Adolescência e a puberdade: limites entre a maturação sexual e a erotização
Para o psicanalista Alexandre Stevens (2004), o
termo “puberdade” está mais
fundamentado e recorrente ao se tratar dessa transição da infância do que o uso
do termo “adolescência”. O adolescente, ao entrar na fase de puberdade, passa por diversas
modificações: sejam elas corporais, físicas, mentais, sexuais e entre outros
tipos. Entre essas transformações que é inerente ao indivíduo, está a
intensificação da libido, onde existe uma espécie de sexualização mais aflorada
e intensa do sujeito em relação ao seu cotidiano e ambiente. No pensamento mais
íntimo do ser, há uma desconstrução da imagem da infância decorrente das
variações corporais e hormonais (LIMA, 2018).
(FONTE:
http://repocursos.unasus.ufma.br/ppgsmin_20141/modulo_1/und1/9.html)
Freud dedica inteiramente um capítulo em: “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”
falando sobre as transformações que são potencializadas na puberdade,
estimulando cada vez mais a importância dessa fase na construção
psíquico-social do ser humano. Demonstra também que esse período é
caracterizado por uma troca subjetiva de objetos, onde o termo “brincar” será
modificado para o “sensual”. Essa escolha compete ao jovem o seu momento de
alforria da autoridade parental e a fomentação da sua sexualidade adulta
(FREUD, 1997).
“A novinha não me quer / Só porque
eu vim da roça / Roça, roça o piru nela que ela gosta.” Trecho inicial da
música “Roça roça” do Mc Brinquedo que nasceu no ano de 2001 e iniciou sua
carreira musical aos 13 anos de idade no ramo do Funk Ousadia(movimento surgido na cidade de São Paulo no começo de
2014). A exemplo dessa música e outras composições como: “Pega Na Minha e
Balança”; “Capim Canela”, reafirmam que o desligamento da figura parental em
primeira estância e a ausência do acompanhamento assíduo no processo de
crescimento desse indivíduo podem caracterizar um desequilíbrio no processo de
maturação. Para Lacan (1949), o que ocorre como forma de espelho na fase da
infância, na adolescência amplia-se para um drama psíquico que precede da
“insuficiência para a antecipação”. Esse movimento caracteriza-se pelo
adolescente antecipar-se em relação ao contato com o outro devido à
inexistência do saber propriamente dito em relação ao sexo, sendo até então,
algo “fantasiado” (LIMA, 2018).
Trazendo essa temática para a
contemporaneidade, podemos citar a influência da Internet como precursora
direta na vida do sujeito. Esse ambiente virtual modifica setores culturais,
sociais, políticos e gera, consequentemente, uma dependência quase que irreversível
ao indivíduo. Para as crianças e adolescentes, as mais diversas tecnologias
proporcionam um espaço de consolidação subjetiva. (DIAS, et al., 2019). Como
propõe Livingstone (2010), esses meios tecnológicos ampliam as formas de
comunicação e conduta do ser, como por exemplo: facilidade a acesso a conteúdos
inadequados, de cunho sexual, pornográficos, de ódio, condutas problemáticas e
entre outros diversos tipos que podem agir diretamente na construção mental
desse jovem. Como um caso bastante contemplado na mídia, tem-se o exemplo da
cantora Mc Melody, que aos 11 anos de idade exibia-se em suas redes sociais de
forma sexualizada e que ocasionava um impacto alarmante para o público. O
acontecimento alastrou-se de maneira tão descontrolada que o pai da criança
poderia perder sua guarda devido a essa exposição e erotização da menor.
Dessa forma, é necessária uma
cautela e implantações de precauções no processo de maturidade da criança,
visto que fatores provocados nessa fase podem trazer uma série de complicações
futuras a esse indivíduo. Compreender também que a adolescência não é
necessariamente um período caracterizado por dilemas, impasses e aflições, mas
sim que se deve ter uma atenção de forma acolhedora e passível no âmbito
familiar e social (sendo a família um ator ativo e direto nesse processo),
promovendo as relações interpessoais desse sujeito e compreendendo essas
transformações e suas particularidades.
Referências:
DIAS,
Vanina Costa et al . Adolescentes na Rede: Riscos ou Ritos de Passagem?. Psicol.cienc. prof., Brasília , v. 39, e179048,
2019 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932019000100109&lng=en&nrm=iso>.access
on 10 Sept. 2019. Epub Apr 25,
2019. http://dx.doi.org/10.1590/1982-3703003179048.
FREUD, Sigmund; DA FONSECA, Ramiro. Três ensaios
sobre a teoria da sexualidade. 1997.
LIMA,
Vinícius Moreira. Funk ousadia, adolescência, contemporaneidade: uma leitura
lacaniana. Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro , v.
18, n. 2, p. 685-708, ago. 2018 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812018000200017&lng=pt&nrm=iso>.
acessos em 10 set. 2019.
LIVINGSTONE, S., & HELSPER, E. J. (2010) Balancing
opportunities and risks in teenagers’ use of the internet: The role of online
skills and internet self-efficacy.New
Media &Society, 12(2): 309-329. https://doi.
org/10.1177/1461444809342697
MINISTÉRIO DA
SAÚDE. Saúde do adolescente: competências
e habilidades. 2008
OGILVIE,
Bertrand. Lacan: a formação do conceito de sujeto (1932-1949).
Jorge Zahar Editor, 1988.
STEVENS, Alexandre. Adolescência, sintoma da puberdade. Curinga,
v. 20, p. 27-39, 2004.
Texto
elaborado pelo acadêmico de Enfermagem Alexandre Tiago de Oliveira Júnior e
pela professora Dra. Silvia Carla Conceição Massagli
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