Os cuidados ginecológicos como quebra de tabu quanto à sexualidade das adolescentes


Mesmo com os avanços dos meios de comunicação, que facilitam o acesso ao conhecimento em geral, alguns tabus ainda têm participação na vida das mulheres, um deles é o início do acompanhamento com o médico ginecologista. Segundo Febrasgo (2018), a primeira consulta ginecológica das mulheres costuma ser para esclarecer um problema ginecológico ou pela suspeita de uma gravidez. Nesse ponto vê-se o ginecologista como um profissional qualificado para realizar o acolhimento das adolescentes, que começam a sentir alterações em seus corpos.



        A presença de pacientes adolescentes tem sido uma situação cada vez mais frequente para os ginecologistas. Os principais motivos de consultas são a avaliação do desenvolvimento da puberdade, distúrbios do ciclo menstrual, corrimento e o desejo de contracepção. A consulta ginecológica da adolescente apresenta diversos pontos em comum com a da mulher adulta, mas os aspectos relacionados à sexualidade constituem um ponto que deve ser manejado com cuidado, pois, na maioria das vezes, a adolescente está acompanhada e nem sempre compartilha sua prática sexual com seus familiares (REHME, CABRAL; 2018).

A construção da sexualidade da adolescente irá balizar o seu comportamento sexual e é determinada por estímulos que ela recebe desde o nascimento, vindos dos pais, da família e da sociedade. Em geral, esses estímulos são predeterminados pelas normas sociais que visam reafirmar o sexo biológico da criança (BARMAN-ADHIKARI, 2014).

Além do papel do Ginecologista e Obstetra (GO) também há a atuação do profissional enfermeiro na atenção primaria que desenvolve ações de exames ginecológicos, de prevenção para o câncer de colo de útero, acompanhamento e planejamento familiar. É crucial na prevenção da gravidez indesejada/não planejada, Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s), depressão, arrependimentos, entre outros, relacionados com a iniciação sexual precoce e as práticas sexuais de risco da adolescente. O Ministério da Saúde (2007) reserva ao médico o direito de atender a adolescente sem a presença dos pais ou responsáveis, se ela assim o desejar, o que torna mais fácil a conversa sobre as questões sexuais. Para isso, é necessário que o GO siga um roteiro de abordagem baseado em evidências e poderá contar com a presença de uma assistente, a fim de se precaver de problemas judiciais. Vale lembrar que o exame ginecológico, quando necessário, precisa ser com o consentimento da menina e com a presença de uma assistente ou da mãe.

Obter a confiança da adolescente é um dos maiores desafios para o profissional que atende uma paciente adolescente, tanto pelos aspectos biopsicossociais como também pelas questões éticas e legais que estão envolvidas na consulta. A empatia mútua poderá beneficiar a adolescente, garantindo um momento propício para a abordagem dos cuidados relacionados aos aspectos da sua saúde sexual e reprodutiva (REHME, CABRAL; 2018).

É fundamental que os profissionais de saúde que trabalham com adolescentes tenham amparo legal para seguir no exercício da profissão. É preciso chegar a um consenso para que a lei seja seguida sem quebrar a relação médico-paciente. É importante e necessário pensar na proteção integral aos adolescentes, e isso implica o reconhecimento de que crianças e adolescentes estão em condição peculiar de desenvolvimento, o que não as reduz à condição de objeto de intervenção (REHME, 2018).

Referências
BARMAN-ADHIKARI, A. et al. Direct and indirect effects of maternal and peer influences on sexual intention among urban African American and Hispanic females. Child and Adolescent Social Work Journal, v. 31, n. 6, p. 559-575, 2014.

BRASIL, Ministério da Saúde. Saúde integral de adolescentes e jovens: orientações para a organização de serviços de saúde. Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2007. (Série A: Normas e Manuais Técnicos).

FEBRASGO. Expectativa da mulher brasileira sobre sua vida sexual e reprodutiva: as relações dos ginecologistas e obstetras com suas pacientes. 2018.

MORÓN-DUARTE, L. S.; LATORRE, C.; TOVAR, J. R. Risk factors for adolescent pregnancy in Bogotá, Colombia, 2010: a case-control study. Revista Panamericana de Salud Pública, v. 36, p. 179-184, 2014.

REHME, M. F. B.; CABRAL, Z. Atendendo a adolescente no consultório de ginecologia. In: Necessidades específicas para o atendimento de pacientes adolescentes. São Paulo: Federação das Associações Brasileiras de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO); Cap. 2, p. 9-16. 2018. (Série Orientações e Recomendações FEBRASGO, no. 5/ Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Infanto Puerperal).

REHME, M. F. B. Recomendações para o atendimento de adolescentes menores de 14 anos. Universidade Federal do Paraná. Curitiba. 2018.

Texto elaborado pelo acadêmico de Medicina Antônio Wellington Grangeiro Batista de Freitas sob orientação da Professora Mestra Maria Berenice Gomes Nascimento

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