Estratégias de prevenção e controle do câncer do colo uterino

Denomina-se câncer do colo do útero a proliferação desordenada de células do epitélio cervical resultando no aparecimento de lesões diagnósticas. Trata-se de um câncer de incidência e mortalidade elevadas em mulheres e, por isso, um problema de saúde pública, com provisão de estratégias desenvolvidas pelas diretrizes nacionais para prevenção e controle por meio do rastreamento. O câncer do colo do útero ainda apresenta uma peculiaridade positiva: é a neoplasia maligna com maior capacidade preventiva e de cura, quando detectada precocemente (PAULA et al., 2019).




A infecção persistente pelo vírus HPV (Papilomavírus Humano), adquirida sexualmente, é o fator indispensável na etiologia do câncer do colo do útero, sobretudo os subtipos 16 e 18, responsáveis por induzir a atividade neoplásica em 70% dos casos (TERTULIANO, LOURO e ANSCHAU, 2018). Na perspectiva da prevenção primária, a imunização é uma prática indicada que reduz o risco de infecção pelo HPV, sem excluir a realização do exame preventivo em conjunto. A vacina contra o HPV, a qual combate alguns subtipos do vírus incluindo os dois principais envolvidos na neoplasia cervical, está disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde desde 2014, com uma última atualização em 2017 que preconiza a vacinação em meninas e meninos na faixa etária de 9 a 14 anos e 11 a 14 anos, respectivamente (TERTULIANO, LOURO e ANSCHAU, 2018).

O método preconizado pelas diretrizes de rastreamento é o exame citopatológico/preventivo/Papanicolau, cujo deve ser realizado em mulheres na faixa etária entre 25 e 64 anos (população-alvo) que já tiveram/têm relação sexual, com uma periodicidade de uma vez ao ano, nos dois primeiros exames, e intervalo de três anos se negativos os resultados anteriores (INCA, 2016). Após uma evolução nas considerações diagnósticas a partir do resultado citopatológico, o Sistema de Bethesda é o mais atual e aceito quando se refere ao esfregaço cervical (INCA, 2012).

       Fonte: INCA, 2016.

Embora desconsiderando os aspectos histológicos que atualmente são analisados por outros sistemas de maneira mais específica, a classificação de Papanicolau permite categorizar o laudo segundo os achados citológicos sugerindo as seguintes classificações: classe I indica normalidade; Classe II atipia celular com ausência de malignidade; Classe III citologia sugestiva, porém inconclusiva sobre malignidade; Classe IV citologia de malignidade acentuada; Classe V citologia conclusiva de malignidade (INCA, 2012). A conduta adequada diante dos diferentes diagnósticos é fundamental no manejo dos resultados alterados pós-laudo, seja na perspectiva de prevenir ou combater o câncer já instalado.
     
      Fonte: INCA, 2016.

Há um conjunto de medidas que deve ser acatado nos serviços de saúde para assegurar a efetividade na prevenção e controle do câncer do colo do útero. A começar pela facilidade no acesso, estímulo à adesão ao exame, fornecimento de informações sobre periodicidade, encaminhamento e tratamento, técnica correta de coleta do material cervical, e conduta profissional apropriada frente ao resultado. A baixa adesão ao exame é uma problemática verificável oriunda do desconhecimento, o qual está associado ao perfil sociodemográfico, acerca do exame e sua relevância, podendo ser combatida por meio de práticas educativas e motivadoras (PAULA et al., 2019).

Outras limitações também são apontadas no controle do câncer do colo uterino que dificultam a sua erradicação, desde a prevenção, o diagnóstico e o tratamento. Alguns desafios que dificultam a adesão e acompanhamento são: desinformação sobre a periodicidade, dificuldade no agendamento de exames e consultas, falta de sigilo profissional, fragilidade no acolhimento, vínculo e resolutividade, falta de preparo técnico dos profissionais de saúde, erro no diagnóstico por médicos e/ou laboratórios, atrasos nos atendimentos, entre outros, ademais motivos individuais e culturais, como receio, vergonha e medo, falta de tempo, e crença errônea sobre a dispensabilidade do exame para mulheres acima de 60 anos ainda constituem barreiras de enfrentamento para a prevenção e controle do câncer de colo uterino (LOPES e RIBEIRO, 2019).

REFERÊNCIAS

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero. 2. ed. Rio de Janeiro: INCA, 2016.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Nomenclatura brasileira para laudos citopatológicos cervicais. 3. ed. Rio de Janeiro: INCA, 2012.

LOPES, Viviane Aparecida Siqueira; RIBEIRO, José Mendes. Fatores limitadores e facilitadores para o controle do câncer de colo de útero: uma revisão de literatura. Ciênc. saúde coletiva,  Rio de Janeiro ,  v. 24, n. 9, p. 3431-3442,  Sept.  2019 . 

PAULA, Tamires Corrêa de et al. Detecção precoce e prevenção do câncer de colo uterino: saberes e práticas educativas. Enferm. Foco (Brasília); 10 (2): 47-51, abr. 2019.

TERTULIANO, Bruna; LOURO, Nathália Kasper e; ANSCHAU, Fernando. Vacina contra HPV: a cura do câncer uterino? Acta Méd. (Porto Alegre); 39(2): 477-484,2018.

Texto elaborado pela Acadêmica de Enfermagem Irlla Jorrana Bezerra Cavalcante e pela Professora Mestra Maria Berenice Gomes Nascimento



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