A institucionalização como fator de risco para a depressão

Em uma época de desafios imprevisíveis para a saúde, sejam devidos à mudanças climáticas, às doenças infecciosas emergentes ou a próxima bactéria a desenvolver resistência aos medicamentos, uma tendência é certa: o envelhecimento das populações está se acelerando rapidamente em todo o mundo. Pela primeira vez na história, a maioria das pessoas pode esperar viver além dos 60 anos (WHO, 2015).
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Com isso, as famílias começam a ter dificuldades em cuidar das pessoas que envelhecem, os idosos, no próprio lar, em consequência ao surgimento dos novos arranjos familiares, frente a inserção da mulher no mercado de trabalho, diminuição do número de filhos, bem como a redução do próprio tempo de cuidar.

Essa conjuntura impulsiona a institucionalização, e, o trabalho desenvolvido pelas Instituições de Longa Permanência para Idosos (IPLIs) emerge como alternativa não familiar de suprir as necessidades de moradia e cuidado dessa população.

A institucionalização traz consigo mudanças de hábitos e rotinas fazendo com que o idoso se adapte a novos horários e forma de viver, onde o poder de escolha e a subjetividade podem ser ignorados, gerando sentimentos de ser apenas mais um em meio à coletividade. Associado a isso, o idoso vê-se obrigado a adotar um estilo de vida diferente do que possuía o que lhe gera ansiedade, tensão ou estresse (TAVARES; SCHMIDT; WITTER, 2015). Tais situações podem diminuir a qualidade de vida, corroborando para o declínio cognitivo, desencadeando ou agravando quadros patológicos preexistentes, como por exemplo, a depressão.

A depressão é caracterizada pelo humor deprimido e perda do interesse ou prazer em realizar qualquer tipo de atividade e é uma das doenças mentais que mais atinge os idosos (PEREIRA, 2016). A prevalência de sintomas depressivos em idosos que vivem com a família e estão inseridos na comunidade gira em torno de 15% e esse número pode dobrar frente a institucionalização (JUCÉLIA, 2017; VERÇOSA; CAVALCANTI; FREITAS, 2016).

Como fatores que contribuem para o desenvolvimento da sintomatologia depressiva cita-se: aumento da idade, gênero feminino, limitação/dependência, baixa escolaridade, insatisfação com a instituição, ausência ou raridade de visitas familiares, saída da instituição e realização de exames de rotina (JUNIOR; GOMES, 2016; SILVA et al., 2012).

Muitas vezes essas instituições não têm infraestrutura adequada e nem profissionais qualificados para atender e considerar essa sintomatologia, o que denota a necessidades de uma organização facilitadora de implementação de medidas que visem minimizar o peso da institucionalização, bem como uma equipe multidisciplinar qualificada e preparada para identificar as ocorrências desses sintomas e tratá-los o mais precocemente possível, prevenindo agravos à saúde, através de atividades diversificadas que exercitem as capacidades físicas e mentais e que contribuam para prevenção da deterioração da saúde dos idosos.

Referências 
JUCÉLIA, F. S. G. Perfil sociodemográfico, aspectos familiares, percepção de saúde, capacidade funcional e depressão em idosos institucionalizados no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, v.20, n. 2, p. 175- 85, 2017.

JUNIOR, J. A. S. H.; GOMES, C. G. Depressão em idosos institucionalizados: padrões cognitivos de qualidade de vida. Ciências & Cognição. v. 21, p. 137-54, 2016.

PEREIRA, D. F. As fronteiras da depressão: um possível diálogo de Freud e Beck. Psicologia.pt, p, 1-10, 2016.

SILVA, E. R. et al. Prevalência e fatores associados à depressão entre idosos institucionalizados: subsídio ao cuidado de enfermagem. Revista Escola de Enfermagem da USP. v. 46, p.1387-93, 2012.

TAVARES, P. N.; SCHMIDT, J. H.; WITTER, C. Efeitos de um programa de intervenção no desempenho cognitivo e sintomatologia depressiva em idosos institucionalizados. Revista Kairós Gerontologia. v. 18, p. 103-23, 2015.

VERÇOSA, V. S. L.; CAVALCANTI, S. L.; FREITAS, D.A. Prevalência de sintomatologia depressiva em idosos institucionalizados. Rev enferm UFPE on line. v, 10, n, 4, p. 4264-70, 2016.
WHO. Library Cataloguing-in-Publication Data. World report on ageing and health. Geneva: World Health Organization, 2015.

Texto elaborado pela Acadêmica de Enfermagem Jorgeanny Dantas e pela Profa. Ma. Fabiana Ferraz.

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