Novos Tipos de Tratamento da Diabetes Mellitus Tipo 1
O Diabetes Mellitus Tipo 1 (DM1)
representa em torno de 5 % de todos os casos de diabetes no mundo, na qual sua
incidência é mais expressiva em países escandinavos. Na sua base etiopatogênica
encontra-se a combinação entre fatores genéticos e ambientais. Mais de vinte
genes estão relacionados ao desenvolvimento dessa patologia, todavia os genes
do sistema HLA possuem maior correlação com a doença. Na população brasileira,
em conformidade com estatísticas mundiais, os pacientes com DM1 apresentaram
predominância de HLA-DR3 e HLA-DR4. Quanto aos fatores ambientais, ainda não
são bem conhecidos, mas são tão relevantes quanto os fatores genéticos na
origem do distúrbio (VOLTARELLI et al., 2009).
Na patogênese da DM1, ocorre uma agressão crônica contra as
células β pancreáticas imunomediada por células, como os linfócitos T e
macrófagos. Em razão disso, o diagnóstico envolve a pesquisa dos marcadores de
autoimunidade, que consistem em autoanticorpos circulantes para antígenos das células β das ilhotas de Langerhans. Dentre os marcadores, anticorpos como
ICA (anticorpos anti-célula da ilhota), IAA (anticorpos anti-insulina) e GADA
(anticorpos antidescarboxilase do ácido glutâmico) são detectados em quase 90%
dos pacientes (NEVES et al., 2017).
O
tratamento convencional é feito através da aplicação de insulina exógena em
doses adequadas para a necessidade do portador, e tem por finalidade a redução
das complicações decorrentes da doença e manter a taxa de glicemia nas
concentrações normais. Essa condição representa um fator limitante da terapia
visto que o autocuidado é indispensável para a sobrevida do diabético. Logo, a
procura por alternativas a insulinoterapia vem sendo investigada para melhorar
a qualidade de vida do paciente. Os transplantes são métodos promissores no
tratamento da DM1 visto os resultados satisfatórios encontrados nas pesquisas
(FERREIRA, 2018).
O
emprego das células-tronco (CT) na medicina regenerativa é uma esperança para a
cura de várias patologias, como a DM1. O Brasil é um país pioneiro no uso de CT
em diabéticos, tendo as pesquisas iniciados em 2003. Devido a agressão
imunomediada da DM1, inicialmente realiza-se um “reset” no sistema imunológico
através de elevadas doses e quimioterapia intravenosa, promovendo a sua
inativação. Uma vez o sistema imunológico desligado, ele é novamente ativado
reinfundindo-se CT retiradas da medula óssea do próprio paciente (transplante
autólogo), as chamadas células-tronco hematopoiéticas. Elas são capazes de
regenerar um novo sistema imunológico, fazendo com que a agressão do pâncreas
não aconteça (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2019).
De
acordo com Tsai et al. (2017), o tratamento ideal para o diabetes, como
a DM1, seria o transplante de pâncreas, uma vez que isso restabeleceria a ação
endócrina do órgão e acarretaria no estabelecimento da normoglicemia
fisiológica. O transplante de pâncreas e rins, por exemplo, são os mais
realizados para tratar diabéticos com problemas de insuficiência renal. Embora
seja ainda controverso, estudos destacaram o aumento da longevidade e redução
das complicações crônicas como resultado do co-transplante de pâncreas e rins.
Essa modalidade é limitada ainda por envolver uma cirurgia de grande porte, o
tratamento com os imunossupressores e a escassez de doadores.
Faleo
et al. (2017) aponta o transplante de ilhotas pancreáticas como uma
alternativa menos invasiva na terapia da DM1. A aplicação dessa técnica
demonstra resultados interessantes, porém é limitada pela quantidade escassa de
doadores falecidos elegíveis, pela necessidade de mais de um doador por paciente
e pela possibilidade do atraso no retorno do suprimento sanguíneo para as
ilhotas transplantadas aumentarem as chances de isquemia prolongada e redução
na viabilidade do enxerto. Na escassez de doadores humanos, estudos têm
investido na geração de células β pancreáticas derivadas de células-tronco
humanas funcionais, pois estas representam uma possibilidade no desenvolvimento
de uma fonte inesgotável de células β para transplante.
Portanto,
é possível perceber que a Diabetes Mellitus Tipo 1 acarreta complicações a
longo prazo, cuja a insulinoterapia é um método limitante que em determinados
casos pode ser insuficiente. As modalidades de transplantes são alternativas
que buscam superar a terapia convencional, tendo indicações individuais. É
evidente que várias dessas técnicas precisam ser aperfeiçoadas para a sua
aplicação clínica, porém os resultados satisfatórios obtidos em diversos
pacientes as tornam opções que podem potencialmente excluir a necessidade da administração
de insulina exógena (BATISTA, 2018).
REFERÊNCIAS
BATISTA, J. M. O uso de células-tronco para o tratamento do
diabetes mellitus tipo 1. 2017. 37 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em Biomedicina) – Centro Universitário de Formiga, Formiga, 2018.
FALEO, G.
et al. Mitigating ischemic injury of stem cell-derived insulin-producing cells
after transplant. Stem cell reports, v. 9, n. 3, p. 807-819, 2017.
FERREIRA, C. S. Aspectos terapêuticos
e metodológicos dos transplantes de células pancreáticas como tratamento do
Diabetes Mellitus tipo I: uma revisão de literatura. 2017. Trabalho de
Conclusão de Curso (Bacharelado em Biomedicina) – Centro Universitário de São
Lucas, Porto Velho, 2018.
NEVES, C. et al. Diabetes Mellitus Tipo
1. Revista Portuguesa de Diabetes, v. 12, n. 4, p. 159-167, 2017.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Células Tronco e Diabetes.
Disponível em: <https://www.diabetes.org.br/publico/colunas/31-dr-carlos-couri/171-celulas-tronco-e-diabetes>. Acesso em 31 de Outubro de 2019.
TSAI, F. Y.; et al. Acute macular
edema and peripapillary soft exudate after pancreas transplantation with
accelerated progression of diabetic retinopathy. Journal Of The Chinese Medical Association XX, p. 1-7, 2017.
VOLTARELLI, J. C. et al. Terapia celular
no diabetes mellitus. Revista Brasileita de Hematolologia e Hemoterapia., São Paulo, v. 31,supl. 1,p.
149-156, May 2009.
Texto produzido pelo acadêmico de Farmácia José Isaac Alves de Andrade e pela Prof. Dra. Rafaelle Cavalcante de Lira.
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