através da Resolução nº 0546, de 2017, que dispõe “compete à equipe de enfermagem que atua na área pediátrica a utilização da técnica do Brinquedo/Brinquedo Terapêutico, na assistência à criança e família hospitalizadas”, sendo responsabilidade do enfermeiro prescrever e supervisionar. Ademais, no artigo 2º, a resolução ainda define que a utilização técnica do BT deve ser registrada no prontuário do paciente (COFEN, 2017)

Contudo, apesar da legalidade, o uso dessa tecnologia é pouco disseminado na assistência de enfermagem, os profissionais relatam dificuldades como sobrecarga de tarefas e falta de apoio da gestão para implementação. Além disso destaca-se a falha no conhecimento e insegurança da equipe (SANTOS et al, 2020). Assim, a gestão deve oferecer treinamentos e encorajar a equipe de enfermagem ao uso de alternativas lúdicas como o BT, pois a brincadeira pode facilitar uma resposta positiva durante um procedimento doloroso realizado pela equipe de enfermagem, bem como facilitar o processo de trabalho com este público. Desta forma, algumas alternativas podem completar para uma experiência lúdica, humanizada e principalmente, menos traumática para os pacientes infantis, como o uso de brinquedos terapêuticos, que se forem utilizados na prática são muito benéficos para o processo de tratamento.

Sendo assim, o ato de brincar além de ser essencial para o desenvolvimento físico e cognitivo, se faz uma ferramenta de extrema importância para a abordagem cotidiana infantil no meio hospitalar por parte da equipe de enfermagem, pois possibilita que a criança consiga expressar suas emoções e, facilita a assistência, já que assim, é possível compreender melhor sobre a singularidade do mundo infantil. 

REFERÊNCIAS

Amatuzzi, E., Souza, M. A., Lione M. L. Vivências de famílias de crianças em intraoperatório: a arte como possibilidade de cuidado [Experiences of families of children in intraoperative period: art as a care option][Vivencias de familias de niños en intraoperatorio: el arte como posibilidad de cuidado]. Revista Enfermagem UERJ, v. 27, p. 36678, 2019.

Cassenote, LG, Ventura J, Gehlen MH, Rangel RF, Paula SF, Martins ESR. The impact of recreational care activity in the immediate postoperative period. Rev Fun Care Online. 2018 oct/dec; 10(4):936-940. DOI: http://dx.doi.org/10.9789/2175-5361.2018.v10i4.936-940

Chiavon, D. C. S., Brum, C. N., Santos, E., Sartoretto, E. A., Zuge, S. S., Gaio, G., Tretin A. P.  Potrich, T. Utilização do brinquedo terapêutico para a criança que vivencia o processo de hospitalização: uma revisão narrativa. Brazilian Journal of Health Review, v. 4, n. 1, p. 382-398, 2021.

Conselho Federal de Enfermagem (BR). Resolução 546, de 9 de maio de 2017. Atualiza norma para utilização da técnica do brinquedo/brinquedo terapêutico pela equipe de enfermagem na assistência à criança hospitalizada [Internet]. Acesso em: 21/08/2021. Disponível em: http://www. cofen.gov.br/wp-content/uploads/2017/05/ Resolu%C3%A7%C3%A3o-546-17.pdf

Fonseca, M. R. A, Campos, C. J. G., Ribeiro, C. A., Toledo, V. P., & Melo, L. D.L. Revelando o Mundo do Tratamento Oncológico por meio do Brinquedo Terapêutico Dramático. Texto & Contexto-Enfermagem, v. 24, p. 1112-1120, 2015.

Oliveira D. S, Sousa T. V., Pereira MC, Carvalho-Filha F. S. S., Silva M. V. R. S., Moraes-Filho IM. Brinquedo terapêutico e a assistência de enfermagem: revisão integrativa. REVISA. 2020; 9(3): 563-72. Doi: https://doi.org/10.36239/revisa.v9.n3.p563a572.

Silva, Charlene et al. O enfermeiro e a criança: a prática do brincar e do brinquedo terapêutico durante a hospitalização. Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, v. 41, n. 1, p. 95-106, 2020.

Santos, V. L. A. D., Almeida, F. D. A., Ceribelli, C., & Ribeiro, C. A. Compreendendo a sessão de brinquedo terapêutico dramático: contribuição para a enfermagem pediátrica. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 73, n. 4, 2020. Doi: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0812.

Texto elaborado por Juliana Andreia Fernandes Noronha.

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