Como o consumo de bebidas alcoólicas afeta pessoas com diabetes mellitus?

    O Diabetes Mellitus é um distúrbio metabólico que exige de seus portadores uma infinidade de cuidados constantes que vão desde o tratamento insulínico e medicamentoso, até hábitos de vidas saudáveis, com exercícios e dietas. Nesse sentido, situações comuns ao cidadão como comemorações que envolvem a ingestão de bebidas alcoólicas podem se tornar tabu para pacientes diabéticos. Mas será que essa preocupação é realmente válida?

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Para que a resposta fique clara é necessário entender o caminho que o álcool percorre no organismo. Ao ser ingerido, ele é levado ao estômago, e posteriormente para o intestino, locais onde ocorre a sua absorção. Uma vez absorvido ele segue através da circulação porta hepática até o fígado onde será metabolizado até acetato pela ação das enzimas Álcool Desidrogenase (ADH) e Aldeído Desidrogenase (ALDH) (GARAYCOECHEA et al., 2018).

    Essas reações têm influência direta sobre o metabolismo da glicose dos pacientes diabéticos, isso pode causar prejuízo a outras funções do corpo uma vez que o fígado, entre outras atribuições, também é o órgão responsável pela manutenção dos níveis de glicose no sangue – esses níveis, por sua vez, são essenciais para o correto funcionamento do organismo. A transformação de álcool em acetato, que ocorre como forma de criar uma substância menos nociva para ser eliminada do corpo, reduz moléculas carreadoras de elétrons de NAD+ até NADH (Dinucleótido de nicotinamida e adenina), sinalizando para a via de liberação de glicose que o corpo já possui energia suficiente e o fígado não deve liberar glicose ao sangue, reduzindo a glicemia (PEREIRA; TAVARES; CARVALHO, 2016).

    A hipoglicemia é o nome dado a um episódio de concentração plasmática de glicose anormalmente baixa - para diabéticos esse valor é de ≤ 70 mg/dL. Quando induzida pelo álcool e associada  ao uso de insulina (ou medicamentos que aumentam a produção corporal desse hormônio), a hipoglicemia se agrava e diminui ainda mais os níveis de glicose no sangue causando crises que possuem como principais sintomas: tonturas, confusão, dor de cabeça;  e em casos mais graves levar o paciente ao coma ou à morte (FERREIRA NETA et al., 2017).

    As bebidas alcoólicas são calóricas, muitas contém glicose na sua formulação, o que aumenta o risco de hiperglicemia. Assim, a ingestão de álcool pode causar hiperglicemia, modificar o metabolismo dos lipídeos (gorduras) que devido as grandes quantidades de NADH passam a se acumular em maior proporção, levando a desequilíbrios metabólicos que culminam com distúrbios como a hipercolesterolemia e a hiperglicemia (PANTOJA et al., 2012).

    No entanto, a resposta ao consumo de álcool nem sempre ocorre da mesma maneira. Em um estudo feito por Olivatto e colaboradores (2014) com 37 pacientes, não houveram indícios de complicações, sendo encontrados, inclusive, pequenos sinais de melhora no quadro diabético. Já em um estudo feito por Fuzinato e colaboradores (2016) a maioria dos diabéticos avaliados apresentou excesso de peso e elevada hiperglicemia associados ao consumo de álcool.

     A Sociedade Americana de Diabetes recomenda o consumo de no máximo um drink por dia para mulheres e dois drinks por dia para homens seguindo alguns parâmetros: Não beber de estômago vazio ou quando os níveis de glicose no sangue estão baixos; Beber lentamente e com moderação; Manter-se hidratado enquanto ingere as bebidas alcoólicas (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2019).

  É importante atentar também para a existência de outras doenças como hipercolesterolemia, obesidade, entre outras que são indicativos para diminuição ou interrupção do consumo de álcool. Dessa forma, pode-se afirmar que a resposta ao consumo de bebidas alcoólicas por pessoas com diabetes mellitus é específica para cada caso. Sendo necessário sempre consultar a opinião da equipe multiprofissional de saúde que levará em conta as características do indivíduo para a indicação da possibilidade do consumo de Etanol, que deve sempre respeitar as normas dos órgãos de saúde que prezam pela moderação (BRASIL, 2013).

Referências

AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Standards of medical care in diabetes – 2019. Diabetes Care, v. 42 (Supplement 1) S1-S2, 2019. DOI: https://doi.org/10.2337/dc19-Sint01

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica : diabetes mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 160 p. : il. (Cadernos de Atenção Básica, n. 36)

FERREIRA NETA, Jacy Souto Maior, et al. Hipoglicemia em diabéticos tipo 2 praticantes de exercício físico. ConScientiae Saúde [Internet], vol. 16, n. 1, p.58-64. 2017. Disponível em: http://portal.amelica.org/ameli/jatsRepo/92952141007. Acesso em: 28/09/19.

FUZINATO, Suzane Fatima; et al. Alterações nutricionais e metabólicas em diabéticos: desafios ao hiperdia de uma estratégia de saúde da família. Rev. bras. promoç. saúde (Impr.); vol. 29, n. 2, p. 268-277, abr.-jun. 2016.

GARAYCOECHEA, Juan I, et al. Alcohol and endogenous aldehydes damage chromosomes and mutate stem cells. Nature, vol. 553, n. 7687, p. 171-177, 2018.

OLIVATTO, Gabriela Marsola et al . Consumo de álcool e os resultados no controle metabólico em indivíduos com diabetes, antes e após a participação em um processo educativo. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.),  Ribeirão Preto,  v. 10, n. 1, p. 3-10, abr.  2014. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762014000100002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  28  set.  2019.  http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v10i1p-3-10.

PANTOJA, M. de S. et al. Avaliação do metabolismo de etanol em ratos expostos a diferentes temperaturas. Rev. para. Med, vol. 26, n. 3, jul.-set. 2012.

PEREIRA, M. T; TAVARES, H. M; CARVALHO, A. C. O Impacto da Hipoglicemia no Resultado Clínico de Doentes Diabéticos Não-críticos Internados em Serviços Médicos. Revista Portuguesa de Diabetes. Lisboa, v. 11, n. 1, p. 3-9, 2016.

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