Tecnologia Educativa na práxis do idoso institucionalizado
O envelhecimento da população é uma realidade vigente, sendo, a faixa etária a partir de 60 anos de idade, a que mais cresce (REIS, 2016). Estima-se que, em 2025, haverá cerca de 32 milhões de idosos no Brasil, representando 12% do total populacional, ou seja, quase 5% a mais do observado no Censo 2001, que apontava 7,3%. Recentemente, também se observou um aumento da população com 80 anos e mais, a qual perfaz três milhões do total de idosos do país (IBGE, 2011).
Juntam-se, a esse cenário, mudanças na estrutura familiar e na dinâmica da sociedade, ocorrendo, cada vez mais, inserção de mulheres no mercado de trabalho, o que explica o fato de muitas famílias optarem pela institucionalização de seus idosos em residências de longa permanência (PERLINI, et al., 2017).
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Cenário de mudanças, também, para os profissionais da saúde que precisam estar preparados em compreender e atuar junto ao processo de envelhecimento humano, em todos os níveis de atenção à saúde, de forma a garantir integralidade do cuidado e resolubilidade do sistema, incluindo as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI’s).
Quando passa a fazer parte do ambiente institucional, o idoso tem dificuldade de lidar com as perdas, tais como de status e de papéis sociais, tendo de enfrentar problemas de saúde e de ordem econômica, isolamento, rejeição, marginalização social, entre outras questões (THOE, 2010).
Alguns sentem tensão, angústia, desespero, insegurança, e, quanto maior for as dificuldades em lidar com as perdas, mais intensas e variadas serão essas reações, podendo vir a prejudicar o indivíduo. Muitos se constrangem em dizer que foram internados involuntariamente, preferindo argumentar que a internação se deu devido a problemas de saúde ou por falta de condição da família, tentando esconder as ameaças sofridas pelos próprios parentes (VOLPINI; FRANGELLA, 2013).
Consoante com Caldas (2013), “muitos idosos encaram o processo de institucionalização como perda de liberdade, abandono pelos filhos, aproximação da morte, além da ansiedade quanto à condução do tratamento pelos funcionários”. Um dos sentimentos mais presentes na vida dos idosos institucionalizados são a “exclusão” e o “abandono”, que geram a crença de ser um peso a família com sentimentos de ansiedade.
Para Fleurí et al., (2013), a prática de Tecnologias Educativas (TE) é uma excelente estratégia para promover a mudança no estilo de vida de idosos, em particular os institucionalizados, dado que, este tipo de estratégia educativa em saúde está intimamente associado com a minimização do uso de serviços de saúde e de medicamentos.
É imprescindível salientar que as TE também estão vinculadas intimamente com a viabilidade de permitir que haja momentos de bem-estar físico, mental e de interação interpessoal, podendo propiciar melhora significativa na qualidade de vida de idosos, além do fortalecimento da autonomia, autoestima, descontração, reflexão e melhor compreensão do tema em discussão (COSCRATO; PINA; MELLO, 2010; FLEURÍ et al, 2013; PINHEIRO; GOMES, 2014).
Nesta conjuntura, alternativas precisam ser adotadas a fim de motivar a pessoa idosa. Para isso, a utilização de TE remete à participação do sujeito maduro no transcurso da construção de novos conhecimentos e promoção participativa no processo de corresponsabilização da concepção do cuidado, concebendo sentimentos de autonomia e independência no processo de institucionalização, que os impulsionem a manterem-se atuantes no contexto social.
As TE caracterizam-se como recurso potencializador da concepção da construção congruente pesquisador e indivíduo viabilizador dessa estruturação, através da implementação de práticas condizentes com a realidade da população em estudo.
Gadotti (1989), afirma que o diálogo faz parte da própria natureza humana. Os seres humanos se constroem em diálogo, pois são essencialmente comunicativos. Não há progresso humano sem diálogo. Para Freire (2001), o momento do diálogo é o momento em que os homens se encontram para transformarem a realidade e progredir. É a partir da comunicação que os sujeitos poderão argumentar sobre suas ideias em condições iguais para a construção dialógica do mundo, construção essa que se concebe na instauração das TE.
Dentre as TE possíveis de serem utilizadas no âmbito da ILPI’s cita-se jogos de tabuleiros com peças de tamanhos visíveis e formatos anatômicos, jogos com colorimetria e especificidades que fortaleçam a cognição e coordenação do idoso, jogos teatrais como potencializadores da sociabilização do sujeito, sendo a escolha dessas condicionadas a partir do coeficiente cognitivo dos idosos.
Logo, acredita-se que em cenários de dissolução da figura do idoso, essa metodologia intervencionista caracteriza-se pela efetivação de práticas dinâmicas e integrativas, viabilizando a incorporação coletiva do idoso no cenário ao qual está entreposto, favorecendo a comunicação com o grupo, o compartilhamento de anseios e experiências que contribuam com seu empoderamento na perspectiva da construção da práxis cuidativa.
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Texto elaborado pela Enfermeira Arydyjany Gonçalves e pela Professora Ma. Fabiana Ferraz.
Texto elaborado pela Enfermeira Arydyjany Gonçalves e pela Professora Ma. Fabiana Ferraz.
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