Bioquímica do amor: as moléculas por traz das borboletas no estômago

“Ah o amor... que nasce não sei de onde, vem não sei como, e dói não sei porquê.”
(Luís de Camões)

O amor pode ser caracterizado por um fenômeno físico-químico capaz de influenciar de maneira significativa o comportamento dos sujeitos acometidos por esse sentimento. Além de transcender a existência, esse sentimento é fortemente influenciado pelo que chamamos de bioquímica do amor, ou seja, é um fenômeno profundamente biológico.
Ele permeia quase todos os aspectos de nossas vidas e inspirou muitos artistas em inúmeras obras de arte. Além disso, tem um efeito profundo sobre nossa mente e estado físico. Um “coração partido”, expressão utilizada para caracterizar relacionamentos fracassados, pode causar efeitos desastrosos nos indivíduos, perturbando a fisiologia do corpo e até mesmo precipitando a morte. Mesmo que todas as outras necessidades básicas dos seres humanos sejam atendidas, sem relacionamentos amorosos eles não conseguem florescer (CARTER & PORGES, 2013).

Em um contexto mais amplo, a capacidade de interação entre organismos foi fundamental para a manutenção da vida na Terra, contribuindo para uma homeostase mútua e perpetuação da espécie. Sendo assim, a evolução utilizou-se de diversos mecanismos moleculares no intuito de promover elevados níveis de sociabilidade, o que favoreceu a manutenção da vida de diversas espécies no planeta (INGHAM & BEM, 2008) (CARTER & PORGES, 2013).

Quando estamos apaixonados, diversos compostos químicos, chamados de neurotransmissores, atuam em nosso cérebro, desencadeando diversas sensações no corpo e na mente, tais como confiança, crença, prazer e recompensa. Algumas dessas moléculas são: noradrenalina, dopamina, ocitocina, vasopressina, e serotonina.

A antropóloga Helen Fisher é referência nos estudos sobre bioquímica do amor e propôs a existência de três fases nesse processo. A primeira é chamada de “fase do desejo”, que se inicia na adolescência, desencadeada por hormônios sexuais, sendo o estrogênio nas mulheres e a testosterona nos homens. Nela, surge o passo inicial para a procura de parceiros sexuais em ambos os sexos. A segunda é caracterizada por “fase da atração”, onde acontece o ápice dos efeitos dos neurotransmissores no cérebro. Nesse período nos apaixonamos, podendo acontecer taquicardia, sudorese, piloereção, dificuldade de concentração, foco intensivo na pessoa amada, e até “borboletas no estômago”. Isso se dá devido à atuação da noradrenalina (responsável por aumentar a frequência cardíaca) que ativa o sistema nervoso simpático, e da serotonina e dopamina, que nos dão a sensação de prazer e felicidade. Já a terceira é a “fase de ligação”, onde passamos para o amor estável, onde os laços afetivos são criados e nos permitem continuar com os parceiros por longos períodos, ou seja, há a solidificação do amor. Duas moléculas são protagonistas nessa terceira fase: a ocitocina e a vasopressina (FISHER, 2008).

A fase de atração, em que o ápice da paixão é observado, é permeada por moléculas que podem causar dependência, tais como a noradrenalina e a dopamina. Isso explica o fato de muitas pessoas saltarem de relacionamentos em relacionamentos, buscando novos estímulos à medida que os efeitos são diminuídos. Há também os que permanecem com seus parceiros, no entanto buscam relacionamentos extraconjugais para saciar a necessidade neuroquímica, responsável pelas famosas traições.

O amor permeia a vida de todos os seres humanos. É um sentimento recheado de sensações e prazeres que faz cada segundo de nossas vidas valerem à pena. Ele alegra, entristece, enfurece, no entanto é consenso que uma vida sem amor não é uma vida completamente vivida. Sendo assim, nos resta compreender o arsenal bioquímico que faz com que sintamos tudo isso. Tal qual pronunciou Carter e Porges, 2013: “Temos muito a aprender sobre o amor e muito a aprender com amor.”

Referências
CARTER C. S, PORGES S. W. The biochemistry of love: an oxytocin hypothesis. EMBO Reports.; 14(1):12-16, 2013.

FISHER, Helen. Por que amamos – A natureza e a química do amor romântico. Rio de Janeiro: Record, 2008.

INGHAM C. J, BEN JACOB E. Swarming and complex pattern formation in Paenicbachillus vortex studied by imaging and tracking cells. BMC Microbiol.; 8: 36, 2008. 

Texto elaborado pela Acadêmica de Enfermagem Paloma Gurgel e pelo Professor Dr. Éder Freire.

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