Intolerância à lactose: entenda o que acontece no seu corpo

A enzima lactase é produzida pelas células eritrocíticas que estão localizadas nas microvilosidades do intestino, sendo responsável pela hidrólise da lactose em dois monossacarídeos, D-glicose e D-galactose, assim tornando-se possível suas absorções. Quando existe uma ausência da enzima lactase, a lactose libera seus componentes para absorção na corrente sanguínea e torna-se fonte de energia para os microrganismos do colón e é fermentada a ácido lático, gás hidrogênio (H2) e metano (CH4), criando assim um desconforto intestinal (BACELAR JÚNIOR et al., 2013).
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A ausência da enzima lactase causa uma intolerância alimentar que é denominada como qualquer resposta anormal do organismo mediante a ingestão de um alimento, sem que haja uma resposta imunológica. Nesse sentido, a intolerância à lactose nada mais é que a redução da capacidade de hidrolisar a lactose, sendo resultado da hipolactasia, a qual significa uma diminuição da atividade de enzima lactase na mucosa do intestino delgado (MATHIÚS et al., 2016).
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A deficiência de lactase no organismo é classificada em três tipos: congênita, primária e secundária. A deficiência congênita é rara, herdada e autossômica recessiva, pois a quantidade de lactase neste caso é muito baixa ou até mesmo ausente. Caso o diagnóstico não seja precoce, pode levar o recém-nascido a óbito, visto que os sintomas são o vômito, distensão abdominal, seguidos também por diarréia líquida de odor ácido (MATTAR et al., 2010).

A deficiência primária é uma condição permanente e é a forma mais comum de intolerância a lactose. Esta condição é determinada geneticamente e tem origem na diminuição da atividade da lactase e desenvolve-se naturalmente, ao longo do tempo, desde a infância até à idade adulta. A quantidade de lactose que causa desconforto varia de pessoa para pessoa, dependendo da quantidade de lactose consumida, do grau de insuficiência da lactase e da composição nutricional do alimento ingerido.

Entende-se como deficiência secundária ou adquirida, o desenvolvimento da intolerância a lactose resultante de lesões causadas na mucosa do intestino, como por radiação ou uso de medicamentos para tratamento de câncer, gastroenterites, doença de Crohn, colite ulcerativa, doença celíaca, entre outros. Porém, quando a doença ou a lesão se cura, geralmente a atividade da lactase volta ao normal. A intolerância pode ser permanente se a lesão for irreversível, como acontece no caso de intervenção cirúrgica com ressecção intestinal.

Os sintomas típicos incluem dor abdominal, sensação de inchaço no abdômen, flatulência, diarreia, borborigmos e, particularmente nos jovens, vômitos. A dor abdominal pode ser em cólica e frequentemente é localizada na região periumbilical ou quadrante inferior. O borborigmo pode ser audível no exame físico e para o paciente. As fezes usualmente são volumosas, espumosas e aquosas. Uma característica importante é que estes indivíduos, mesmo com quadro de diarreia crônica, geralmente não perdem peso (SEMRAD et. al., 2008). Em alguns casos a motilidade gastrintestinal está diminuída e os indivíduos podem se apresentar com constipação, possivelmente como consequência da produção de metano (LOMER et. al., 2008).

O tratamento em indivíduos intolerantes à lactose consiste basicamente na exclusão de produtos lácteos em suas dietas como leite e seus derivados a exemplo do iogurte, queijo, etc. Todavia a exclusão total destes produtos da dieta alimentar deve ser evitada, pois pode acarretar prejuízo nutricional de cálcio, fósforo e vitaminas, podendo estar associada com diminuição da densidade mineral óssea e fraturas (SALOMÃO et. al., 2012). Para evitar os prejuízos nutricionais decorrentes da exclusão total e definitiva da lactose da dieta, após exclusão inicial de lactose, geralmente é recomendada a sua reintrodução gradual de acordo com o limiar sintomático de cada indivíduo. Outra forma de tratamento é a terapia de reposição enzimática com lactase exógena (+β-galactosidase), obtida de leveduras e fungos, constitui uma possível estratégia para a deficiência primária de lactose (MATTAR et al., 2010).

A administração de lacticínios que passaram por hidrólise química industrial de 90% de lactose, em um produto que possui cerca de 5g/mL da mesma, é uma alternativa para as pessoas intolerantes à lactose. Na indústria, a hidrólise química da lactose se caracteriza por condições severas de temperatura (90º a 150ºC) e pH (1-2), obtém-se uma hidrólise em pouco tempo. A metodologia empregada nas indústrias é simples e não requer enzimas caras, porém existem alguns inconvenientes, produto final de qualidade inferior, uso de agentes corrosivos, custo elevado da planta industrial, desnaturação das proteínas do leite e necessidade de neutralização final (BACELAR JÚNIOR et al., 2013).

Referências
BACELAR JÚNIOR, A. J.; KASHIWABARA, T. G. B.; SILVA, V. Y. N. E. DA. Intolerância a Lactose- revisão de literatura. Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR. Vol.4,n.4,pp.38-42 (Set-Nov 2013).

GASPARIN, F. S. R.; TELES, J. M.; ARAÚJO, S. C. Alergia à proteína do leite de vaca versus intolerância à lactose: as diferenças e semelhanças. Revista Saúde e Pesquisa. 2010; 3 (1):107-14.

GRAND, R. J. What is lactose intolerance and how to measure it. National Institutes of Health - Lactose Intolerance and Health. 2010; 35-37.

LOMER, M. C. E.; PARKES, G. C.; SANDERSON, J. D. Review article: lactose intolerance in clinical practice - myths and realities. Aliment Pharmacol Ther. 2008; 27:93-103.

MATHIÚS, L. A.; MONTANHOLI, C. H. DOS S.; OLIVEIRA, L. C. N. DE.; BERNARDES, D. N. DE A.; PIRES, A.; HERNANDEZ, F. M. DE O. Aspectos atuais da intolerância à lactose. Revista Odontológica de Araçatuba, v.37, n.1, p. 46-52, Janeiro/Abril, 2016.

MATTAR, R.; MAZO, D. F. C. Intolerância à Lactose: mudanças e paradigmas com a biologia molecular. Rev. Assoc Med Bras. 2010; 56 (2): 230-6.

MCBEAN, L. D. Lactose Intolerance Revisited. Dairy Council Digest. 2008; 79 (5): 25-30.

SALOMÃO, N. A.; SILVA, E. T. A.; GERALDES, A. A. R.; SILVA, A. E. L. Ingestão de cálcio e densidade mineral óssea em mulheres adultas intolerantes à lactose. Rev. Nutr. 2012; 25 (5): 587-95

SEMRAD, C. E.; POWELL, D. W. Approach to the patient with diarrhea and malabsorption. In: Goldman L, Ausiello D, editors. Cecil medicine. 23rd ed. Philadelphia: Saunders; 2008. p.1019-42.

Texto elaborado pela Acadêmica de Enfermagem Isadora Roberta e pelo Prof. Dr. Eder Freire.

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