Desafios e Alternativas no tratamento de crianças e adolescentes portadores da Diabetes Mellitus tipo 1


            O Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) configura-se como uma enfermidade endócrina autoimune e poligênica, provocada pela morte seletiva das células β das ilhotas pancreáticas, acarretando na deficiência da secreção da insulina, principal hormônio regulador da glicemia. No Brasil, mais de 30 mil brasileiros são portadores da DM1, o que faz o país ocupar o terceiro lugar em prevalência desse subtipo de diabetes no mundo, de acordo com Federação Internacional de Diabetes. Apesar da elevação do número de casos a cada ano, a DM1 representa somente 5 a 10% de todos dos casos de DM. Esse distúrbio é mais frequentemente diagnosticado em crianças e adolescentes, entre 10 a 14 anos, afetando igualmente ambos os sexos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2017).


(FONTE: https://drauziovarella.uol.com.br/wp-content/uploads/2014/11/diabetes-crianca-e1550684387235.jpg)


            Existem diversos agentes etiológicos descritos como desencadeante do surgimento de uma resposta imune adaptativa específica contra os antígenos das células β pancreáticas. Entre eles, destacam-se vírus da rubéola, citomegalovírus, alguns retrovírus, a deficiência de vitamina D, exposição a produtos tóxicos (pesticidas e nitratos) e alguns produtos alimentícios (consumo precoce ou tardio de leite de vaca, por exemplo). Apesar das causas do DM1 ser amplamente investigada, os mecanismos envolvidos na progressão e destruição das células β pancreáticas ainda não são totalmente conhecidos. Sabe-se que essa resposta autoimune é caracterizada pela infiltração de linfócitos T citotóxicos autorreativos, autoanticorpos ou de outras células do sistema imune inato (neutrófilos, células dendríticas, macrófagos, etc.) nas ilhotas do pâncreas, promovendo a apoptose das células β que constituem as ilhotas pancreáticas (SOUSA; ALBERNAZ; SOBRINHO, 2016).

            O tratamento da Diabetes Mellitus tipo 1 visa prevenir principalmente as descompensações agudas do tipo cetoacidose diabética, possibilitando ao paciente uma qualidade de vida. Os componentes principais constituintes desse tratamento são: educação em diabetes, insulinoterapia, automonitorização glicêmica, planejamento nutricional e prática de atividade física (BRASIL, 2014).

            No entanto, em pacientes pediátricos portadores da DM1 o tratamento e as limitações decorrentes da doença representa um desafio para a família e para os profissionais de saúde. Isso porque a terapia insulínica e a necessidade constante do monitoramento glicêmico representam momentos desfavoráveis, resultando em angústia, estresse, medo, sofrimento e dor. Essas condições enfrentadas por crianças e adolescentes diabéticos ameaçam a aceitação e a adaptação aos cuidados diários (SALES et al., 2009).

            O surgimento e o convívio dessa enfermidade podem também ser um fator de conflito para o grupo familiar e os demais indivíduos do círculo social da criança e adolescente portadora, em razão da incompreensão e do desconhecimento em lidar com a patologia. A indiferença, a rejeição, a vergonha e o preconceito social ainda tornam-se pior na adolescência, uma vez que nessa fase de consolidação de sua personalidade, os jovens buscam a aceitação e a inserção em um grupo social (LEAL et al., 2009).

             Pennafort et al., (2018) destaca que os desafios enfrentados ainda perpassam a prática inadequada de armazenamento, conservação e utilização adequado das seringas e agulhas de insulina. Esses problemas vão desde o uso de lancetas e agulhas de tamanhos inadequados, reutilização desses instrumentos, aplicação de doses errôneas e a falta de higienização das mãos. Observa-se também que os rodízios das punções de monitoramento glicêmico e da aplicação da insulina de forma inapropriada são recorrentes, gerando hematomas, lipodistrofias, sangramentos, lesões nas polpas digitais e outras marcas corporais. Logo, a manipulação inadequada desses materiais e expõe crianças e adolescentes a inúmeras situações de risco, desde cicatrizes a quadros hipoglicêmicos agudos, atrapalhando a eficácia da terapia.

            As estratégias para o controle glicêmico devem integrar a equipe multiprofissional e envolver o portador e sua família na efetivação da terapêutica.  Além disso, é fundamental que os esforços para garantir o cumprimento apropriado dos procedimentos devem ser instruídos pelos profissionais de saúde através da educação em diabetes. Uma equipe composta por enfermeiro, educador físico, psicólogo, nutricionista e endócrino devem assegurar, por exemplo, todas as informações e suporte necessário sobre as tecnologias terapêuticas e assistir paciente e cuidadores nas dimensões física, psíquica e espiritual que envolve o enfrentamento e a vivência da DM1 (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2017).

            Outra possibilidade, por exemplo, seria realizar uma abordagem educativa para as crianças utilizando estímulos lúdicos, como jogos e brinquedos, favorecendo uma expressiva aproximação com a criança e estimulando a livre expressão, a autonomia, a criatividade e a autoestima no convívio com essa doença. Esses recursos são importantes também como suportes na superação das dificuldades e questionamentos, uma vez que o emprego dessas ferramentas auxilia em simulações e instruções acerca dos cuidados do controle e do monitoramento da glicemia, colaborando para o empoderamento e aprendizado adequado das técnicas de aplicação de insulina e de verificação da glicemia (PENNAFORT et al., 2018).

Referências:

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica Diabetes Mellitus. Caderno de Atenção Básica nº 36. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

LEAL, Dalila Teixeira et al. Diabetes na infância e adolescência: o enfrentamento da doença no cotidiano da família.HU Revista, v. 35, n. 4, 2009.

PENNAFORT, Viviane Peixoto dos Santos et al. Brinquedo terapêutico instrucional no cuidado cultural da criança com diabetes tipo 1. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 71, 2018.

SALES, Catarina Aparecida et al. O cuidar de uma criança com diabetes mellitus tipo 1: concepções dos cuidadores informais. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 11, n. 3, 2009.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes 2017-2018. São Paulo: Editora Clannad, 2017.

SOUSA, Aucirlei Almeida; ALBERNAZ, Alessandro Caetano; SOBRINHO, Hermínio Mauricio Rocha. Diabetes Melito tipo 1 autoimune: aspectos imunológicos. Universitas: Ciências da Saúde, v. 14, n. 1, p. 53-65, 2016.

Texto elaborado pelo acadêmico do curso de Farmácia da Faculdade Santa Maria José Isaac Alves de Andrade e pela professora Dra. Rafaelle Cavalcante de Lira 

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