Filmes & Séries: Entretenimento ou gatilho para o suicídio entre os adolescentes em vulnerabilidade emocional?


            O jovem, na contemporaneidade, tem uma diversidade de acesso aos meios de comunicação e isso favorece ao acúmulo de diversas informações. Segundo Pereira & Botti (2017), a Internet é um meio de comunicação cada vez mais presente no cotidiano dessa população e no Brasil seu uso se destaca na busca de informações (76%) e diversão e entretenimento (67%), propiciando a criação de espaços virtual e social que oferecem novas perspectivas na vivência de conhecimentos bons e ruins.


(FONTE: https://i0.wp.com/jornalibia.com.br/wp-content/uploads/2017/04/Ilustra-depre.jpg?resize=696%2C504&ssl=1)


            Neste contexto, toda informação ou formas de diversão (jogos, filmes, série, dentre outros) se transforma num meio transformação do ser, influenciando pensamentos, atitudes e ações. Assim,produções cinematográficas, nas suas mais diversas facetas, são utilizadas como meio de retratar questões sociais e humanas, e os veículos de comunicação, tais como: TV a cabo,netflix, cinema, teatro, entre outros, facilita e amplia o acesso a estas produções. Dentre as questões abordadas se encontra o suicídio, caracterizado porKuczynski (2014) como um fenômeno multifacetado, cuja estrutura ultrapassa os limites de um único campo do conhecimento, pois implica na combinação de fatores que vão do social às disposições organopsíquicas, que culminam em processos cognitivos de imitação, que no grupo de adolescentes tem apresentado importante prevalência.

            Filmes e séries que abordam a temática de suicídio vem tomando destaque, apresentando forma de suicídio, exposição do sofrimento da vítima, casos de depressão, dentre outros agravantes, sem levar em conta a influência que estas informações causarão em pessoas que se encontram em vulnerabilidade, por isso se faz necessário uma maior atenção e cuidado com os jovens que assistem a tais produções, pois como  destaca  Bteshe (2018), é importante pensar em formas de cuidado mais efetivas, sendo necessário levar em conta a subjetividade do indivíduo em sofrimento mental ao interpretar a mensagem que recebe,  bem como a construção social criada em torno dele, para que seu quadro não se agrave e o que antes era diversão, não seja um incentivo a concretizar o pensamento suicida.

            Como forma de exemplificar essas produções, pode-se citar o filme “Cartas para Bob” e a série “13 reasonswhy” que abordam realidades vivenciadas por muitos adolescentes, que se apresentam como exclusão, bulling, preconceito, homofobia, violência sexual, problemas familiares, falta de escuta dentre outros. Tanto o filme como a série retratam a dificuldade do jovem para lidar com o bombardeio emocional que estão vivenciando, principalmente quando não recebem o devido apoio, e estas produções tem o propósito de ajudar a quebrar o tabu existente sobre o suicídio, incentivando o jovem a buscar ajuda.

            Porém existe uma outra vertente onde as produções cinematográficas podem funcionar como um gatilho para o suicídio, pois um jovem, em estado de vulnerabilidade, ao ver na tela um personagem que se encontra na mesma situação que a sua ou em situação parecida, ­­­podeocorrer o “efeito Werther”, onde o jovem pode cometer o suicídio como forma de imita-lo, como apresentado pela OMS no manual para profissionais da mídia (WHO, 2000).

            Na série ‘’13 reasonswhy’’ é apresentado todo o processo realizado por Hannah de maneira clara e explicita, e a OMS, ainda no manual, ressalta que descrições detalhadas sobre o suicídio devem ser evitadas, pois reforça o “efeito Werther”. Reforçando este pensamento, o Ministério da Saúde (2018), apresenta como um indício desse efeito, dois milhões de ligações para o Centro de Valorização da Vida de pessoas em busca de ajuda em 2017, ano de lançamento da série, que representa o dobro de 2016.

            Importante destacar que as produções cinematográficas não devem deixar de existir, uma vez que abordar temas tabus é importante, porém seus produtores devem ter a sensibilidade de não serem tão explícitos nos detalhes, e que deveriam reforçar a existência dos serviços de apoio que os jovens podem recorrer, tais como: Centro de Valorização da Vida, Rede de apoio psicossocial, apoio familiar, dentre outros.
                                                                      
Referências: 

BTESHE, M. O suicídio na mídia: reflexões para o cuidado em saúde mental. Reciis – RevEletronComunInfInov Saúde. 2018 jul.-set.;12(3):252-7. Acesso em: 31 de agosto de2019. Disponível em:https://www.reciis.icict.fiocruz.br/index.php/reciis/article/view/1597
 KUCZYNSKI, E. Suicídio na infância e adolescência. Psicol. USP vol.25 n.3 São Paulo. set./dez. 2014. Acesso em 31 de agosto de 2019. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642014000300246&lng=pt&tlng=pt
MINISTÉRIO DA SAÚDE - BRASIL. Novos dados reforçam a importância da prevenção do suicídio. Agência de Saúde: Distrito Federal, 2018. Acesso em 31 de agosto de 2019.  Disponível em:

PEREIRA, C, BOTTI, N. O suicídio na comunicação das redes sociais virtuais: Revisão integrativa da literatura. Revista Portuguesa de Enfermagem de SaúdeMental no.17 Porto jun. 2017. Acesso em 31 de agosto de 2019. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1647-21602017000100003

http://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/44404-novos-dados-reforcam-a-importancia-da-prevencao-do-suicidio

WHO - Organização Mundial da Saúde. Prevenção do suicídio: um manual para profissionais da mídia. Departamento de saúde mental transtornos mentais e comportamentais: Genebra, 2000.Acesso em 30 de agosto de 2019. Disponível em: https://www.who.int/mental_health/prevention/suicide/en/suicideprev_media_port.pdf

Texto elaborado pela acadêmica do curso de Graduação em Enfermagem Rosielly Cruz de Oliveira Dantas, sob orientação da professora Drª. Silvia Carla Conceição Massagli.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Contate-nos

A inserção de atividades sobre habilidades sócio emocionais nas escolas em tempo integral

O impacto do racismo estrutural na resposta ao HIV/AIDS