Gestação Saudável: o porquê da suplementação do Sulfato Ferroso

A gravidez é um momento de euforia e transformações na vida de uma mulher e de toda sua família. Durante o período de gestação brotam várias dúvidas sobre diversos aspectos ligados a gravidez e um deles é o uso da suplementação de sulfato ferroso, já que seu uso é recomendado ou receitado por muitos profissionais da área da saúde.
(FONTE: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/foto/0,,60118996,00.jpg)

O ferro é um mineral bastante importante no organismo dos animais, devido a sua alta capacidade de aceitar e doar elétrons. Isso faz com que sua presença seja imprescindível em diversos fenômenos biológicos. Ele se encontra na formação de hemoproteínas que por sua vez são responsáveis pelo transporte de oxigênio na corrente sanguínea, a geração de energia celular e a detoxificação (GROTTO, 2010).

O ferro é capturado da transferrina diférrica pelo receptor de transferrina (TfR1). A queda do pH das vesículas endocíticas libera o íon férrico da transferrina, e a ferriredutase Steap 3 o reduz a íon ferroso, o qual é exportado ao citoplasma através da DMT1. O complexo de apotransferrina (Tf) e TfR1 retorna à membrana plasmática onde o pH neutro leva a Tf a se dissociar do seu receptor. O ciclo da transferrina é completado quando ela é reabastecida com íon férrico pelos enterócitos ou pela reciclagem de ferro pelos macrófagos (GANZ; NEMETEH, 2012).

O íon ferroso exportado pela DMT1 pode ser transportado para a mitocôndria através da Mitoferrina 1 (Mfrn1) por contato direto ou através de transporte intermediário através de chaperonas citoplasmáticas (Fe2+Ch).  Dentro da mitocôndria o ferro é incorporado ao heme recém formado. O heme é exportado para o citoplasma por uma transportador desconhecido e incorporado às cadeias de globina, produzindo assim a hemoglobina (GANZ; NEMETEH, 2012).

Os mesmos autores enfatizam que o ferro é essencial à eritropoiese (formação das hemácias, células sanguíneos) especialmente para a síntese de hemoglobina pelas hemácias. Tanto a diminuição quanto o excesso de ferro causa disfunção celular e do organismo como um todo. A anemia é a manifestação mais evidente da falta de ferro

A anemia na gestação tem como sua principal causa a deficiência de ferro. Isso se dá pelo aumento da demanda de produção de hemoglobina circulante para o desenvolvimento fetal. Diversos motivos podem causar a instalação de uma anemia por deficiência de ferro no sangue, como a baixa ingestão de ferro na alimentação, o curto intervalo interpartal ou complicação na gravidez por hemorragia (BRASIL, 2012).

Aproximadamente 19% das gestantes do mundo possuem anemia por deficiência de ferro, sendo esse o problema hematológico mais comum no ciclo gestacional e até mesmo depois da gestação. Esses dados estão presentes principalmente em países em desenvolvimento (SATO et al,. 2015; SOUZA et al,. 2004).

Apesar de a anemia ferropriva parecer algo simples, no âmbito gestacional é algo de alta complexibilidade e que envolve diversos fatores, uma vez que se faz necessária a verificação de diversos dados, como fatores genéticos nutricionais e circunstâncias fisiológicas de cada mulher, tendo assim cada caso portador uma complexidade diferente (MODOTTI et al,. 2015).

A deficiência de ferro na gestação pode trazer muitos problemas para a gestante e para o feto, como o baixo peso do recém-nascido devido à baixa no transporte de alguns nutrientes, e também se sabe que a deficiência de ferro tem ligação com o parto pré-maturo (MODOTTI et al,. 2015).

No entanto, mesmo com a suplementação de ferro durante o pré-natal e uma considerável diminuição na prevalência do nível de hemoglobina, ainda não foi constatado melhoria no quadro de resultados maternos e perinatais (BRASIL, 2012).

Tendo em vista os riscos que a deficiência de ferro no organismo da gestante causa, a suplementação de ferro é aceita como um meio imprescindível para combater essa deficiência, porém não é o único meio a ser usado para evitar a deficiência. Entre outros meios se pode destacar as mudanças de hábitos alimentares, diagnóstico e tratamento das causas de perda sanguínea e controle de infecções que contribuam para anemia (BRASIL, 2012).

Diante do que foi exposto, se vê uma alta necessidade da suplementação de sulfato ferroso para gestantes, tendo em vista riscos e vantagens dessa suplementação. Também é de grande importância divulgação de informações relacionadas aos diversos tipos de suplementação na gestação, uma vez que no Brasil já é indicado e recomendado pelo ministério da saúde a suplementação contínua de sulfato ferroso e ácido fólico na gestação, para evitar problemas pré e pós-natais.

Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Gestação de alto risco: manual técnico. 5 ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.

GANZ, T.; NEMETH, E. Iron metabolism: interactions with normal and disordered erythropoiesis. Cold Spring Harbor perspectives in medicine, 2012.

GROTTO, Helena Z. W.. Fisiologia e metabolismo do ferro. Rev. Bras. Hematol. Hemoter.,  São Paulo ,  v. 32, supl. 2, p. 08-17,  June  2010 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151684842010000800003&lng=en&nrm=iso>. access on  22  July  2017.  Epub May 14, 2010.  http://dx.doi.org/10.1590/S1516-84842010005000050.

SOUZA AI DE, BATISTA FILHO M, FERREIRA LOC, FIGUEIRÔA JN. Efetividade de três esquemas com sulfato ferroso para tratamento de anemia em gestantes. Rev Panam Salud Publica. v. 15, supl. 5, p. 313-19, 2004.

SATO, Ana Paula Sayuri et al . Anemia e nível de hemoglobina em gestantes de Cuiabá, Mato Grosso, Brasil, antes e após a fortificação compulsória de farinhas com ferro e ácido fólico, 2003-2006. Epidemiol. Serv. Saúde,  Brasília ,  v. 24, n. 3, p. 453-464,  Sept.  2015 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-96222015000300453&lng=en&nrm=iso>. access on  22  July  2017.  http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742015000300011.

Texto elaborado pelos Acadêmicos de Enfermagem Francley Gonçalves, Isadora Roberta, Pedro Tiago, Enfermeiro Rubens Félix e Prof. Dr. Eder Freire.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares a relação com as práticas no âmbito da Atenção Básica

Contate-nos