Atenção à saúde do idoso em situações de emergência

Comparados ao restante da população, os idosos são mais suscetíveis a doenças graves e ao trauma. Em razão disso, é necessário atentar para uma gama maior de doenças não transmissíveis, morbidade e incapacidade funcional, decorrente do processo de envelhecimento, que tendem a ampliar a busca por atenção à saúde.
(FONTE: http://blog.salemadvogados.com/wp-content/uploads/2017/07/1-Emergencia.jpg)
Com o declínio funcional, os idosos se tornam mais susceptíveis à ocorrência de traumas que os colocam em situações de emergência, ampliando a busca pelo atendimento médico através do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU/192) ou Atendimento de emergência e urgência pelo Corpo de Bombeiros (193). Frente a essas situações, podem ser esperadas dificuldades na avaliação do trauma, por algum grau de incapacidade física ou cognitiva que ocorrem naturalmente com a idade (NAEMT, 2017).

Os traumas mais frequentes nessa população são as quedas e acidentes automobilísticos (atropelamento e colisão), seguidos por queimaduras e violência doméstica. Desta forma, os acidentes por causas externas nos idosos são merecedores de atenção principalmente por possuírem um caráter evitável e por constituírem a quinta causa de mortalidade de indivíduos com mais de 75 anos (RODRIGUES et al., 2013).


Constata-se, assim, que esses acidentes são eventos importantes devido à maior vulnerabilidade dessa parcela da população, o que pode resultar em traumas de gravidade variável. As lesões de extremidades são as mais frequentes e, apesar de isoladamente não apresentarem risco de vida para os acidentados, são responsáveis por grande parte das imobilizações que, consequentemente, levam a perda da independência funcional, mesmo que temporária (COSTA et al, 2014).


Já os traumas torácicos e cranioencefálicos são outros tipos de lesões também frequentes e significativas por se relacionarem à maior mortalidade e permanência dos idosos nas unidades de terapia intensiva (SANTOS; RODRIGUES; DINIZ, 2015), fato que amplia o risco de infecções generalizadas e antecipação da morte.


Os idosos possuem um risco aumentado para traumatismo cranioencefálico decorrente do que pode parecer um pequeno mecanismo, como a queda da própria altura, apresentando alto risco de desenvolver hemorragia intracraniana com três vezes mais chances de evoluir para um hematoma subdural quando comparado com pacientes jovens. Esse hematoma pode resultar em um declínio neurológico gradual podendo não ser observado pelo clínico. Além disso, a alta taxa de anticoagulantes e antiplaquetários usados pela população idosa pode levar à rápida progressão de uma hemorragia intracraniana uma vez iniciada (KEHOE et al, 2015).


Com isso, o American College of Surgeons (2018) indica que a avaliação inicial das vítimas idosas em situação de trauma deve seguir algumas particularidades, como atentar ao uso de dentaduras ou próteses dentárias parciais, que possam ter se deslocado no momento do acidente, para evitar que haja bloqueio na via respiratória ou limitação na abertura bucal, além do suporte ventilatório não invasivo, caso seja necessário, deve ser feito com a dentadura fixada para facilitar o encaixe da máscara e com oxigênio em alto fluxo devido à diminuição da capacidade respiratória.


Ademais, situações especiais devem ser consideradas, como o uso de anti-hipertensivos betabloqueadores, responsáveis por reduzir a frequência cardíaca e a pressão arterial sistêmica, que pode mascarar a real situação do idoso traumatizado, principalmente quando a vítima está em choque hipovolêmico, que provoca taquicardia para compensar a perda sanguínea, e o uso de antiplaquetários e anticoagulantes, geralmente utilizados para prevenir trombose, que podem facilitar a ocorrência de hemorragias tanto quanto dificultar o seu controle (DALTON et al, 2015).


Portanto, o trauma em idades avançadas coloca o paciente na categoria de alto risco e de maior suscetibilidade a mortalidade e complicações quando comparados a pacientes mais jovens, sendo necessária atenção à saúde ofertada por profissionais preparados para conduzir situações com vítimas idosas e evitar maiores danos.


Referências

AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS. Advanced Life Trauma Support (ATLS). 10th ed. Chicago, 2018.

COSTA, G. et al. Idosos vítimas de trauma: doenças preexistentes, medicamentos em uso no domicílio e índices de trauma. Revista Brasileira de Enfermagem. São Paulo, vol.67, n.5, p.759-765, Set. – Out., 2014.


DALTON, T. et al. Complexities of Geriatric Trauma Patients. Journal of Emergency Medical Services, Tulsa, vol.40, n.11, Nov., 2015.


KEHOE, A. et al. The changing face of major trauma in the UK. Emergency Medicine Journal, San Francisco, vol.32, n.12, p.911-915, December, 2015.


NATIONAL ASSOCIATION OF EMERGENCY MEDICAL TECHNICIANS. Prehospital Trauma Life Support (PHTLS): atendimento pré-hospitalar ao traumatizado. 8ª edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017.


RODRIGUES, F. et al. Caracterização do trauma em idosos atendidos em serviço de atendimento móvel de urgência. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste. Fortaleza, vol.14, n. 5, p. 945 – 950, 2013.


SANTOS, A. M. R.; RODRIGUES, R. A. P.; DINIZ, M. A. Trauma no idoso por acidente de trânsito: revisão integrativa. Revista da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, vol.49, n.1, p.162-172, 2015.


Texto elaborado pela Acadêmica de Enfermagem Maria Gabriela e pela Professora Ma. Fabiana Ferraz.

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