A construção da autonomia na criança e a sua importância no estabelecimento de relações sociais saudáveis

Jean Piaget (1932) em sua obra seminal O Juízo Moral na Criança, diz que a autonomia não significa somente o ato de se autogovernar, mas engloba o aspecto da convivência. A autonomia só aparece quando o indivíduo é capaz de respeitar os pontos de vista dos outros numa relação de reciprocidade e cooperação.
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Muitas vezes a autonomia é confundida com a ideia de sermos independentes e não raras vezes o outro não é considerado nesta relação.

Para Paulo Freire (1996), a autonomia não acontece do dia para a noite e nem tem hora marcada, mas, para acontecer, o indivíduo deve ter experiências que lhe permitam decidir com responsabilidade o que se deve ou não fazer, devendo a liberdade e a autoridade andarem juntas.

Para esses dois autores, os valores morais são construídos a partir da interação do sujeito com os diversos ambientes sociais, e será durante a convivência diária, principalmente com o adulto, que a criança irá construir seus valores, princípios e normas morais. Desta forma, podemos concluir que esse processo requer tempo.

Para Piaget, o desenvolvimento moral passa por três diferentes estágios, sendo a autonomia o estágio final a ser alcançado.

O primeiro estágio é denominado de anomia ou estágio pré-moral. Este estágio corresponde à idade de zero a cinco anos. É aquele no qual a criança ainda não manifesta a noção de regra ou consciência moral. A predominância aqui é a dependência do adulto e ações repetitivas imitativas.

O segundo estágio é o chamado heterônomo e corresponde à idade de cinco aos oito anos. Caracteriza-se pela validade absoluta das regras, sendo estas permanentes, inflexíveis, sagradas, fixas, imutáveis. A criança não consegue entender, por exemplo, que quebrar um copo de propósito é mais errado do que quebrar dez copos sem querer. A criança ainda não é capaz de entender a regra em uma perspectiva hipotética.

O último estágio é chamado de autonomia e ocorre após os 13 anos de idade. Agora há uma conscientização das normas morais.

Assim sendo, para que a criança consiga construir os valores morais e passar do estágio heterônomo para o autônomo, há a necessidade da intervenção intencional do adulto. Nas relações sociais, a criança precisa progressivamente superar o seu egocentrismo e caminhar em direção ao respeito mútuo e a cooperação. Práticas educativas que flexibilizem autoridade e afeto são fundamentais na construção de personalidades morais saudáveis. Na esteira deste argumento, é possível afirmar que a saúde psíquica do indivíduo depende da atuação consciente dos adultos quanto ao desenvolvimento da autonomia da criança, que, gradualmente, aprende a cooperar, a respeitar e a amar o próximo.

Referências 
PIAGET, Jean. O juízo moral na criança. São Paulo: Summus, 1994.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

Texto elaborado pela Professora Doutora Silvia Carla Conceição Massagli da Unidade Acadêmica de Educação.

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